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Estudo revela alvo para reverter tecido cicatricial após ataque cardíaco

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Uma nova pesquisa descobriu um caminho potencial para prevenir cicatrizes1 permanentes e insuficiência cardíaca2 após um infarto do miocárdio3 (IM). O estudo, realizado por pesquisadores do Massachusetts General Hospital (MGH), revela um passo importante para ajudar o coração4 humano a se regenerar pós infarto5.

Pela primeira vez, os pesquisadores compararam a formação de tecido6 cicatricial nos corações lesionados de peixes-zebra e camundongos, descobrindo como potencialmente reverter a cicatriz7 permanente que é tão prejudicial aos corações de mamíferos. Os resultados do estudo foram publicados na Nature Communications.

“Somos os primeiros a comparar diretamente e mostrar diferenças muito fundamentais na formação de tecido6 cicatricial entre peixes-zebra e mamíferos”, diz o autor principal Eman A. Akam-Baxter, PhD, pesquisador do MGH Cardiovascular Research Center e instrutor de Medicina na Harvard Medical School. “Os resultados do nosso estudo apontam para um possível novo alvo para reverter a formação de cicatrizes1 após o infarto do miocárdio3, o que nunca foi demonstrado antes.”

Um infarto do miocárdio3 causa a morte de um grande número de células8 cardíacas. Para reparar a lesão9, o corpo substitui as células8 danificadas e mortas por tecido6 cicatricial. Inicialmente, o tecido6 cicatricial é benéfico para manter o coração4 intacto. Mas, eventualmente, o tecido6 cicatricial se torna uma parte permanente do músculo cardíaco10, fazendo com que o coração4 bombeie sangue11 com menos eficiência. Um coração4 sobrecarregado faz com que o tecido6 cicatricial se expanda, levando a danos cardíacos permanentes.

A formação de tecido6 cicatricial permanente após uma lesão9 cardíaca é característica de todos os mamíferos. Mas o peixe-zebra tem uma capacidade notável de remover completamente o tecido6 cicatricial após uma lesão9, permitindo espaço para que as células8 cardíacas se regenerem e reconstruam completamente um coração4 saudável.

“Por muitos anos, os pesquisadores se concentraram nas propriedades dos cardiomiócitos (células8 do músculo cardíaco10) e células8 imunológicas no coração4 do peixe-zebra para explicar esse fenômeno”, explicou David Sosnovik, MD, autor sênior12 do artigo.

“No entanto, nenhum estudo caracterizando a natureza da cicatriz7 de colágeno13 no peixe-zebra foi realizado. A experiência do Dr. Akam-Baxter em química sintética e analítica nos permitiu abordar esse problema de um novo ângulo.”

Leia sobre "Processo de cicatrização" e "Infarto do Miocárdio3".

Até então, não era possível examinar a formação de tecido6 cicatricial no pequeno coração4 do peixe-zebra por meio de imagens. Para este estudo, os pesquisadores primeiro tiveram que desenvolver uma sonda de imagem molecular que chamaram de TMR-O, que permitiu que eles vissem detalhes da cicatrização dentro dos corações de peixes-zebra e modelos de camundongos com lesão9 cardíaca.

O tecido6 cicatricial é composto de colágeno13, longas cadeias de proteína que se ligam umas às outras para formar uma fibra que dá ao tecido6 cicatricial sua estrutura e estabilidade. O processo de ligação de moléculas de colágeno13 é chamado de reticulação.

“Pense no colágeno13 reticulado como uma rede de longas cadeias de proteína ligadas entre si”, explica Akam-Baxter. “Mãos em vários pontos de cada cadeia de proteína apertam a cadeia oposta como um aperto de mão14.”

A sonda que os pesquisadores desenvolveram foi ligada a cada mão14, fornecendo uma leitura fluorescente de como o colágeno13 foi reticulado.

Pesquisadores há muito tempo acreditam que a extensão da reticulação do colágeno13 é a chave para saber se uma cicatriz7 é reabsorvível ou permanente. Mas quando os pesquisadores do MGH testaram essa hipótese, eles descobriram que a quantidade de reticulação era semelhante no peixe-zebra e nos camundongos após lesão9 cardíaca. No entanto, o tipo de reticulação era diferente.

“No coração4 do camundongo, a natureza química das reticulações do colágeno13 era altamente madura e formava uma estrutura que não pode ser quebrada pelas enzimas antifibróticas no corpo. Em contraste, as reticulações no peixe-zebra se assemelhavam a um aperto de mão14 mais frouxo”, diz Akam-Baxter. “As reticulações no coração4 do peixe-zebra persistiram em uma forma quimicamente imatura que pode ser quebrada, e isso permitiu que as cicatrizes1 fibróticas fossem reabsorvidas e substituídas por células8 cardíacas regeneradas.”

Os autores mostraram ainda que as ligações cruzadas que se formam nos corações dos camundongos são resultado de modificação química (hidroxilação da lisina) dos fios de colágeno13 em camundongos, e que isso não ocorre na mesma extensão no coração4 do peixe-zebra.

