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O uso de metformina está associado à redução da mortalidade em uma população diversa com COVID-19 e diabetes

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A doença por coronavírus-2019 (COVID-19) é uma pandemia1 com um número crescente de mortes que têm sido associadas a várias comorbidades2, bem como disparidade racial. No entanto, as características específicas dessas populações de risco ainda não são conhecidas e faltam abordagens para reduzir a mortalidade3.

O diabetes mellitus4 tipo 2 (DM2) está associado a resultados clínicos piores durante a COVID-19 e a um risco aumentado de morte em tais pacientes hospitalizados. Embora o papel do controle da glicose5 tenha sido enfatizado para melhorar o prognóstico6, o impacto dos diferentes agentes redutores da glicose5 permanece amplamente desconhecido.

A metformina7 continua sendo a escolha farmacológica de primeira linha para o tratamento da hiperglicemia8 no DM2. Como a metformina7 exerce vários efeitos além de sua ação redutora de glicose5, entre os quais estão os efeitos anti-inflamatórios, pode-se especular que esta biguanida possa influenciar positivamente o prognóstico6 de pacientes com DM2 hospitalizados por COVID-19.

Saiba mais sobre "Diabetes mellitus4" e "Características e prognóstico6 de pacientes com diabetes9 e COVID-19".

Uma revisão concisa, publicada no jornal Diabetes9 & Metabolism, resumiu os dados disponíveis de estudos retrospectivos observacionais que mostraram uma redução na mortalidade3 em usuários de metformina7 em comparação com não usuários, e discutiu brevemente os potenciais mecanismos subjacentes que talvez possam explicar esse impacto favorável.

Tomados em conjunto, os quatro estudos observacionais revisados mostraram que a metformina7 teve um efeito positivo, com uma redução geral de 25% na mortalidade3 (P <0,00001), embora com heterogeneidade relativamente alta (I² = 61%).

No entanto, dados os potenciais fatores de confusão inerentemente encontrados em estudos observacionais, é necessário cautela antes de tirar quaisquer conclusões firmes na ausência de ensaios clínicos10 randomizados.

Em outro estudo recente publicado online na plataforma medRxiv, ainda não revisado por pares, foi realizada uma análise retrospectiva de dados eletrônicos de saúde11 de 25.326 indivíduos testados para COVID-19 entre 25/02/20 e 22/06/20 na University of Alabama at Birmingham Hospital, um centro de saúde11 terciário na região racialmente diversa do sul dos Estados Unidos. O desfecho primário foi mortalidade3 em indivíduos positivos para COVID-19 e a associação com as características dos indivíduos e comorbidades2 foi analisada por meio de regressão logística linear simples e múltipla.

A razão de chances de contrair COVID-19 foi desproporcionalmente alta em negros / afro-americanos (OR 2,6; IC 95% 2,19-3,10; p <0,0001) e em indivíduos com obesidade12 (OR 1,93; IC 95% 1,64-2,28; p <0,0001), hipertensão arterial13 (OR 2,46; IC 95% 2,07-2,93; p <0,0001) e diabetes9 (OR 2,11; IC 95% 1,78-2,48; p <0,0001).

O diabetes9 também foi associado a um aumento dramático na mortalidade3 (OR 3,62; IC 95% 2,11-6,2; p <0,0001) e emergiu como um fator de risco14 independente nesta população diversa, mesmo após correção para idade, raça, sexo, obesidade12 e hipertensão15.

Curiosamente, descobriu-se que o tratamento com metformina7 foi independentemente associado a uma redução significativa na mortalidade3 em indivíduos com diabetes9 e COVID-19 (OR 0,33; IC 95% 0,13-0,84; p = 0,0210).

Assim, esses resultados sugerem que, embora o diabetes9 seja um fator de risco14 independente para mortalidade3 relacionada à COVID-19, esse risco é drasticamente reduzido em indivíduos que tomam metformina7, aumentando a possibilidade de que a metformina7 pode fornecer uma abordagem protetora nesta população de alto risco.

Leia sobre "COVID-19 em diabéticos - razões para piores resultados" e "Mecanismos pelos quais a obesidade12 é fator de risco14 COVID-19 grave".

 

Fontes:
Diabetes9 & Metabolism, publicação em 01 de agosto de 2020.
medRxiv, publicação em 31 de julho de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. O uso de metformina está associado à redução da mortalidade em uma população diversa com COVID-19 e diabetes. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1378313/o-uso-de-metformina-esta-associado-a-reducao-da-mortalidade-em-uma-populacao-diversa-com-covid-19-e-diabetes.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.

Complementos

1 Pandemia: É uma epidemia de doença infecciosa que se espalha por um ou mais continentes ou por todo o mundo, causando inúmeras mortes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a pandemia pode se iniciar com o aparecimento de uma nova doença na população, quando o agente infecta os humanos, causando doença séria ou quando o agente dissemina facilmente e sustentavelmente entre humanos. Epidemia global.
2 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
3 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
4 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
5 Glicose: Uma das formas mais simples de açúcar.
6 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
7 Metformina: Medicamento para uso oral no tratamento do diabetes tipo 2. Reduz a glicemia por reduzir a quantidade de glicose produzida pelo fígado e ajudando o corpo a responder melhor à insulina produzida pelo pâncreas. Pertence à classe das biguanidas.
8 Hiperglicemia: Excesso de glicose no sangue. Hiperglicemia de jejum é o nível de glicose acima dos níveis considerados normais após jejum de 8 horas. Hiperglicemia pós-prandial acima de níveis considerados normais após 1 ou 2 horas após alimentação.
9 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
10 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
11 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
12 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
13 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
14 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
15 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
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