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Mais de 50% dos pacientes com COVID-19 grave desenvolvem danos cardíacos subsequentes

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Um estudo recente está soando o alarme sobre o potencial de danos ao coração1 como resultado de contrair a doença do coronavírus 2019 (COVID-19).

Uma análise dos dados de ressonância magnética2 de mais de 140 pacientes que receberam alta de hospitais de cuidados agudos foi publicada no European Heart Journal. Os resultados indicam que cerca de metade dos pacientes hospitalizados com COVID-19 grave com níveis elevados de troponina pareceram sofrer de problemas cardiovasculares subsequentes nos meses seguintes, com infarto3, miocardite4, isquemia5, e combinações de todos os 3 aparecendo nessa população de pacientes.

“É importante ressaltar que o padrão de dano ao coração1 foi variável, sugerindo que o coração1 está em risco de diferentes tipos de lesão”, disse Marianna Fontana, MD, investigadora principal e professora de cardiologia da University College London, em um comunicado. “Embora tenhamos detectado apenas uma pequena quantidade de lesão6 em andamento, vimos lesão6 no coração1 que estava presente mesmo quando a função de bombeamento do coração1 não estava prejudicada e pode não ter sido detectada por outras técnicas. Nos casos mais graves, há preocupações de que essa lesão6 possa aumentar os riscos de insuficiência cardíaca7 no futuro, mas é necessário mais trabalho para investigar isso mais a fundo.”

Leia sobre "Lesão6 cardíaca associada à mortalidade8 em pacientes com COVID-19" e "Doenças cardiovasculares9".

A elevação da troponina é comum em pacientes com COVID-19 hospitalizados, mas as etiologias subjacentes são mal definidas. No estudo, utilizou-se ressonância magnética2 cardiovascular (RMC) multi-paramétrica para avaliar a lesão6 miocárdica em pacientes recuperados da COVID-19.

Cento e quarenta e oito pacientes (64 ± 12 anos, 70% do sexo masculino) com infecção10 COVID-19 grave [todos exigindo admissão hospitalar, 48 (32%) exigindo suporte ventilatório] e elevação de troponina que receberam alta de seis hospitais foram submetidos à RMC convalescente (incluindo perfusão de estresse de adenosina, se indicado) na média de 68 dias.

A função ventricular esquerda (VE) era normal em 89% (fração de ejeção 67% ± 11%). Aumento tardio de gadolínio e/ou isquemia5 foi encontrado em 54% (80/148). Isso compreendia cicatriz11 semelhante à miocardite4 em 26% (39/148), infarto3 e/ou isquemia5 em 22% (32/148) e patologia12 dupla em 6% (9/148).

A lesão6 semelhante à miocardite4 foi limitada a três ou menos segmentos do miocárdio13 em 88% (35/40) dos casos sem disfunção do VE associada; destes, 30% tinham miocardite4 ativa.

O infarto do miocárdio14 foi encontrado em 19% (28/148) e isquemia5 induzível em 26% (20/76) daqueles submetidos a perfusão de estresse (incluindo 7 com ambos infarto3 e isquemia5).

Dos pacientes com padrão de lesão6 isquêmica, 66% (27/41) não tinham história pregressa de doença coronariana15. Não houve evidência de fibrose16 difusa ou edema17 no miocárdio13 remoto (T1: pacientes com COVID-19 1033 ± 41 ms vs. controles combinados 1028 ± 35 ms; T2: COVID-19 46 ± 3 ms vs. controles combinados 47 ± 3 ms).

Concluiu-se, assim, que durante a convalescença após infecção10 grave por COVID-19 com elevação da troponina, lesão6 semelhante à miocardite4 pode ser encontrada, com extensão limitada e consequências funcionais mínimas. Em uma proporção de pacientes, há evidências de possível inflamação18 localizada contínua. Um quarto dos pacientes tinha cardiopatia isquêmica19, dos quais dois terços não tinham história prévia.

Se esses achados observados representam doença clinicamente silenciosa pré-existente ou alterações novas relacionadas à COVID-19 permanece indeterminado. Edema17 difuso ou fibrose16 não foram detectados.

“Essas descobertas nos dão duas oportunidades: em primeiro lugar, encontrar maneiras de prevenir a lesão6 e, a partir de alguns dos padrões que vimos, a coagulação20 do sangue21 pode estar desempenhando um papel, para o qual temos tratamentos potenciais. Em segundo lugar, detectar as consequências de lesões22 durante a convalescença pode identificar indivíduos que se beneficiariam de tratamentos com medicamentos de apoio específicos para proteger a função cardíaca ao longo do tempo”, acrescentou Fontana.

Veja também sobre "Infarto do miocárdio14", "Acidente Vascular Cerebral23", "Miocardite4" e "Insuficiência cardíaca congestiva24".

 

Fontes:
European Heart Journal, publicação em 18 de fevereiro de 2021.
Practical Cardiology, notícia publicada em 18 de fevereiro de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Mais de 50% dos pacientes com COVID-19 grave desenvolvem danos cardíacos subsequentes. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1389185/mais-de-50-dos-pacientes-com-covid-19-grave-desenvolvem-danos-cardiacos-subsequentes.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
2 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
3 Infarto: Morte de um tecido por irrigação sangüínea insuficiente. O exemplo mais conhecido é o infarto do miocárdio, no qual se produz a obstrução das artérias coronárias com conseqüente lesão irreversível do músculo cardíaco.
4 Miocardite: 1. Inflamação das paredes musculares do coração. 2. Infecção do miocárdio causada por bactéria, vírus ou outros microrganismos.
5 Isquemia: Insuficiência absoluta ou relativa de aporte sanguíneo a um ou vários tecidos. Suas manifestações dependem do tecido comprometido, sendo a mais frequente a isquemia cardíaca, capaz de produzir infartos, isquemia cerebral, produtora de acidentes vasculares cerebrais, etc.
6 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
7 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
8 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
9 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
10 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
11 Cicatriz: Formação de um novo tecido durante o processo de cicatrização de um ferimento.
12 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
13 Miocárdio: Tecido muscular do CORAÇÃO. Composto de células musculares estriadas e involuntárias (MIÓCITOS CARDÍACOS) conectadas, que formam a bomba contrátil geradora do fluxo sangüíneo. Sinônimos: Músculo Cardíaco; Músculo do Coração
14 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
15 Doença coronariana: Doença do coração causada por estreitamento das artérias que fornecem sangue ao coração. Se o fluxo é cortado, o resultado é um ataque cardíaco.
16 Fibrose: 1. Aumento das fibras de um tecido. 2. Formação ou desenvolvimento de tecido conjuntivo em determinado órgão ou tecido como parte de um processo de cicatrização ou de degenerescência fibroide.
17 Edema: 1. Inchaço causado pelo excesso de fluidos no organismo. 2. Acúmulo anormal de líquido nos tecidos do organismo, especialmente no tecido conjuntivo.
18 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
19 Cardiopatia isquêmica: Doença ocasionada por um déficit na circulação nas artérias coronarianas e outros defeitos capazes de afetar o aporte sangüíneo para o músculo cardíaco.É evidenciada por dor no peito, arritmias, morte súbita ou insuficiência cardíaca.
20 Coagulação: Ato ou efeito de coagular(-se), passando do estado líquido ao sólido.
21 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
22 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
23 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
24 Insuficiência Cardíaca Congestiva: É uma incapacidade do coração para efetuar as suas funções de forma adequada como conseqüência de enfermidades do próprio coração ou de outros órgãos. O músculo cardíaco vai diminuindo sua força para bombear o sangue para todo o organismo.
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