Essa modificação é feita por uma enzima15 chamada lisil hidroxilase 2; essa enzima15 está ligada à cicatrização permanente em outros órgãos em doenças de fibrose16.

“Ninguém estudou o efeito do bloqueio dessa enzima15 no contexto de ataque cardíaco”, diz Akam-Baxter. Sua equipe de pesquisa está estudando se a inibição dessa enzima15 pode efetivamente prevenir cicatrizes1 permanentes no coração4 após um IM. Os pesquisadores também investigarão se o tecido6 cicatricial pode ser revertido em outros órgãos.

“O número de mortes e a quantidade de insuficiência cardíaca2 resultante da cicatrização após o IM são impressionantes”, diz Akam-Baxter. “E as doenças fibróticas também são responsáveis por um grande número de mortes. Se pudermos encontrar uma característica comum de reversão do tecido6 cicatricial em vários órgãos, podemos potencialmente salvar muitas vidas.”

Confira a seguir o resumo do artigo publicado.

Dinâmica da oxidação do colágeno13 e reticulação no miocárdio17 regenerado e irreversivelmente infartado

Nos corações de mamíferos, o infarto do miocárdio3 produz uma cicatriz7 permanente rica em colágeno13. Por outro lado, no peixe-zebra, uma cicatriz7 rica em colágeno13 se forma, mas é completamente reabsorvida à medida que o miocárdio17 se regenera. A formação de reticulações no colágeno13 dificulta sua degradação, mas a reticulação não foi bem caracterizada em corações de peixe-zebra.

Neste estudo, uma biblioteca de sondas fluorescentes para quantificar a oxidação do colágeno13, o primeiro passo na formação de reticulação de colágeno13 (RC), foi desenvolvida. Lesões18 miocárdicas em camundongos ou peixes-zebra resultaram em dinâmicas semelhantes de oxidação do colágeno13 no miocárdio17 no primeiro mês após a lesão9.

No entanto, durante esse tempo, RCs maduras, como piridinolina e desoxipiridinolina, desenvolveram-se nos infartos murinos, mas não nos corações de peixe-zebra. Altos níveis de colágeno13 recém-oxidado ainda foram vistos em cicatrizes1 murinas com RCs maduras.

Esses dados sugerem que a fibrogênese permanece dinâmica, mesmo em cicatrizes1 maduras, e que a ausência de reticulações de colágeno13 maduras em corações de peixes-zebra pode facilitar sua capacidade de regeneração.

Veja também sobre "Cicatrização e cicatrizes1" e "Insuficiência cardíaca congestiva19".

 

Fontes:
Nature Communications, publicação em 10 de junho de 2024.
Science Daily, notícia publicada em 10 de junho de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Estudo revela alvo para reverter tecido cicatricial após ataque cardíaco. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1478005/estudo-revela-alvo-para-reverter-tecido-cicatricial-apos-ataque-cardiaco.htm>. Acesso em: 5 fev. 2025.

Complementos

1 Cicatrizes: Formação de um novo tecido durante o processo de cicatrização de um ferimento.
2 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
3 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
4 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
5 Infarto: Morte de um tecido por irrigação sangüínea insuficiente. O exemplo mais conhecido é o infarto do miocárdio, no qual se produz a obstrução das artérias coronárias com conseqüente lesão irreversível do músculo cardíaco.
6 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
7 Cicatriz: Formação de um novo tecido durante o processo de cicatrização de um ferimento.
8 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
9 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
10 Músculo Cardíaco: Tecido muscular do CORAÇÃO. Composto de células musculares estriadas e involuntárias (MIÓCITOS CARDÍACOS) conectadas, que formam a bomba contrátil geradora do fluxo sangüíneo.
11 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
12 Sênior: 1. Que é o mais velho. 2. Diz-se de desportistas que já ganharam primeiros prêmios: um piloto sênior. 3. Diz-se de profissionais experientes que já exercem, há algum tempo, determinada atividade.
13 Colágeno: Principal proteína fibrilar, de função estrutural, presente no tecido conjuntivo de animais.
14 Mão: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
15 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
16 Fibrose: 1. Aumento das fibras de um tecido. 2. Formação ou desenvolvimento de tecido conjuntivo em determinado órgão ou tecido como parte de um processo de cicatrização ou de degenerescência fibroide.
17 Miocárdio: Tecido muscular do CORAÇÃO. Composto de células musculares estriadas e involuntárias (MIÓCITOS CARDÍACOS) conectadas, que formam a bomba contrátil geradora do fluxo sangüíneo. Sinônimos: Músculo Cardíaco; Músculo do Coração
18 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
19 Insuficiência Cardíaca Congestiva: É uma incapacidade do coração para efetuar as suas funções de forma adequada como conseqüência de enfermidades do próprio coração ou de outros órgãos. O músculo cardíaco vai diminuindo sua força para bombear o sangue para todo o organismo.
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