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Presença de células T reativas ao SARS-CoV-2 em pacientes com COVID-19 e doadores saudáveis

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O coronavírus 2 da síndrome1 respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) causou uma pandemia2 de rápido desenvolvimento, sobrecarregando sistemas de saúde3 em todo o mundo. As manifestações clínicas da doença do coronavírus 2019 (COVID-19) variam amplamente, indo desde infecção4 assintomática até insuficiência respiratória aguda5 e morte, mas ainda são desconhecidas as condições e mecanismos fisiológicos subjacentes a essa alta variabilidade. Além disso, o papel das respostas imunes do hospedeiro na depuração viral e seu envolvimento na patogênese6 permanece por resolver.

Para o SARS-CoV (2002/03), no entanto, as respostas das células7 T CD4+ estão geralmente associadas a resultados positivos, enquanto as respostas imunes celulares ao SARS-CoV-2 ainda não foram investigadas.

Em uma publicação feita no MedRxiv, descreveu-se um ensaio que permite a detecção e caracterização direta de células7 T CD4+ reativas à glicoproteína spike (S) do SARS-CoV-2 no sangue8 periférico.

Leia sobre "Como o novo coronavírus entra no tecido9 respiratório e pode explorar as defesas"" e "STI-1499 - um potente anticorpo10 anti-SARS-CoV-2".

Foi demonstrada a presença de células7 T CD4+ reativas à S em 83% dos pacientes com COVID-19, bem como em 34% dos doadores saudáveis ​​soronegativos para SARS-CoV-2, embora em frequências mais baixas. Surpreendentemente, em pacientes com COVID-19, as células7 T CD4+ reativas à S visam igualmente as partes N-terminal e C-terminal de S, enquanto que em doadores saudáveis ​​as células7 T CD4+ reativas reagem quase exclusivamente à parte Cterminal que é a) caracterizada por maior homologia para aumentar a glicoproteína dos coronavírus endêmicos humanos do resfriado comum e b) contém a subunidade S2 de S com o peptídeo citoplasmático (PC), o peptídeo de fusão (PF) e o domínio transmembranar (TM), mas não o domínio da ligação ao receptor (RBD).

As células7 T CD4+ reativas à S de pacientes com COVID-19 foram ainda mais distintas daquelas de doadores saudáveis, pois co-expressaram níveis mais altos de CD38 e HLA-DR, indicando sua recente ativação in vivo.

Esse estudo é o primeiro a medir diretamente as respostas das células7 T reativas ao SARS-CoV-2, fornecendo ferramentas críticas para testes em larga escala, mapeamento de epítopos detalhado e caracterização da imunidade11 celular potencialmente reativa ao SARS-CoV-2.

A presença de células7 T reativas pré-existentes ao SARS-CoV-2 em doadores saudáveis ​​é de grande interesse, mas são necessários estudos de coorte12 prospectivos em larga escala para avaliar se sua presença é um correlato de proteção ou patologia13.

Esses achados são compatíveis com os de outro estudo, publicado no periódico Cell, que investigou os alvos das respostas das células7 T ao coronavírus SARS-CoV-2 em humanos com COVID-19 e indivíduos não expostos.

Considerando a importância da compreensão da imunidade11 adaptativa ao SARS-CoV-2 para o desenvolvimento de uma vacina14, para a interpretação da patogênese6 da doença por coronavírus 2019 (COVID-19) e para a calibração das medidas de controle pandêmico, o estudo destacou os seguintes resultados:

  • Medir a imunidade11 ao SARS-CoV-2 é essencial para entender a COVID-19 e o desenvolvimento de vacinas
  • Os agrupamentos de epítopos detectam células7 T CD4+ e CD8+ em 100% e 70% dos pacientes com COVID convalescente
  • As respostas das células7 T estão focadas não apenas na proteína spike, mas também nas proteínas15 M, N e outras ORFs
  • A reatividade das células7 T aos epítopos do SARS-CoV-2 também é detectada em indivíduos não expostos

Usando “mega agrupamentos” de peptídeos previstos de HLA de classe I e II, células7 T CD8+ e CD4+ circulantes específicas para SARS-CoV-2 foram identificadas em ∼70% e 100% dos pacientes convalescentes de COVID-19, respectivamente.

As respostas das células7 T CD4+ à proteína spike, o principal alvo da maioria dos esforços de criação de uma vacina14, foram robustas e correlacionadas com a magnitude da concentração de IgG e IgA anti-SARS-CoV-2.

As proteínas15 M, spike e N foram responsáveis​​, cada uma, por 11% a 27% da resposta total da CD4+, com respostas adicionais geralmente direcionadas para nsp3, nsp4, ORF3a e ORF8, entre outras.

Para células7 T CD8+, proteínas15 spike e M foram reconhecidas, direcionadas a pelo menos oito ORFs de SARS-CoV-2.

É importante ressaltar que foram detectadas células7 T CD4+ reativas ao SARS-CoV-2 em 40% a 60% dos indivíduos não expostos, sugerindo o reconhecimento de células7 T reativas cruzadas entre coronavírus circulantes de resfriado comum e SARS-CoV-2.

Veja também sobre "Vacina14 para COVID-19 - o que se sabe" e "Vacina14 para COVID-19 vetorizada para adenovírus recombinante do tipo 5".

 

Fontes:
MedRxiv, publicação em 22 de abril de 2020
Cell, publicação em 14 de maio de 2020

 

NEWS.MED.BR, 2020. Presença de células T reativas ao SARS-CoV-2 em pacientes com COVID-19 e doadores saudáveis. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1368678/presenca-de-celulas-t-reativas-ao-sars-cov-2-em-pacientes-com-covid-19-e-doadores-saudaveis.htm>. Acesso em: 26 abr. 2024.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Pandemia: É uma epidemia de doença infecciosa que se espalha por um ou mais continentes ou por todo o mundo, causando inúmeras mortes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a pandemia pode se iniciar com o aparecimento de uma nova doença na população, quando o agente infecta os humanos, causando doença séria ou quando o agente dissemina facilmente e sustentavelmente entre humanos. Epidemia global.
3 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
4 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
5 Insuficiência respiratória aguda: Impossibilidade do sistema respiratório em atender a manutenção da oxigenação e/ou ventilação de um indivíduo, que se instala de modo abrupto e leva ao surgimento de manifestações clínicas intensas. O sangue venoso que retorna aos pulmões não é suficientemente oxigenado, assim como o dióxido de carbono não é adequadamente eliminado. Este quadro tem como expressão gasométrica: PaO2 50mmHg (com pH < 7.35 ).
6 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
7 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
8 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
9 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
10 Anticorpo: Proteína circulante liberada pelos linfócitos em reação à presença no organismo de uma substância estranha (antígeno).
11 Imunidade: Capacidade que um indivíduo tem de defender-se perante uma agressão bacteriana, viral ou perante qualquer tecido anormal (tumores, enxertos, etc.).
12 Estudos de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
13 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
14 Vacina: Tratamento à base de bactérias, vírus vivos atenuados ou seus produtos celulares, que têm o objetivo de produzir uma imunização ativa no organismo para uma determinada infecção.
15 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
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