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No Oregon (EUA), cientistas descobrem uma variante de coronavírus com uma mutação preocupante

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Cientistas em Oregon, Estados Unidos, identificaram uma versão local de uma variante de rápida disseminação do coronavírus que apareceu pela primeira vez na Grã-Bretanha – mas esta tem uma mutação1 que pode tornar a variante menos suscetível a vacinas, originalmente relatada na África do Sul.

Os pesquisadores encontraram até agora apenas um único caso dessa combinação, mas a análise genética sugeriu que a variante havia sido adquirida na comunidade e não surgiu no paciente.

“Não importamos isso de nenhum outro lugar do mundo – ocorreu espontaneamente”, disse Brian O’Roak, geneticista da Oregon Health and Science University, que liderou o trabalho. Ele e seus colegas participam do esforço do Centro de Controle e Prevenção de Doenças para rastrear variantes e depositaram seus resultados em bancos de dados compartilhados por cientistas.

A variante originalmente identificada na Grã-Bretanha, chamada B.1.1.7, tem se espalhado rapidamente pelos Estados Unidos e é responsável por pelo menos 2.500 casos em 46 estados. Essa forma do vírus2 é mais contagiosa3 e mortal do que a versão original, e deve ser responsável pela maioria das infecções4 na América em poucas semanas.

A nova versão que surgiu em Oregon, mais especificamente na cidade de Portland, tem a mesma espinha dorsal da B.1.1.7, e a mutação1 que carrega – E484K, ou “Eek” – é vista em variantes do vírus2 que circulam na África do Sul, Brasil e Nova York.

Estudos de laboratório e ensaios clínicos5 na África do Sul indicam que a mutação1 Eek torna as vacinas atuais menos eficazes ao embotar a resposta imunológica do corpo. (As vacinas ainda funcionam, mas as descobertas são preocupantes o suficiente para que a Pfizer-BioNTech e a Moderna começassem a testar novas versões de suas vacinas destinadas a derrotar a variante encontrada na África do Sul.)

Leia também: "Quão eficazes serão as vacinas contra COVID-19" e "Variante do SARS-CoV-2 pode ser 56% mais transmissível".

A variante B.1.1.7 com Eek também surgiu na Grã-Bretanha, designada como uma “variante de preocupação” pelos cientistas. Mas o vírus2 identificado no Oregon parece ter evoluído de forma independente, disse o Dr. O’Roak.

O Dr. O’Roak e seus colegas encontraram a variante B.1.1.7 com Eek entre as amostras de coronavírus coletadas pelo Laboratório de Saúde6 Pública do Estado de Oregon em todo o estado, incluindo algumas de um surto em um ambiente de saúde6. Dos 13 resultados de teste que analisaram, 10 acabaram sendo B.1.1.7 sozinha e um era a combinação.

Outros especialistas disseram que a descoberta não foi surpreendente, porque a mutação1 Eek surgiu em formas do vírus2 em todo o mundo. Mas a ocorrência da mutação1 na variante B.1.1.7 deve ser observada com atenção, eles disseram.

Na Grã-Bretanha, esta versão da variante é responsável por um pequeno número de casos. Mas quando a combinação evoluiu por lá, a B.1.1.7 já havia se espalhado pelo país.

“Estamos no ponto em que a B.1.1.7 está apenas sendo introduzida” nos Estados Unidos, disse Stacia Wyman, especialista em genômica computacional da Universidade da Califórnia, Berkeley. “À medida que evolui e se torna lentamente a coisa dominante, pode acumular mais mutações”.

As mutações virais podem aumentar ou enfraquecer umas às outras. Por exemplo, as variantes identificadas na África do Sul e no Brasil contêm muitas das mesmas mutações, incluindo Eek. Mas a versão brasileira tem uma mutação1, K417N, que não está presente na versão sul-africana.

Em um estudo publicado na quinta-feira na Nature, os pesquisadores compararam as respostas dos anticorpos7 a todas as três variantes preocupantes – as identificadas na Grã-Bretanha, África do Sul e Brasil. Consistente com outros estudos, eles descobriram que a variante que atingiu a África do Sul é mais resistente aos anticorpos7 produzidos pelo sistema imunológico8.

Mas a variante que circulava no Brasil não era tão resistente, embora carregasse a mutação1 Eek. “Se você tem a segunda mutação1, não vê um efeito tão ruim”, disse Michael Diamond, imunologista viral da Universidade de Washington em St. Louis, que liderou o estudo.

É muito cedo para dizer se a variante do Oregon se comportará como a da África do Sul ou do Brasil. Mas a ideia de que outras mutações podem enfraquecer o efeito de Eek é “uma excelente notícia”, disse Wyman.

Acima de tudo, disse ela, a descoberta de Oregon reforça a necessidade de as pessoas continuarem a tomar precauções, como usar uma máscara, até que uma parte substancial da população seja imunizada.

“As pessoas não precisam pirar, mas continuar vigilantes”, disse ela. “Não podemos baixar a guarda ainda enquanto houver essas variantes mais transmissíveis circulando.”

Veja sobre "Como a COVID-19 domina o sistema imunológico8" e "Uso de máscaras durante a pandemia9 de COVID-19".

 

Fonte: The New York Times, notícia publicada em 05 de março de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. No Oregon (EUA), cientistas descobrem uma variante de coronavírus com uma mutação preocupante. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/saude/1389525/no-oregon-eua-cientistas-descobrem-uma-variante-de-coronavirus-com-uma-mutacao-preocupante.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
2 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
3 Contagiosa: 1. Que é transmitida por contato ou contágio. 2. Que constitui veículo para o contágio. 3. Que se transmite pela intensidade, pela influência, etc.; contagiante.
4 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
5 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
6 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
7 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
8 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
9 Pandemia: É uma epidemia de doença infecciosa que se espalha por um ou mais continentes ou por todo o mundo, causando inúmeras mortes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a pandemia pode se iniciar com o aparecimento de uma nova doença na população, quando o agente infecta os humanos, causando doença séria ou quando o agente dissemina facilmente e sustentavelmente entre humanos. Epidemia global.
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