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Pequeno dispositivo rotativo oferece uma forma inovadora para remover coágulos sanguíneos e tratar o AVC

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Ao tratar um acidente vascular cerebral1 isquêmico2, em que um coágulo3 bloqueia o fluxo de oxigênio para o cérebro4, cada minuto conta. Quanto mais rápido os médicos conseguirem remover o coágulo3 e restaurar o fluxo sanguíneo, mais células5 cerebrais sobreviverão e maior a probabilidade dos pacientes terem um bom resultado. Mas as tecnologias atuais só removem coágulos com sucesso na primeira tentativa em cerca de 50% das vezes e, em cerca de 15% dos casos, falham completamente.

Pesquisadores da Stanford Engineering desenvolveram uma nova técnica para remover coágulos sanguíneos, chamada trombectomia milli-spinner, que apresentou mais que o dobro de eficácia em relação às técnicas atuais. A tecnologia pode melhorar significativamente as taxas de sucesso no tratamento de AVCs, bem como ataques cardíacos, embolia6 pulmonar e outras doenças relacionadas a coágulos.

Em um artigo publicado na revista Nature, os pesquisadores usaram modelos de fluxo e estudos em animais para mostrar que o milli-spinner supera significativamente os tratamentos disponíveis e oferece uma nova abordagem para a remoção rápida, fácil e completa de coágulos.

O dispositivo de trombectomia milli-spinner utiliza forças induzidas por rotação para modificar mecanicamente a microestrutura do coágulo3 sanguíneo, reduzindo seu volume em até 95% para uma remoção rápida e segura. Ao densificar a rede de fibrina7 do coágulo3 e liberar hemácias8, ele oferece uma nova estratégia para aumentar as taxas de sucesso em tratamentos de bloqueios por coágulos sanguíneos, como no AVC.

“Na maioria dos casos, estamos mais que dobrando a eficácia da tecnologia atual e, para os coágulos mais resistentes, que removemos apenas cerca de 11% das vezes com os dispositivos atuais, conseguimos abrir a artéria9 na primeira tentativa em 90% dos casos”, disse o co-autor Jeremy Heit, chefe de Neuroimagem e Neurointervenção em Stanford e professor associado de radiologia. "É inacreditável. Esta é uma tecnologia revolucionária que melhorará drasticamente nossa capacidade de ajudar as pessoas."

Os coágulos sanguíneos são mantidos unidos por emaranhados de fibrina7, uma proteína resistente e filamentosa que retém glóbulos vermelhos e outros materiais, formando um aglomerado pegajoso. Normalmente, os médicos tentam removê-los inserindo um cateter na artéria9 e aspirando o coágulo3 ou prendendo-o com uma tela metálica. Mas esses métodos nem sempre funcionam e podem romper os fios de fibrina7, fazendo com que pedaços do coágulo3 se soltem e se alojem em locais novos e mais difíceis de alcançar.

“Com a tecnologia existente, não há como reduzir o tamanho do coágulo3. Eles dependem da deformação e ruptura do coágulo3 para removê-lo”, disse Renee Zhao, professora assistente de engenharia mecânica e autora sênior10 do artigo. “O que torna o milli-spinner único é que ele aplica forças de compressão e cisalhamento11 para encolher todo o coágulo3, reduzindo drasticamente o volume sem causar ruptura.”

Leia sobre "Como se dá a coagulação12 sanguínea", "Trombofilia13 - tendência a formar coágulos" e "Distúrbios da coagulação12 sanguínea".

O milli-spinner, que também alcança o coágulo3 por meio de um cateter, consiste em um tubo longo e oco que pode girar rapidamente, com uma série de aletas e fendas que ajudam a criar uma sucção localizada perto do coágulo3. Isso aplica duas forças – compressão e cisalhamento11 – para enrolar os fios de fibrina7 em uma bola compacta sem quebrá-los.

Imagine uma bola solta de fibras de algodão (ou um punhado de cabelos longos puxados de uma escova de cabelo14, se preferir). Se você pressioná-la entre as palmas das mãos15 (compressão) e esfregá-las em um círculo (cisalhamento11), as fibras se emaranharão cada vez mais, formando uma bola menor e mais densa. O milli-spinner consegue fazer o mesmo com os fios de fibrina7 de um coágulo3, usando sucção para comprimir o coágulo3 contra a extremidade do tubo e girando rapidamente para criar o cisalhamento11 necessário.

