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Remdesivir em adultos com COVID-19 grave: um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo publicado pelo The Lancet

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Nenhum medicamento antiviral específico se mostrou eficaz no tratamento de pacientes com doença do coronavírus 2019 (COVID-19) grave. O remdesivir (GS-5734), um pró-fármaco1 análogo de nucleosídeo, tem efeitos inibitórios em coronavírus patogênicos de animais e humanos, incluindo o coronavírus 2 da síndrome2 respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) in vitro, e inibe o coronavírus da síndrome2 respiratória do Oriente Médio, SARS-CoV-1 e a replicação do SARS-CoV-2 em modelos animais.

Foi feito um estudo multicêntrico, randomizado3, duplo-cego, controlado por placebo4, publicado pelo The Lancet, em dez hospitais em Hubei, China. Os pacientes elegíveis eram adultos (idade ≥18 anos) internados no hospital com infecção5 por SARS-CoV-2 confirmada em laboratório, com intervalo entre o início dos sintomas6 e a entrada no hospital de 12 dias ou menos, saturação de oxigênio de 94% ou menos no ar ambiente, ou relação entre pressão parcial de oxigênio arterial e oxigênio inspirado fracionário de 300 mmHg ou menos e pneumonia7 confirmada radiologicamente.

Saiba mais sobre "Como é o coronavírus e a COVID-19", "Saturação de oxigênio" e "Tratamentos farmacológicos para a COVID-19".

Os pacientes foram divididos aleatoriamente em uma proporção de 2:1 para remdesivir intravenoso (200 mg no dia 1 seguido por 100 mg nos dias 2 a 10 em infusões diárias únicas) ou o mesmo volume de infusões de placebo4 por 10 dias. Foi permitido aos pacientes o uso concomitante de lopinavir-ritonavir, interferons e corticosteroides.

O desfecho primário foi o tempo até a melhora clínica até o dia 28, definido como o tempo (em dias) desde a randomização até o ponto de um declínio de dois níveis em uma escala ordinal de seis pontos do estado clínico (de 1 = alta para 6 = morte) ou alta com vida do hospital, o que ocorresse primeiro. A análise primária foi realizada na população com intenção de tratar (ITT) e a análise de segurança em todos os pacientes que iniciaram o tratamento designado.

Entre 6 de fevereiro de 2020 e 12 de março de 2020, 237 pacientes foram incluídos e aleatoriamente designados para um grupo de tratamento (158 para remdesivir e 79 para placebo4); um paciente no grupo placebo4 que se retirou após a randomização não foi incluído na população ITT.

O uso do remdesivir não foi associado a uma diferença no tempo até a melhora clínica (taxa de risco 1,23 [IC 95% 0,87–1,75]).

Embora não seja estatisticamente significativo, os pacientes que receberam remdesivir tiveram um tempo de melhora clínica numericamente mais rápido do que aqueles que receberam placebo4 entre pacientes com duração dos sintomas6 de 10 dias ou menos (taxa de risco 1,52 [0,95–2,43]).

Eventos adversos foram relatados em 102 (66%) dos 155 receptores de remdesivir versus 50 (64%) de 78 receptores de placebo4. O remdesivir foi interrompido precocemente devido a eventos adversos em 18 (12%) pacientes versus quatro (5%) pacientes que interromperam o placebo4 precocemente.

Neste estudo de pacientes adultos internados no hospital por COVID-19 grave, o remdesivir não foi associado a benefícios clínicos estatisticamente significativos. No entanto, a redução numérica no tempo de melhora clínica naqueles tratados mais cedo requer confirmação em estudos maiores.

Leia sobre "FDA emite autorização de uso emergencial para remdesivir", "Cloroquina e coronavírus" e "COVID-19 - o que se sabe sobre uma vacina8".

 

Fonte: The Lancet, publicação em 29 de abril de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. Remdesivir em adultos com COVID-19 grave: um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo publicado pelo The Lancet. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1366773/remdesivir-em-adultos-com-covid-19-grave-um-estudo-multicentrico-randomizado-duplo-cego-controlado-por-placebo-publicado-pelo-the-lancet.htm>. Acesso em: 22 nov. 2024.

Complementos

1 Fármaco: Qualquer produto ou preparado farmacêutico; medicamento.
2 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
3 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
4 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
5 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
6 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
7 Pneumonia: Inflamação do parênquima pulmonar. Sua causa mais freqüente é a infecção bacteriana, apesar de que pode ser produzida por outros microorganismos. Manifesta-se por febre, tosse, expectoração e dor torácica. Em pacientes idosos ou imunodeprimidos pode ser uma doença fatal.
8 Vacina: Tratamento à base de bactérias, vírus vivos atenuados ou seus produtos celulares, que têm o objetivo de produzir uma imunização ativa no organismo para uma determinada infecção.
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