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Problemas de sono da infância até a adolescência estão ligados a pior saúde mental

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Os problemas de sono durante a transição da infância para o início da adolescência foram associados a sintomas1 de psicopatologia, destacando a importância de um bom sono para o bem-estar mental dos adolescentes, sugeriu um grande estudo de coorte2 observacional.

Entre mais de 10.000 crianças, aquelas com perfis de problemas de sono mais graves tiveram um risco maior de sintomas1 internalizantes simultâneos, relataram Vanessa Cropley, PhD, da Universidade de Melbourne, na Austrália, e co-autores no JAMA Psychiatry:

  • Perfil de problemas de início/manutenção do sono: OR 1,30
  • Perfil de distúrbio moderado e inespecífico (misto): OR 1,29
  • Perfil de alto distúrbio: OR 1,44

Da mesma forma, esses perfis de sono também foram associados a um risco aumentado de sintomas1 externalizantes simultâneos:

  • Problemas de início/manutenção do sono: OR 1,20
  • Distúrbio misto: OR 1,17
  • Alto distúrbio: OR 1,24
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Cropley e a equipe observaram que “os problemas de sono no desenvolvimento são diversos, altamente comórbidos e seguem trajetórias individualizadas ao longo do desenvolvimento”, acrescentando que seus resultados sugerem que as intervenções devem ser focadas em padrões de sono específicos, em vez de intervenções de sono generalizadas.

“O sono é extremamente importante para garantir o desenvolvimento mental e emocional saudável de crianças e jovens adolescentes”, disse a co-autora Rebecca Cooper, também da Universidade de Melbourne. “Garantir que os problemas do sono sejam tratados adequadamente durante esse período é crucial para apoiar o bem-estar emocional e comportamental de um jovem em um momento vulnerável durante o desenvolvimento.”

“Sabemos que, para problemas de saúde3 mental, a intervenção precoce é fundamental”, disse Cooper. “Ao olhar para os problemas do sono, acho que a natureza quase onipresente desses sintomas1 indica que a maioria das crianças, e potencialmente os pais, podem se beneficiar de programas de intervenção precoce para melhorar os hábitos de sono.”

Karen Pierce, MD, da Escola de Medicina Feinberg da Northwestern University em Chicago, disse que os resultados desse estudo são uma validação clara da literatura atual.

“A diferença é que eles estão usando uma coorte4 incrível. A coorte4 ABCD (Adolescent Brain Cognitive Development) é uma população incrível e diversa que eles acompanham há anos”, disse Pierce, que não participou deste estudo. “O que este estudo mostra é que você precisa de um bom sono para ter uma boa saúde3 mental, ponto final.”

Ela observou que a higiene do sono deveria ser mais discutida por sua importância para a saúde3 mental da criança e que os médicos deveriam trabalhar para educar os pais sobre essa necessidade.

No artigo, os pesquisadores contextualizam que problemas de sono e sintomas1 de psicopatologia são altamente comórbidos e bidirecionalmente correlacionados na infância e adolescência. Ainda não está claro se essas associações são específicas para perfis distintos de problemas de sono e fenômenos de internalização e externalização específicos.

O objetivo do estudo, portanto, foi caracterizar alterações individuais nos perfis de problemas de sono e suas associações prospectivas com sintomas1 psicopatológicos ao longo da transição da infância para a adolescência.

Este estudo de coorte2 observacional usou dados de linha de base (idade do participante de 9 a 11 anos) e dados de acompanhamento de 2 anos (idade do participante de 11 a 13 anos) do estudo multicêntrico, baseado na comunidade, Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD).

Os indivíduos foram avaliados quanto a uma variedade de problemas de sono em ambas as ondas e categorizados em perfis por meio da análise de perfil latente. A estabilidade e a mudança desses perfis ao longo do tempo foram avaliadas por meio da análise de transição latente.

Os modelos de regressão logística examinaram se os sintomas1 de psicopatologia foram associados transversalmente com a adesão ao perfil e se as transições entre os perfis foram associadas a mudanças nos sintomas1 de psicopatologia ao longo do tempo.

Os dados foram coletados de setembro de 2016 a janeiro de 2020 e foram analisados de agosto de 2021 a julho de 2022.

Os problemas do sono foram avaliados no início e no acompanhamento por meio da Escala de Distúrbios do Sono em Crianças (EDSC) relatada pelos pais.

Os sintomas1 de psicopatologia na linha de base e no acompanhamento foram avaliados usando os escores das dimensões internalizantes e externalizantes derivados da Lista de Verificação do Comportamento Infantil relatada pelos pais.

Um total de 10.313 indivíduos (4.913 [47,6%] eram do sexo feminino) foram categorizados em 4 perfis latentes de problemas de sono tanto no início quanto no acompanhamento: um perfil de baixo distúrbio, um perfil de problemas de início/manutenção do sono, um perfil de distúrbio moderado e inespecífico (denominado distúrbio misto) e um perfil de alto distúrbio.

Indivíduos nos 3 perfis de problemas mais graves apresentaram maior risco de sintomas1 internalizantes concomitantes (problemas de início/manutenção do sono: odds ratio [OR], 1,30; IC 95%, 1,25-1,35; P <0,001; distúrbio misto: OR, 1,29; IC 95%, 1,25-1,33; P <0,001; alto distúrbio: OR, 1,44; IC 95%, 1,40-1,49; P <0,001) e sintomas1 externalizantes concomitantes (problemas de início/manutenção do sono: OR, 1,20; IC 95%, 1,16-1,23; P <0,001; distúrbio misto: OR, 1,17; IC 95%, 1,14-1,20; P <0,001; alto distúrbio: OR, 1,24; IC 95%, 1,21-1,28; P <0,001).

As transições entre os perfis de sono ao longo do tempo foram associadas a sintomas1 prospectivos de internalização e externalização, mas não vice-versa.

O estudo concluiu que perfis individualizados de problemas de sono foram concomitante e prospectivamente associados a sintomas1 psicopatológicos tanto no final da infância quanto no início da adolescência. Enquanto os sintomas1 de psicopatologia no final da infância não foram associados a trajetórias de problemas de sono ao longo do tempo, as trajetórias de problemas de sono foram associadas a sintomas1 de psicopatologia no início da adolescência.

Dessa forma, há mudanças substanciais nos problemas de sono durante a transição para a adolescência que estão associadas a sintomas1 posteriores de internalização e externalização. Os perfis de sono podem ser um alvo em futuros programas de intervenção e tratamento para melhorar os resultados relacionados ao sono e à saúde3 mental ao longo do desenvolvimento.

Veja também sobre "Ansiedade infantil", "Transtorno de oposição desafiante", "Transtorno de conduta" e "Transtornos afetivos".

 

Fontes:
JAMA Psychiatry, publicação em 05 de abril de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 05 de abril de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Problemas de sono da infância até a adolescência estão ligados a pior saúde mental. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1436805/problemas-de-sono-da-infancia-ate-a-adolescencia-estao-ligados-a-pior-saude-mental.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
2 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
3 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
4 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
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