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Estudo propõe mudança de paradigma no diagnóstico do infarto agudo do miocárdio

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Tradicionalmente utilizada para guiar as decisões de tratamento, em especial quanto à necessidade de reperfusão imediata, a classificação binária de infarto1 agudo2 do miocárdio3 com ou sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST ou IAMSSST, respectivamente) vem se mostrando limitada diante de algumas complexidades enfrentadas nas síndromes coronarianas agudas.

Em um estudo recente, publicado no periódico JACC: Advances, os autores questionam o paradigma atual de classificação do infarto1 agudo2 do miocárdio3 (IAM) em IAMCSST e IAMSSST e propõem um novo modelo para diagnóstico4 e manejo mais preciso do IAM.

Destaques

  • O paradigma do IAMCSST transformou a cardiologia de emergência5, mas há um reconhecimento crescente de suas limitações.
  • Os critérios do IAMCSST são um marcador substituto inadequado para oclusão coronariana aguda, levando à reperfusão tardia.
  • Avanços baseados em evidências podem identificar infarto1 com oclusão coronariana aguda (OCA) que não atendem aos critérios do IAMCSST e falsos positivos para IAMCSST.
  • O paradigma de OCA utiliza interpretação eletrocardiográfica avançada auxiliada por inteligência artificial, ecocardiografia e exames de imagem avançados.
Leia sobre "Infarto do miocárdio6", "Hemodinâmica7 - o que ela estuda" e "Cateterismo8 cardíaco".

O artigo destaca que, há uma geração, a terapia trombolítica levou a uma mudança de paradigma no IAM, da distinção entre infarto1 com onda Q e sem onda Q para o IAMCSST versus IAMSSST.

O uso do supradesnivelamento do segmento ST no eletrocardiograma9 (ECG) como marcador substituto para oclusão coronariana aguda (OCA) permitiu o diagnóstico4 e tratamento rápidos. No entanto, a vasta pesquisa catalisada pelo paradigma do IAMCSST revelou anomalias crescentes: 25% dos casos de “IAMSSST” apresentam OCA com reperfusão tardia e maior mortalidade10.

Um artigo de 2021 publicado na revista Circulation explicou: “Embora o esquema de classificação dicotômica IAMCSST / IAMSSST tenha servido bem à comunidade cardiológica nas últimas décadas, é provável que o evento fisiopatológico constituinte que determina o prognóstico11 e a história natural seja a própria oclusão aguda do vaso, e não o supradesnivelamento do segmento ST.”

Como alerta, o novo consenso de especialistas do American College of Cardiology sobre dor torácica aguda: “A aplicação dos critérios de eletrocardiograma9 (ECG) do IAMCSST em um ECG padrão de 12 derivações isoladamente deixará de identificar uma minoria significativa de pacientes com oclusão coronariana aguda.”

Apesar de quase 30 anos do paradigma do IAMCSST, o Dr. José Alencar, cardiologista12 do setor de eletrocardiografia do Hospital Dante Pazzanese, em São Paulo, e um dos autores do novo estudo, descobriu que apenas 3 estudos verificaram a precisão diagnóstica dos critérios atuais do IAMCSST para o achado subjacente de oclusão coronariana aguda, e a sensibilidade agrupada foi de apenas 43,6%.

Por outro lado, a maioria dos centros cardíacos apresenta taxas significativamente altas de falsos positivos para IAMCSST, incluindo ativações necessárias do laboratório de cateterismo8 para esclarecimento diagnóstico4, mas também ativações evitáveis do laboratório de cateterismo8 que causam danos ao paciente e desperdício de recursos.

O estudo dessas limitações deu origem ao paradigma do infarto1 com oclusão coronariana aguda (OCA), baseado na presença ou ausência de OCA no paciente, em vez do supradesnivelamento do segmento ST no ECG. A mudança de paradigma para OCA aproveita a interpretação avançada do ECG auxiliada por inteligência artificial, ecocardiografia complementar à beira do leito e exames de imagem avançados, além de sinais13 clínicos de isquemia14 refratária, e oferece a próxima oportunidade para transformar a cardiologia de emergência5 e melhorar o atendimento ao paciente.

