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Os ossos de pessoas jovens ficaram mais fracos após procedimento popular de perda de peso

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Adolescentes e adultos jovens com obesidade1 submetidos à gastrectomia vertical experimentaram perda óssea nos anos seguintes, relataram pesquisadores em um estudo publicado na revista científica Radiology.

Embora nenhuma mudança tenha sido observada entre aqueles tratados apenas com dieta e exercícios, os jovens (idade média de 18 anos) submetidos à gastrectomia vertical tiveram quedas significativas na força óssea da coluna lombar média em tomografias computadorizadas quantitativas 2 anos após a cirurgia, descobriram Miriam Bredella, MD, do Massachusetts General Hospital em Boston, EUA, e colegas.

Os pacientes de cirurgia também tiveram um declínio significativo na densidade mineral óssea trabecular, enquanto praticamente nenhuma alteração foi observada nos pacientes de controle.

De acordo com a espectroscopia de prótons por ressonância magnética2, houve também um aumento significativo do tecido adiposo3 da medula óssea4 (TAMO) da coluna lombar após a gastrectomia vertical.

“Cada vez mais usado como um biomarcador de imagem, o TAMO medido por espectroscopia de RM pode caracterizar melhor o metabolismo5 ósseo; estudos mostraram sua associação com aumento do risco de fratura6 e redução da resistência óssea”, apontaram Thomas Link, MD, PhD, e Anne Schafer, MD, ambos da University of California San Francisco, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

Este foi um ponto forte do estudo, já que “este é um dos poucos estudos que usam uma variedade de técnicas avançadas de imagem quantitativa para caracterizar a qualidade e a massa óssea no esqueleto7 em crescimento de adolescentes após a cirurgia bariátrica8”, afirmaram.

A gastrectomia vertical levou à perda de peso: os pacientes que optaram pela cirurgia obtiveram uma queda média do índice de massa corporal9 (IMC10) de 11,9, enquanto aqueles que aderiram apenas à dieta e ao exercício apresentaram um aumento médio de 1,49 ao longo dos 2 anos de acompanhamento.

Os pacientes de gastrectomia vertical tiveram uma queda média de 57,83 cm² no tecido adiposo3 visceral abdominal, enquanto o grupo controle teve um aumento significativo de 9,07 cm². Um padrão semelhante foi observado no tecido adiposo subcutâneo11 (-278,17 vs 46,59 cm², respectivamente).

Os pacientes de cirurgia tiveram uma queda significativa no músculo da coxa12 (-24,6 cm²), mas os controles não.

Leia sobre "Obesidade1 infantil", "Tipos de Cirurgia Bariátrica8" e "Tratamento da obesidade1".

No geral, essas mudanças na densidade e força vertebrais foram positivamente correlacionadas com as mudanças no IMC10, mas foram inversamente correlacionadas com o TAMO vertebral. Isso significa que aqueles que perderam mais peso após a cirurgia também tiveram as maiores alterações ósseas.

Essas descobertas não foram uma grande surpresa, uma vez que há dados semelhantes em adultos, disse Bredella.

“O interessante é que a cirurgia para perda de peso causou um aumento na gordura13 dentro dos ossos, o chamado tecido adiposo3 da medula óssea4, apesar de uma perda significativa de gordura13 corporal”, disse ela. “Também ficamos surpresos que o grupo de controle, os grupos de adolescentes com obesidade1 que não passaram por cirurgia para perda de peso, não construíram ossos tanto quanto seria esperado durante a adolescência, o que implica que a própria obesidade1 tem efeitos negativos na saúde14 óssea.”

“Esperamos que médicos e pacientes estejam cientes da importância da saúde14 óssea após a cirurgia para perda de peso”, acrescentou Bredella. “Como a perda óssea – e a osteoporose15 – é indolor e não causa sintomas16 antes de quebrar um osso, muitas vezes é negligenciada.”

Os editorialistas concordaram, chamando esses achados de “descobertas altamente clinicamente importantes”, observando como a adolescência e o início da idade adulta são momentos-chave para adquirir o pico de massa óssea necessário para mais tarde na vida.

“Isso tem implicações potenciais para o risco futuro de osteoporose15 e fraturas por fragilidade”, escreveram Link e Schafer. “Embora a cirurgia bariátrica8 seja uma intervenção benéfica para adolescentes com obesidade1 que melhora a qualidade de vida, reduz comorbidades17 e aumenta a expectativa de vida18, atenção rigorosa à saúde14 óssea é crucial”.

No artigo, os pesquisadores descrevem os efeitos esqueléticos de dois anos da gastrectomia vertical em adolescentes com obesidade1, avaliados com tomografia computadorizada19 (TC) quantitativa e espectroscopia por ressonância magnética2 (RM).

Eles contextualizam que a gastrectomia vertical (GV) é eficaz no tratamento das complicações cardiometabólicas da obesidade1, mas está associada à perda óssea. O objetivo, portanto, foi determinar os efeitos a longo prazo da GV na força e densidade ósseas vertebrais e no tecido adiposo3 da medula óssea4 (TAMO) em adolescentes e adultos jovens com obesidade1.

