Coronavírus: vacina de Oxford desencadeia resposta imune contra a COVID-19
Uma vacina1 contra o coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford parece segura e desencadeia uma resposta imune. Ensaios envolvendo 1.077 pessoas mostraram que a injeção2 os levou a produzir anticorpos3 e células4 T que podem combater o SARS-CoV-2.
A vacina1 – chamada ChAdOx1 nCoV-19 – é produzida a partir de um vírus5 geneticamente modificado que causa o resfriado comum nos chimpanzés. Ele foi fortemente modificado, primeiro para não causar infecções6 nas pessoas e também para "parecer" mais com o coronavírus. Os cientistas fizeram isso transferindo as instruções genéticas da "proteína spike" do coronavírus – a ferramenta crucial que ele usa para invadir nossas células4 – para a vacina1 que estavam desenvolvendo. Isso significa que a vacina1 se assemelha ao coronavírus e o sistema imunológico7 pode aprender a atacá-lo.
As descobertas são extremamente promissoras, mas ainda é cedo para saber se isso é suficiente para oferecer proteção, e maiores ensaios estão em andamento.
No estudo publicado no periódico The Lancet, buscando uma vacina1 que possa reduzir a pandemia8 de coronavírus 2 da síndrome9 respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), pesquisadores avaliaram a segurança, reatogenicidade e imunogenicidade de uma vacina1 de coronavírus com vetor viral que expressa a proteína spike do SARS-CoV-2.
Leia sobre "Vacina1 de mRNA contra SARS-CoV-2" e "Segurança e imunogenicidade de candidata a vacina1 de RNA de COVID-19".
Foi realizado um estudo controlado randomizado10 de fase 1/2, cego, em cinco locais de teste no Reino Unido de uma vacina1 (ChAdOx1 nCoV-19) vetorizada por adenovírus de chimpanzé expressando a proteína spike do SARS-CoV-2 em comparação com uma vacina1 conjugada meningocócica (MenACWY) como controle.
Adultos saudáveis com idades entre 18 e 55 anos sem histórico de infecção11 por SARS-CoV-2 confirmada laboratorialmente ou sintomas12 parecidos ao da COVID-19 foram aleatoriamente designados (1:1) para receber ChAdOx1 nCoV-19 na dose de 5 × 1010 partículas virais ou MenACWY como uma injeção intramuscular13 única. Uma alteração do protocolo em dois dos cinco locais permitiu a administração de paracetamol profilático antes da vacinação.
Dez participantes designados para um grupo não randomizado10 e não cego de reforço primário da ChAdOx1 nCoV-19 receberam um esquema de duas doses, com a vacina1 de reforço administrada 28 dias após a primeira dose.
As respostas humorais na linha de base e após a vacinação foram avaliadas usando teste ELISA de IgG total padronizado contra a proteína spike trimétrica do SARS-CoV-2, um imunoensaio multiplexado, três ensaios de neutralização de SARS-CoV-2 vivo (um ensaio de neutralização de redução de placa14 de 50% [PRNT50]); um ensaio de microneutralização [MNA50, MNA80 e MNA90]; e Marburg VN) e um ensaio de neutralização de pseudovírus.
As respostas celulares foram avaliadas utilizando um ensaio ex-vivo de immunospot ligado à enzima15 interferon-y. Os resultados co-primários são avaliar a eficácia, medida pelos casos de COVID-19 sintomático16 confirmado virologicamente, e a segurança, medida pela ocorrência de eventos adversos graves.
As análises foram feitas por alocação de grupo nos participantes que receberam a vacina1. A segurança foi avaliada 28 dias após a vacinação. Aqui relata-se as descobertas preliminares sobre segurança, reatogenicidade e respostas imunes celulares e humorais.
Entre 23 de abril e 21 de maio de 2020, 1.077 participantes foram inscritos e designados para receber ChAdOx1 nCoV-19 (n = 543) ou MenACWY (n = 534), dez dos quais foram inscritos no grupo não randomizado10 de reforço primário da ChAdOx1 nCoV-19.
As reações locais e sistêmicas foram mais comuns no grupo ChAdOx1 nCoV-19 e muitas foram reduzidas pelo uso de paracetamol profilático, incluindo dor, sensação de febre17, calafrios18, dor muscular, dor de cabeça19 e mal-estar (todos p <0,05). Não houve eventos adversos graves relacionados à ChAdOx1 nCoV-19.
No grupo ChAdOx1 nCoV-19, as respostas de células4 T específicas à proteína spike atingiram o pico no dia 14 (856 células4 formadoras de manchas por milhão de células4 mononucleares do sangue20 periférico, IQR 493-1802; n = 43).
As respostas anti-spike de IgG aumentaram no dia 28 (mediana de 157 unidades ELISA [UE], 96-317; n = 127) e foram aumentadas após uma segunda dose (639 UE, 360-792; n = 10).
As respostas de anticorpos3 neutralizantes contra SARS-CoV-2 foram detectadas em 32 (91%) dos 35 participantes após uma dose única quando medida no MNA80 e em 35 (100%) participantes quando medida no PRNT50. Após uma dose de reforço, todos os participantes tiveram atividade neutralizante (nove de nove no MNA80 no dia 42 e dez de dez no Marburg VN no dia 56). As respostas de anticorpos3 neutralizantes correlacionaram-se fortemente com os níveis de anticorpos3 medidos por ELISA (R2 = 0,67 por Marburg VN; p <0,001).
A ChAdOx1 nCoV-19 mostrou um perfil de segurança aceitável, e o impulsionamento homólogo aumentou as respostas de anticorpos3. Esses resultados, juntamente com a indução de respostas imunes humorais e celulares, apoiam a avaliação em larga escala dessa candidata a vacina1 em um programa de fase 3 em andamento.
Mais de 10.000 pessoas participarão da próxima etapa dos testes no Reino Unido. No entanto, o estudo também foi expandido para outros países porque os níveis de coronavírus são baixos no Reino Unido, dificultando o conhecimento da eficácia da vacina1. Haverá um grande estudo envolvendo 30.000 pessoas nos EUA, 2.000 na África do Sul e 5.000 no Brasil.
Também existem pedidos para realizar "testes de desafio" nos quais pessoas vacinadas são deliberadamente infectadas com coronavírus. No entanto, existem preocupações éticas devido à falta de tratamentos.
Saiba mais sobre "Vacina1 contra a COVID-19 - o que se sabe" e "Como o coronavírus entra no tecido21 respiratório e explora as defesas".
Fontes:
The Lancet, publicação em 20 de julho de 2020.
BBC News UK, notícia publicada em 20 de julho de 2020.