Cetoacidose em crianças e adolescentes com diabetes tipo 1 recentemente diagnosticada durante a pandemia de COVID-19
Durante a pandemia1 da doença do coronavírus 2019 (COVID-19), foi relatada uma taxa significativamente menor de uso de serviços de saúde2, levando potencialmente a atrasos no atendimento médico. A cetoacidose diabética3 é uma complicação aguda e com risco de vida de um diagnóstico4 tardio de diabetes tipo 15.
Neste estudo publicado no periódico JAMA, investigou-se a frequência de cetoacidose diabética3 em crianças e adolescentes com diagnóstico4 de diabetes tipo 15 durante os primeiros 2 meses da pandemia1 de COVID-19 na Alemanha.
Este estudo utilizou dados do Registro Alemão de Acompanhamento Prospectivo6 de Diabetes7 (DPV) de crianças e adolescentes com diagnóstico4 de diabetes7 tipo 1 entre 13 de março de 2020, quando a maioria dos jardins de infância e escolas foram fechados para reduzir os contatos interpessoais, até 13 de maio de 2020. O registro DPV tem uma cobertura nacional de mais de 90% dos pacientes pediátricos com diabetes tipo 15. Desde 2018, 217 centros de diabetes7 (hospitais e consultórios médicos) transferiram informações de pacientes pediátricos com diabetes tipo 15 recém-diagnosticado.
Saiba mais sobre "Aumento dos casos de diabetes tipo 15", "Cetoacidose diabética3" e "Diabetes7 na adolescência".
A cetoacidose diabética3 foi definida como nível de pH menor que 7,3 e/ou nível de bicarbonato menor que 15 mmol/L8, e cetoacidose diabética3 grave como nível de pH menor que 7,1 e/ou nível de bicarbonato menor que 5 mmol/L8. As frequências de cetoacidose diabética3 e cetoacidose diabética3 grave observadas durante o período de COVID-19 foram comparadas com os mesmos períodos de 2018 e 2019, utilizando regressão logística multivariável, ajustando idade, sexo e antecedentes de imigração (definido como paciente ou pelo menos um dos pais nascidos fora Alemanha).
As diferenças foram apresentadas como riscos relativos ajustados (aRRs) com ICs de 95%. Um P de 2 lados <0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Todas as análises foram realizadas com o SAS versão 9.4 (SAS Institute Inc). O consentimento informado para participação no registro DPV foi obtido dos pacientes ou de seus pais por procedimento verbal ou escrito, conforme aprovado pelos responsáveis pela proteção de dados em cada centro. A análise dos dados anônimos foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade de Ulm.
Foram obtidos e analisados dados de 532 crianças e adolescentes com diabetes7 tipo 1 recém-diagnosticado de 13 de março a 13 de maio de 2020, de 216 de 217 centros de diabetes7. A mediana da idade da coorte9 foi de 9,9 anos (intervalo interquartil 5,8-12,9 anos; 61,5% do sexo masculino).
A cetoacidose diabética3 esteve presente em 238 pacientes (44,7%) e cetoacidose grave em 103 pacientes (19,4%).
Durante o período de COVID-19 em 2020, a frequência de cetoacidose diabética3 foi significativamente maior em comparação com os dois anos anteriores (44,7% em 2020 vs 24,5% em 2019; aRR, 1,84 [IC 95%, 1,54-2,21]; P <0,001; vs 24,1% em 2018; aRR, 1,85 [IC 95%, 1,54-2,24]; P <0,001).
A incidência10 de cetoacidose diabética3 grave também foi significativamente maior em comparação com os anos anteriores (19,4% em 2020 vs 13,9% em 2019; aRR, 1,37 [95% CI, 1,04-1,81]; P = 0,03; vs 12,3% em 2018; aRR, 1,55 [IC 95%, 1,15-2,10]; P = 0,004).
Crianças menores de 6 anos tiveram o maior risco de cetoacidose diabética3 (51,9% em 2020 vs 18,4% em 2019; aRR, 2,75 [IC 95%, 1,88-4,02]; P <0,001; vs 24,2% em 2018; aRR, 2,12 [IC 95%, 1,48-3,02]; P <0,001) e cetoacidose diabética3 grave (24,4% em 2020 vs 12,2% em 2019; aRR, 1,90 [IC 95%, 1,12-3,23]; P = 0,02; vs 11,7 % em 2018; aRR, 2,06 [IC 95%, 1,16-3,65]; P = 0,01) durante a pandemia1 de COVID-19.
Este estudo encontrou um aumento significativo na cetoacidose diabética3 e cetoacidose grave em crianças e adolescentes com diagnóstico4 recente de diabetes7 durante a pandemia1 de COVID-19 na Alemanha. As causas subjacentes podem ser multifatoriais e refletir serviços médicos reduzidos, medo de buscar atendimento no sistema de saúde2 e fatores psicossociais mais complexos.
As limitações deste estudo incluem que o status socioeconômico individual e a história familiar de diabetes7 não estavam disponíveis.
São necessárias mais pesquisas sobre as possíveis causas do aumento da cetoacidose diabética3 durante a pandemia1 de COVID-19 e intervenções para reduzir a cetoacidose diabética3, como educação do público e de médicos ou triagem de anticorpos11 das células12 β.
Leia sobre "Características de pacientes com COVID-19 e diabetes7" e "Prevenção do diabetes7 e suas complicações".
Fonte: JAMA, publicação em 20 de julho de 2020.