Este estudo longitudinal prospectivo20 não randomizado21 de 2 anos recrutou adolescentes e adultos jovens com obesidade1 submetidos à GV (grupo GV) ou aconselhamento dietético e de exercícios sem cirurgia (grupo controle) em um centro médico acadêmico de 2015 a 2020.

Os participantes foram submetidos a TC quantitativa da coluna lombar (níveis L1 e L2) para avaliar a densidade e força ósseas, espectroscopia de prótons por RM para avaliar TAMO (níveis L1 e L2) e ressonância magnética2 do abdômen e da coxa12 para avaliar a composição corporal.

O teste t de Student e o teste de Classificação Assinada de Wilcoxon foram usados para comparar as mudanças de 24 meses entre e dentro dos grupos. A análise de regressão foi realizada para avaliar associações entre composição corporal, densidade óssea vertebral, força e TAMO.

Um total de 25 participantes foram submetidos à GV (média de idade, 18 anos ± 2 [DP], 20 mulheres) e 29 foram submetidos a aconselhamento dietético e de exercícios sem cirurgia (média de idade, 18 anos ± 3, 21 mulheres).

O índice de massa corporal9 (IMC10) diminuiu em média 11,9 kg/m² ± 5,21 [DP] após 24 meses no grupo GV (P <0,001), enquanto aumentou no grupo controle (aumento médio, 1,49 kg/m² ± 3,10; P = 0,02).

A resistência óssea média da coluna lombar diminuiu após a cirurgia em comparação com os indivíduos de controle (diminuição média, -728 N ± 691 vs -7,24 N ± 775; P <0,001).

O TAMO da coluna lombar aumentou após GV (aumento médio da proporção de lipídios para água, 0,10 ± 0,13; P = 0,001).

As alterações na densidade e força vertebrais correlacionaram-se positivamente com as alterações no IMC10 e na composição corporal (R = 0,34 a R = 0,65, P = 0,02 a P <0,001) e inversamente com o TAMO vertebral (R = -0,33 a R = -0,47, P = 0,03 a P = 0,001).

O estudo concluiu assim que a gastrectomia vertical em adolescentes e adultos jovens reduziu a força e a densidade ósseas vertebrais e aumentou o tecido adiposo3 da medula óssea4 em comparação com os participantes do grupo controle.

Veja também sobre "Osteoporose15 - o que é", "Fratura6 espontânea" e "Densitometria22 óssea".

 

Fontes:
Radiology, publicação em 13 de junho de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 13 de junho de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Os ossos de pessoas jovens ficaram mais fracos após procedimento popular de perda de peso. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1439675/os-ossos-de-pessoas-jovens-ficaram-mais-fracos-apos-procedimento-popular-de-perda-de-peso.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
2 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
3 Tecido Adiposo: Tecido conjuntivo especializado composto por células gordurosas (ADIPÓCITOS). É o local de armazenamento de GORDURAS, geralmente na forma de TRIGLICERÍDEOS. Em mamíferos, existem dois tipos de tecido adiposo, a GORDURA BRANCA e a GORDURA MARROM. Suas distribuições relativas variam em diferentes espécies sendo que a maioria do tecido adiposo compreende o do tipo branco.
4 Medula Óssea: Tecido mole que preenche as cavidades dos ossos. A medula óssea apresenta-se de dois tipos, amarela e vermelha. A medula amarela é encontrada em cavidades grandes de ossos grandes e consiste em sua grande maioria de células adiposas e umas poucas células sangüíneas primitivas. A medula vermelha é um tecido hematopoiético e é o sítio de produção de eritrócitos e leucócitos granulares. A medula óssea é constituída de um rede, em forma de treliça, de tecido conjuntivo, contendo fibras ramificadas e preenchida por células medulares.
5 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
6 Fratura: Solução de continuidade de um osso. Em geral é produzida por um traumatismo, mesmo que possa ser produzida na ausência do mesmo (fratura patológica). Produz como sintomas dor, mobilidade anormal e ruídos (crepitação) na região afetada.
7 Esqueleto:
8 Cirurgia Bariátrica:
9 Índice de massa corporal: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
10 IMC: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
11 Tecido adiposo subcutâneo: Tecido gorduroso abaixo da pele em todo o corpo.
12 Coxa: É a região situada abaixo da virilha e acima do joelho, onde está localizado o maior osso do corpo humano, o fêmur.
13 Gordura: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Os alimentos que fornecem gordura são: manteiga, margarina, óleos, nozes, carnes vermelhas, peixes, frango e alguns derivados do leite. O excesso de calorias é estocado no organismo na forma de gordura, fornecendo uma reserva de energia ao organismo.
14 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
15 Osteoporose: Doença óssea caracterizada pela diminuição da formação de matriz óssea que predispõe a pessoa a sofrer fraturas com traumatismos mínimos ou mesmo na ausência deles. É influenciada por hormônios, sendo comum nas mulheres pós-menopausa. A terapia de reposição hormonal, que administra estrógenos a mulheres que não mais o produzem, tem como um dos seus objetivos minimizar esta doença.
16 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
17 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
18 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
19 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
20 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
21 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
22 Densitometria: Medição de densidade óptica em chapas fotográficas.
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