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O risco de coágulos sanguíneos cerebrais causados pela COVID-19 é dez vezes maior do que o risco pela vacinação contra a doença

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O risco de desenvolver trombose1 venosa cerebral (TVC) devido à COVID-19 foi “muitas vezes” maior do que devido a receber as vacinas AstraZeneca/Oxford ou as vacinas de mRNA da Pfizer e da Moderna, pesquisadores concluíram.

Um estudo da Universidade de Oxford, disponível como uma pré-impressão não revisada por pares, descobriu que de um conjunto de dados de mais de 500.000 pacientes com COVID-19, a TVC teria ocorrido em 42,8 por milhão de pessoas.

Em mais de 480.000 pessoas que receberam as vacinas de mRNA da Pfizer/BioNTech ou Moderna, a TVC ocorreu em 4 por milhão de pessoas. E a Agência Europeia de Medicamentos estimou que a TVC ocorre em cerca de 5 por milhão de pessoas após a primeira dose da vacina2 AstraZeneca/Oxford.

Os pesquisadores disseram que, em comparação com as vacinas de mRNA, o risco de TVC por COVID-19 era cerca de 10 vezes maior. Em comparação com a vacina2 de Oxford, o risco de TVC por COVID-19 foi cerca de 8 vezes maior.

A vacina2 contra COVID-19 da Johnson & Johnson, para a qual também houve relatos de casos raros de coágulos sanguíneos em pacientes que a receberam, é uma vacina2 de adenovírus semelhante à da AstraZeneca, mas não foi incluída nesta pesquisa.

Leia sobre "COVID-19 e coágulos sanguíneos", "Coagulopatias" e "Vacina2 da AstraZeneca contra COVID-19: benefícios superam os riscos".

Um padrão semelhante foi observado na trombose1 da veia porta3 (TVP), que ocorreu em 392,3 por milhão de pessoas que tiveram COVID-19. Isso comparado a 44,9 por milhão para o grupo da vacina2 de mRNA, e 1,6 por milhão para aqueles que receberam a vacina2 de Oxford.

O autor do estudo, Paul Harrison, professor de psiquiatria da Universidade de Oxford, disse em uma coletiva de imprensa que “todas as evidências que temos são de que os riscos da COVID-19 são muito maiores do que quaisquer que sejam os riscos da vacina2 comparados aos antecedentes”.

O objetivo do estudo, divulgado na plataforma Center for Open Science, foi estimar o risco absoluto de trombose1 venosa cerebral (TVC) e trombose1 da veia porta3 (TVP) nas duas semanas após o diagnóstico4 de COVID-19, e avaliar os riscos relativos (RR) em comparação com a gripe5 ou a administração de uma vacina2 de mRNA contra COVID-19.

O estudo de coorte6 retrospectivo7 baseado em uma rede de registros eletrônicos de saúde8 utilizou registros vinculados entre centros de atenção primária e secundária em 59 organizações de saúde8, principalmente nos EUA.

Todos os pacientes com diagnóstico4 confirmado de COVID-19 entre 20 de janeiro de 2020 e 25 de março de 2021 foram incluídos (N = 537.913, idade média [DP]: 46,2 [21,4] anos; 54,9% mulheres). Coortes (pareados por idade, sexo e raça) de participantes diagnosticados com gripe5 (N = 392.424) ou recebendo a vacina2 BNT162b2 ou mRNA-1273 (N = 366.869) foram usados ​​para comparação.

As principais medidas de desfecho foram um diagnóstico4 de TVC (código CID-10 I67.6) ou TVP (código CID-10 I81) dentro de 2 semanas após um diagnóstico4 de COVID-19.

A incidência9 de TVC após o diagnóstico4 de COVID-19 foi de 42,8 por milhão de pessoas (IC 95% 28,5-64,2), incluindo 35,3 por milhão (IC 95% 22,6-55,2) primeiros diagnósticos. Isso foi significativamente maior do que a incidência9 de TVC em uma coorte10 compatível de pacientes com influenza11 (RR = 3,83, IC 95% 1,56-9,41, P <0,001) e pessoas que receberam uma vacina2 de mRNA (RR = 6,67, IC 95% 1,98-22,43, P <0,001).

A incidência9 de TVP após o diagnóstico4 de COVID-19 foi de 392,3 por milhão de pessoas (IC 95% 342,8-448,9), incluindo 175,0 por milhão (IC 95% 143,0-214,1) primeiros diagnósticos. Isso foi significativamente maior do que a incidência9 de TVP em uma coorte10 pareada de pacientes com influenza11 (RR = 1,39, IC 95% 1,06-1,83, P = 0,02) e pessoas que receberam uma vacina2 de mRNA (RR = 7,40, IC 95% 4,87-11,24, P <0,001).

A mortalidade12 após TVC e TVP foi de 17,4% e 19,9%, respectivamente.

O estudo concluiu que a incidência9 de trombose1 venosa cerebral e trombose1 da veia porta3 aumentou significativamente após COVID-19. Os dados destacam o risco de eventos trombóticos13 graves na COVID-19 e podem ajudar a contextualizar os riscos e benefícios da vacinação a esse respeito.

Veja também sobre "Trombose1 da veia porta3", "Trombose1 venosa entre pacientes com COVID-19 grave" e "Como se dá a coagulação14 sanguínea".

 

Fontes:
Center for Open Science, pré-impressão versão 3 divulgada em 26 de abril de 2021.
Medscape, notícia publicada em 15 de abril de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. O risco de coágulos sanguíneos cerebrais causados pela COVID-19 é dez vezes maior do que o risco pela vacinação contra a doença. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/saude/1392760/o-risco-de-coagulos-sanguineos-cerebrais-causados-pela-covid-19-e-dez-vezes-maior-do-que-o-risco-pela-vacinacao-contra-a-doenca.htm>. Acesso em: 18 nov. 2024.

Complementos

1 Trombose: Formação de trombos no interior de um vaso sanguíneo. Pode ser venosa ou arterial e produz diferentes sintomas segundo os territórios afetados. A trombose de uma artéria coronariana pode produzir um infarto do miocárdio.
2 Vacina: Tratamento à base de bactérias, vírus vivos atenuados ou seus produtos celulares, que têm o objetivo de produzir uma imunização ativa no organismo para uma determinada infecção.
3 Veia porta: Veia curta e calibrosa formada pela união das veias mesentérica superior e esplênica.
4 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
5 Gripe: Doença viral adquirida através do contágio interpessoal que se caracteriza por faringite, febre, dores musculares generalizadas, náuseas, etc. Sua duração é de aproximadamente cinco a sete dias e tem uma maior incidência nos meses frios. Em geral desaparece naturalmente sem tratamento, apenas com medidas de controle geral (repouso relativo, ingestão de líquidos, etc.). Os antibióticos não funcionam na gripe e não devem ser utilizados de rotina.
6 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
7 Retrospectivo: Relativo a fatos passados, que se volta para o passado.
8 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
9 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
10 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
11 Influenza: Doença infecciosa, aguda, de origem viral que acomete o trato respiratório, ocorrendo em epidemias ou pandemias e frequentemente se complicando pela associação com outras infecções bacterianas.
12 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
13 Trombóticos: Relativo à trombose, ou seja, à formação ou desenvolvimento de um trombo (coágulo).
14 Coagulação: Ato ou efeito de coagular(-se), passando do estado líquido ao sólido.
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