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Estudo estima que nova variante do SARS-CoV-2, VOC 202012/01, seja 56% mais transmissível do que as variantes preexistentes

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Desde novembro de 2020, surgiu no Reino Unido uma nova cepa1 variante de SARS-CoV-2 (conhecida como VOC 202012/01) com um número incomumente grande de mutações, sendo responsável por 60% das infecções2 recentes em Londres. Desde então, essa variante foi detectada em vários países ao redor do mundo, incluindo os Estados Unidos e o Canadá. Com base nessas mutações, esta cepa1 variante foi prevista para ser potencialmente mais rapidamente transmissível do que outras cepas3 circulantes de SARS-CoV-2.

Embora uma variante possa predominar em uma área geográfica, esse fato por si só não significa que a variante seja mais infecciosa. Os cientistas estão trabalhando para aprender mais sobre essa variante para entender melhor como ela pode ser facilmente transmitida e se as vacinas atualmente autorizadas protegerão as pessoas contra ela.

No momento, não há evidências de que essa variante cause doença mais grave ou aumento do risco de morte. Informações sobre as características virológicas, epidemiológicas e clínicas da variante estão surgindo rapidamente. O Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, em colaboração com outras agências de saúde4 pública, está monitorando a situação de perto.

De acordo com informações do CDC, esta variante possui uma mutação5 no domínio de ligação ao receptor da proteína spike na posição 501, onde o aminoácido asparagina (N) foi substituído por tirosina6 (Y). A abreviação para essa mutação5 é N501Y, às vezes chamada de S:N501Y para especificar que ela está na proteína spike. Esta variante carrega muitas outras mutações, incluindo uma deleção dupla (posições 69 e 70).

Trabalhos anteriores em variantes com N501Y sugerem que elas podem se ligar mais fortemente ao receptor da enzima7 conversora de angiotensina 2 (ECA2) humana. Não se sabe se essa ligação mais estreita, se verdadeira, se traduz em quaisquer diferenças epidemiológicas ou clínicas significativas.

Leia sobre "Dinâmica temporal na excreção viral e transmissibilidade da COVID-19" e "Quão eficazes serão as vacinas contra COVID-19".

Agora, um estudo divulgado pelo Centre for Mathematical Modeling of Infectious Diseases da London School of Hygiene & Tropical Medicine, ainda não revisado por uma revista científica, comparou uma série de modelos como preditores de dados sobre infecções2, hospitalizações e outras variáveis; outros pesquisadores estão estudando a variante em experimentos de laboratório para determinar se ela é biologicamente distinta. O estudo não encontrou nenhuma evidência de que a variante fosse mais mortal do que outras. Mas os pesquisadores estimaram que era 56% mais contagiosa8.

Os pesquisadores ajustaram um modelo matemático de duas linhagens de transmissão de SARS-CoV-2 para internações hospitalares por COVID-19 observadas, ocupação de leitos em hospitais e UTIs e mortes; prevalência9 e soroprevalência de PCR10 de SARS-CoV-2; e a frequência relativa de VOC 202012/01 nas três regiões mais afetadas do NHS England (Sudeste, Leste da Inglaterra e Londres).

Estimou-se que a VOC 202012/01 seja 56% mais transmissível (intervalo de credibilidade de 95% nas três regiões 50-74%) do que as variantes preexistentes do SARS-CoV-2. Não foi possível encontrar evidências claras de que a VOC 202012/01 resulta em maior ou menor gravidade da doença do que as variantes preexistentes. No entanto, o aumento da transmissibilidade pode levar a um grande aumento na incidência11.

Em seu site, o CDC explica algumas das possíveis implicações da emergência12 de novas variantes. Sobre a possibilidade de que uma nova variante consiga escapar da imunidade13 induzida pelas vacinas atualmente autorizadas contra a COVID-19, o CDC explica que essas vacinas são “policlonais”, produzindo anticorpos14 que têm como alvo várias partes da proteína spike. O vírus15 provavelmente precisaria acumular múltiplas mutações na proteína spike para escapar da imunidade13 induzida por vacinas ou por infecção16 natural.

Essa seria provavelmente a implicação mais preocupante porque, uma vez que uma grande proporção da população seja vacinada, haverá pressão imunológica que poderia favorecer e acelerar o surgimento de tais variantes, selecionando para “mutantes de escape”. No entanto, não há evidências de que isso esteja ocorrendo, e a maioria dos especialistas acredita que é improvável que os mutantes de escape apareçam devido à natureza do vírus15.

Enquanto não são realizados mais estudos que forneçam dados concretos sobre a variante, essas informações do CDC e da London School of Hygiene & Tropical Medicine fornecem um vislumbre importante sobre o que essa nova variante pode significar para o curso da pandemia17.

Veja também sobre "Uso de máscaras durante a pandemia17 de COVID-19" e "Como o coronavírus entra no tecido18 respiratório e explora as defesas".

 

Fontes:
Centers for Disease Control and Prevention, relatório provisório publicado em 29 de dezembro de 2020.
Centre for Mathematical Modeling of Infectious Diseases, publicação em 23 de dezembro de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Estudo estima que nova variante do SARS-CoV-2, VOC 202012/01, seja 56% mais transmissível do que as variantes preexistentes. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/saude/1385735/estudo-estima-que-nova-variante-do-sars-cov-2-voc-202012-01-seja-56-mais-transmissivel-do-que-as-variantes-preexistentes.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Cepa: Cepa ou estirpe é um termo da biologia e da genética que se refere a um grupo de descendentes com um ancestral comum que compartilham semelhanças morfológicas e/ou fisiológicas.
2 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
3 Cepas: Cepa ou estirpe é um termo da biologia e da genética que se refere a um grupo de descendentes com um ancestral comum que compartilham semelhanças morfológicas e/ou fisiológicas.
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
6 Tirosina: É um dos aminoácidos polares, sem carga elétrica, que compõem as proteínas, caracterizado pela cadeia lateral curta na qual está presente um anel aromático e um grupamento hidroxila.
7 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
8 Contagiosa: 1. Que é transmitida por contato ou contágio. 2. Que constitui veículo para o contágio. 3. Que se transmite pela intensidade, pela influência, etc.; contagiante.
9 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
10 PCR: Reação em cadeia da polimerase (em inglês Polymerase Chain Reaction - PCR) é um método de amplificação de DNA (ácido desoxirribonucleico).
11 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
12 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
13 Imunidade: Capacidade que um indivíduo tem de defender-se perante uma agressão bacteriana, viral ou perante qualquer tecido anormal (tumores, enxertos, etc.).
14 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
15 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
16 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
17 Pandemia: É uma epidemia de doença infecciosa que se espalha por um ou mais continentes ou por todo o mundo, causando inúmeras mortes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a pandemia pode se iniciar com o aparecimento de uma nova doença na população, quando o agente infecta os humanos, causando doença séria ou quando o agente dissemina facilmente e sustentavelmente entre humanos. Epidemia global.
18 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
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