Em entrevista ao Medscape, o Dr. José Alencar explicou que o problema central é que o supradesnivelamento do ST tem sensibilidade <50% para detectar oclusão coronariana aguda (OCA), logo, muitos pacientes com trombo15 oclusivo não exibem supra e ficam fora das metas de tempo porta-agulha/porta-balão. A nova proposta não muda a terapêutica16 de urgência17, mas muda o enquadramento diagnóstico4: falar em infarto1 com OCA versus infarto1 sem OCA (NOCA).

Segundo ele, esse enquadramento amplia o raciocínio clínico, porque:

  • incentiva a procurar outros sinais13 eletrocardiográficos de OCA (p. ex., padrão de De Winter, padrão de Aslanger, distorção terminal do QRS, entre outros), que elevam a precisão quando incorporados;
  • reforça que nem sempre haverá sinal18 no ECG, e, ainda assim, pode haver OCA exigindo reperfusão rápida;
  • coloca o mecanismo fisiopatológico (oclusão) no centro da decisão, não apenas o marcador substituto (o “supra”).

O objetivo principal é reduzir atrasos de reperfusão nos “falsos-negativos”, para não deixá-los sem tratamento.

Veja também sobre "Doenças cardiovasculares19" e "Os 6 Ps da isquemia14 aguda: como identificar e tratar a oclusão arterial periférica".

 

Fontes:
JACC: Advances, Vol. 3, Nº 11, em novembro de 2024.
Medscape, notícia publicada em 22 de janeiro de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Estudo propõe mudança de paradigma no diagnóstico do infarto agudo do miocárdio. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1497110/estudo-propoe-mudanca-de-paradigma-no-diagnostico-do-infarto-agudo-do-miocardio.htm>. Acesso em: 11 nov. 2025.

Complementos

1 Infarto: Morte de um tecido por irrigação sangüínea insuficiente. O exemplo mais conhecido é o infarto do miocárdio, no qual se produz a obstrução das artérias coronárias com conseqüente lesão irreversível do músculo cardíaco.
2 Agudo: Descreve algo que acontece repentinamente e por curto período de tempo. O oposto de crônico.
3 Miocárdio: Tecido muscular do CORAÇÃO. Composto de células musculares estriadas e involuntárias (MIÓCITOS CARDÍACOS) conectadas, que formam a bomba contrátil geradora do fluxo sangüíneo. Sinônimos: Músculo Cardíaco; Músculo do Coração
4 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
5 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
6 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
7 Hemodinâmica: Ramo da fisiologia que estuda as leis reguladoras da circulação do sangue nos vasos sanguíneos tais como velocidade, pressão etc.
8 Cateterismo: Exame invasivo de artérias ou estruturas tubulares (uretra, ureteres, etc.), utilizando um dispositivo interno, capaz de injetar substâncias de contraste ou realizar procedimentos corretivos.
9 Eletrocardiograma: Registro da atividade elétrica produzida pelo coração através da captação e amplificação dos pequenos potenciais gerados por este durante o ciclo cardíaco.
10 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
11 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
12 Cardiologista: Médico especializado em tratar pessoas com problemas cardíacos.
13 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
14 Isquemia: Insuficiência absoluta ou relativa de aporte sanguíneo a um ou vários tecidos. Suas manifestações dependem do tecido comprometido, sendo a mais frequente a isquemia cardíaca, capaz de produzir infartos, isquemia cerebral, produtora de acidentes vasculares cerebrais, etc.
15 Trombo: Coágulo aderido à parede interna de uma veia ou artéria. Pode ocasionar a diminuição parcial ou total da luz do mesmo com sintomas de isquemia.
16 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
17 Urgência: 1. Necessidade que requer solução imediata; pressa. 2. Situação crítica ou muito grave que tem prioridade sobre outras; emergência.
18 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
19 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).

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