Efeito de doses altas vs baixas de difosfato de cloroquina como terapia adjuvante em pacientes hospitalizados com infecção por SARS-CoV-2
Não há terapia antiviral específica recomendada para a doença do coronavírus 2019 (COVID-19). Estudos in vitro indicam que o efeito antiviral do difosfato de cloroquina (CQ) requer uma alta concentração do medicamento.
O objetivo desse estudo, publicado pelo JAMA Network Open, foi avaliar a segurança e eficácia de duas dosagens de CQ em pacientes com COVID-19 grave.
Este ensaio clínico de fase IIb, paralelo, duplo-cego e randomizado1, com 81 pacientes adultos hospitalizados com infecção2 por síndrome3 respiratória aguda grave do coronavírus 2 (SARS-CoV-2), foi realizado de 23 de março a 5 de abril de 2020 em um atendimento terciário em Manaus, Amazônia brasileira.
Os pacientes foram alocados para receber CQ de alta dosagem (ou seja, 600 mg de CQ duas vezes ao dia por 10 dias) ou CQ de baixa dosagem (ou seja, 450 mg duas vezes ao dia no dia 1 e uma vez ao dia por 4 dias).
O desfecho primário foi a redução da letalidade em pelo menos 50% no grupo de alta dosagem em comparação com o grupo de baixa dosagem. Os dados aqui apresentados referem-se principalmente aos resultados de segurança e letalidade durante o tratamento no dia 13. Os desfechos secundários incluíram o estado clínico do participante, exames laboratoriais e resultados de eletrocardiograma4. Os resultados serão apresentados para o dia 28. A detecção do RNA viral da secreção respiratória foi realizada nos dias 0 e 4.
De um tamanho de amostra predefinido de 440 pacientes, 81 foram incluídos (41 [50,6%] no grupo de alta dosagem e 40 [49,4%] no grupo de baixa dosagem). Os pacientes inscritos tinham uma idade média (DP) de 51,1 (13,9) anos, e a maioria (60 [75,3%]) era do sexo masculino. Idade mais avançada (idade média [DP], 54,7 [13,7] anos vs 47,4 [13,3] anos) e mais doenças cardíacas (5 de 28 [17,9%] vs 0) foram observadas no grupo de altas doses.
O RNA viral foi detectado em 31 de 40 (77,5%) e 31 de 41 (75,6%) pacientes nos grupos de baixa e alta dosagem, respectivamente. A letalidade até o dia 13 foi de 39,0% no grupo de alta dosagem (16 de 41) e 15,0% no grupo de baixa dosagem (6 de 40).
O grupo de alta dosagem apresentou mais instâncias de intervalo QTc superior a 500 milissegundos (7 de 37 [18,9%]) em comparação com o grupo de baixa dosagem (4 de 36 [11,1%]). A secreção respiratória no dia 4 foi negativa em apenas 6 dos 27 pacientes (22,2%).
Os resultados preliminares deste estudo sugerem que a dosagem mais alta de CQ não deve ser recomendada para pacientes5 gravemente enfermos com COVID-19 por causa de seus potenciais riscos à segurança, especialmente quando tomados concomitantemente com azitromicina e oseltamivir. Esses achados não podem ser extrapolados para pacientes5 com COVID-19 não grave.
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Fonte: JAMA Network Open, publicação em 24 de abril de 2020.