Zhao e seus colegas demonstraram que o milli-spinner conseguia reduzir um coágulo3 a apenas 5% do seu volume original. O processo libera os glóbulos vermelhos, que se movem normalmente pelo corpo quando não estão presos na fibrina7, e a agora minúscula bola de fibrina7 é sugada para dentro do milli-spinner e para fora do corpo.

“Funciona muito bem para uma ampla gama de composições e tamanhos de coágulos”, disse Zhao. “Mesmo para coágulos resistentes e ricos em fibrina7, que são impossíveis de tratar com as tecnologias atuais, nosso milli-spinner pode tratá-los usando este conceito mecânico simples, porém poderoso, para densificar a rede de fibrina7 e encolher o coágulo3.”

Embora tenham se concentrado inicialmente no tratamento de coágulos sanguíneos, existem muitos outros usos potenciais para o milli-spinner, disse Zhao. Ela e sua equipe já estão trabalhando no uso da sucção localizada do milli-spinner para capturar e remover fragmentos16 de cálculos renais.

“Estamos explorando outras aplicações biomédicas para o design do milli-spinner e até mesmo possibilidades além da medicina”, disse Zhao. “Há algumas oportunidades muito promissoras pela frente.”

Cientes da diferença que isso pode fazer para pacientes17 com AVC e outras doenças relacionadas a coágulos sanguíneos, Zhao, Heit e seus colegas esperam que a trombectomia com milli-spinner seja aprovada para uso em pacientes o mais rápido possível.

“O que torna essa tecnologia realmente interessante é seu mecanismo exclusivo para remodelar e compactar coágulos ativamente, em vez de apenas extraí-los”, disse Zhao. “Estamos trabalhando para levar isso para ambientes clínicos, onde poderá aumentar significativamente a taxa de sucesso dos procedimentos de trombectomia e salvar vidas de pacientes.”

Confira a seguir o resumo do artigo publicado.

Trombectomia Milli-spinner

O bloqueio induzido por coágulos em artérias18 ou veias19 pode causar condições médicas graves. A trombectomia mecânica é uma técnica minimamente invasiva usada para tratar acidente vascular cerebral1 isquêmico2, infarto do miocárdio20, embolia6 pulmonar e doença vascular periférica21, removendo coágulos por aspiração, remoção de stent ou mecanismos de corte.

No entanto, os métodos atuais de trombectomia mecânica falham na remoção de coágulos em 10 a 30% dos pacientes, especialmente no caso de coágulos grandes e ricos em fibrina7. Esses métodos também podem romper e fragmentar coágulos, causando êmbolos distais22 e desfechos desfavoráveis.

Para superar esses desafios, desenvolveu-se a trombectomia milli-spinner, que utiliza um conceito mecânico simples, porém inovador, para modificar a microestrutura do coágulo3, facilitando sua remoção.

O milli-spinner funciona densificando mecanicamente a rede de fibrina7 do coágulo3 e liberando hemácias8 por meio de compressão e forças de cisalhamento11 induzidas por rotação. Ele pode reduzir o volume do coágulo3 em 95% para uma remoção fácil e rápida.

Testes in vitro em modelos de fluxo arterial pulmonar e cerebral e experimentos in vivo em modelos suínos demonstram que o milli-spinner alcança a redução ultrarrápida de coágulos e a revascularização de alta fidelidade, superando a trombectomia por aspiração.

A trombectomia por milli-spinner modifica diretamente a microestrutura do coágulo3 para facilitar sua remoção, melhorando as taxas de sucesso da trombectomia mecânica em comparação com os métodos atuais que dependem da ruptura ou corte do coágulo3.

Essa abordagem oferece uma nova direção promissora para dispositivos de trombectomia mecânica, especialmente para o tratamento de acidente vascular cerebral1 isquêmico2, embolia6 pulmonar e trombose23 periférica.

Veja também sobre "Acidente Vascular Cerebral1", "Embolia6 pulmonar" e "Infarto do Miocárdio20".

