A maturação do microbioma intestinal durante o primeiro ano de vida contribui para o efeito fazenda protetor sobre a asma infantil
Muitas doenças em adultos se originam no início da vida. No período pré-natal, as influências ambientais que afetam o desenvolvimento da doença são filtradas pela mãe. Após o nascimento, entretanto, o bebê interage diretamente com o meio ambiente, começando com a colonização das superfícies corporais pela microbiota1 nas primeiras horas de vida. Este processo consiste na adaptação mútua entre o hospedeiro e a microbiota1 e, em última análise, educa o sistema imunológico2 do hospedeiro.
Estudos em camundongos gnotobióticos sustentam um papel essencial para a exposição microbiana no desenvolvimento do sistema imunológico2. A relação inversa entre exposição microbiana e doenças imunomediadas, como alergias e asma3, é a base para a hipótese da higiene4 e suas emendas que explicam a epidemia de doenças inflamatórias em um mundo que abandonou estilos de vida tradicionais.
Um mecanismo proposto pelo qual um estilo de vida tradicional pode conceder fortes efeitos protetores contra a asma3 envolve a exposição microbiana sustentada em fazendas. Crescer em uma fazenda está associado a um efeito protetor da asma3, e este efeito protetor foi atribuído principalmente ao consumo de leite de fazenda e exposição a uma variedade de microbiota1 ambiental em galpões de animais, mas os mecanismos subjacentes a esse efeito são amplamente desconhecidos.
Nesse estudo publicado na revista Nature Medicine, na coorte5 de nascimentos de Proteção contra Alergia6: Estudo em Ambientes Rurais (PASTURE, sigla em inglês para Protection against Allergy: Study in Rural Environments), pesquisadores modelaram a maturação usando dados de sequência de rRNA 16S do microbioma7 intestinal humano em bebês8 de 2 a 12 meses de idade.
A idade estimada do microbioma7 (IEM) em bebês8 de 12 meses foi associada à exposição anterior à fazenda (β = 0,27 (0,12–0,43), P = 0,001, n = 618) e redução do risco de asma3 em idade escolar (odds ratio (OR) = 0,72 (0,56–0,93), P = 0,011). A IEM mediou o efeito fazenda protetor em 19%.
Em uma amostra de caso-controle aninhada (n = 138), foram encontradas associações inversas de asma3 com o nível medido de butirato fecal (OR = 0,28 (0,09-0,91), P = 0,034), taxa bacteriana que prediz a produção de butirato (OR = 0,38 (0,17–0,84), P = 0,017) e a abundância relativa do gene que codifica a butiril-coenzima A (CoA): acetato-CoA-transferase, uma enzima9 importante no metabolismo10 do butirato (OR = 0,43 (0,19-0,97), P = 0,042).
O estudo demonstrou que o microbioma7 intestinal pode contribuir para a proteção contra asma3 por meio de metabólitos11, apoiando o conceito de um eixo intestino-pulmão12 em humanos.
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Fonte: Nature Medicine, publicação em 02 de novembro de 2020.