 

Fontes:
Nature, publicação em 04 de junho de 2025.
Stanford Report, notícia publicada em 04 de junho de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Pequeno dispositivo rotativo oferece uma forma inovadora para remover coágulos sanguíneos e tratar o AVC. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1492050/pequeno-dispositivo-rotativo-oferece-uma-forma-inovadora-para-remover-coagulos-sanguineos-e-tratar-o-avc.htm>. Acesso em: 17 jul. 2025.

Complementos

1 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
2 Isquêmico: Relativo à ou provocado pela isquemia, que é a diminuição ou suspensão da irrigação sanguínea, numa parte do organismo, ocasionada por obstrução arterial ou por vasoconstrição.
3 Coágulo: 1. Em fisiologia, é uma massa semissólida de sangue ou de linfa. 2. Substância ou produto que promove a coagulação do leite.
4 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
5 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
6 Embolia: Impactação de uma substância sólida (trombo, colesterol, vegetação, inóculo bacteriano), líquida ou gasosa (embolia gasosa) em uma região do circuito arterial com a conseqüente obstrução do fluxo e isquemia.
7 Fibrina: Proteína formada no plasma a partir da ação da trombina sobre o fibrinogênio. Ela é o principal componente dos coágulos sanguíneos.
8 Hemácias: Também chamadas de glóbulos vermelhos, eritrócitos ou células vermelhas. São produzidas no interior dos ossos a partir de células da medula óssea vermelha e estão presentes no sangue em número de cerca de 4,5 a 6,5 milhões por milímetro cúbico, em condições normais.
9 Artéria: Vaso sangüíneo de grande calibre que leva sangue oxigenado do coração a todas as partes do corpo.
10 Sênior: 1. Que é o mais velho. 2. Diz-se de desportistas que já ganharam primeiros prêmios: um piloto sênior. 3. Diz-se de profissionais experientes que já exercem, há algum tempo, determinada atividade.
11 Cisalhamento: 1. Ato ou efeito de cisalhar, ou seja, de fazer cortes em ou de cortar as bordas de alguma coisa. 2. Em física, é o fenômeno de deformação ao qual um corpo está sujeito quando as forças que agem sobre ele provocam um deslocamento em planos diferentes, mantendo o volume constante. 3. Em geologia, é a fraturação das rochas sob a ação de esforços tectônicos, ou seja, dois esforços paralelos em sentidos opostos.
12 Coagulação: Ato ou efeito de coagular(-se), passando do estado líquido ao sólido.
13 Trombofilia: Tendência aumentada a apresentar fenômenos tromboembólicos, seja esta hereditária ou adquirida.
14 Cabelo: Estrutura filamentosa formada por uma haste que se projeta para a superfície da PELE a partir de uma raiz (mais macia que a haste) e se aloja na cavidade de um FOLÍCULO PILOSO. É encontrado em muitas áreas do corpo.
15 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
16 Fragmentos: 1. Pedaço de coisa que se quebrou, cortou, rasgou etc. É parte de um todo; fração. 2. No sentido figurado, é o resto de uma obra literária ou artística cuja maior parte se perdeu ou foi destruída. Ou um trecho extraído de uma obra.
17 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
18 Artérias: Os vasos que transportam sangue para fora do coração.
19 Veias: Vasos sangüíneos que levam o sangue ao coração.
20 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
21 Doença vascular periférica: Doença dos grandes vasos dos braços, pernas e pés. Pode ocorrer quando os principais vasos dessas áreas são bloqueados e não recebem sangue suficiente. Os sinais são: dor e cicatrização lenta de lesões nessas áreas.
22 Distais: 1. Que se localiza longe do centro, do ponto de origem ou do ponto de união. 2. Espacialmente distante; remoto. 3. Em anatomia geral, é o mais afastado do tronco (diz-se de membro) ou do ponto de origem (diz-se de vasos ou nervos). Ou também o que é voltado para a direção oposta à cabeça. 4. Em odontologia, é o mais distante do ponto médio do arco dental.
23 Trombose: Formação de trombos no interior de um vaso sanguíneo. Pode ser venosa ou arterial e produz diferentes sintomas segundo os territórios afetados. A trombose de uma artéria coronariana pode produzir um infarto do miocárdio.

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