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História natural da infecção assintomática por SARS-CoV-2

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As informações sobre a história natural da infecção1 assintomática com coronavírus 2 da síndrome2 respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) permanecem escassas. O surto da doença do coronavírus 2019 (Covid-19) no navio de cruzeiro Diamond Princess levou a 712 pessoas sendo infectados com SARS-CoV-2 entre os 3.711 passageiros e tripulantes, e 410 (58%) dessas pessoas infectadas eram assintomáticas no momento do teste.

Nessa correspondência publicada pelo NEJM, pesquisadores relatam a história natural da infecção1 assintomática por SARS-CoV-2 em parte dessa coorte3.

Um total de 96 pessoas infectadas com SARS-CoV-2 que eram assintomáticas no momento do teste, juntamente com seus 32 companheiros de cabine que tiveram resultado negativo no navio, foram transferidos do Diamond Princess para um hospital no centro do Japão entre 19 e 26 de fevereiro para observação contínua.

Os sinais4 e sintomas5 clínicos da Covid-19 desenvolveram-se subsequentemente em 11 dessas 96 pessoas, em uma média de 4 dias (intervalo interquartil, 3 a 5; intervalo, 3 a 7) após o primeiro teste positivo de reação em cadeia da polimerase (PCR6), o que significava que eles eram pré-sintomáticos e não assintomáticos. O risco de ser pré-sintomático7 aumentou com o aumento da idade (odds ratio de ser pré-sintomático7 a cada aumento de 1 ano em idade, 1,08; intervalo de confiança [IC] de 95%, 1,01 a 1,16).

Oito de 32 companheiros de cabine com um teste de PCR6 negativo no navio tiveram um teste de PCR6 positivo dentro de 72 horas após a chegada ao hospital, mas permaneceram assintomáticos.

No total, os dados de 90 pessoas com infecção1 por SARS-CoV-2 assintomática, definidas como pessoas que eram assintomáticas no momento do teste de PCR6 positivo e permaneceram até a resolução da infecção1 (conforme determinado por dois testes de PCR6 negativos consecutivos), estavam disponíveis para análise.

O grupo de pessoas com infecção1 assintomática por SARS-CoV-2 consistiu em 58 passageiros e 32 membros da tripulação, com idade média de 59,5 anos (intervalo interquartil de 36 a 68; intervalo de 9 a 77). Um total de 24 dessas pessoas (27%) tinha condições médicas coexistentes, incluindo hipertensão8 (em 20%) e diabetes9 (9%).

O primeiro teste de PCR6 no hospital foi realizado em média 6 dias após o teste de PCR6 positivo inicial no navio. O número médio de dias entre o primeiro teste de PCR6 positivo (no navio ou no hospital) e o primeiro dos dois testes de PCR6 negativos em série foi de 9 dias (intervalo interquartil de 6 a 11; intervalo de 3 a 21) e as porcentagens cumulativas de pessoas com resolução de infecção1 8 e 15 dias após o primeiro teste positivo de PCR6 foram de 48% e 90%, respectivamente. O risco de resolução tardia da infecção1 aumentou com o aumento da idade (atraso médio na resolução para um aumento na idade de 36 para 68 anos, 4,41 dias; IC 95%, 2,28 a 6,53).

Nesta coorte3, a maioria das pessoas infectadas assintomáticas permaneceu assintomática durante o curso da infecção1. O tempo para a resolução da infecção1 aumentou com o aumento da idade.

Leia sobre "Testes da COVID-19", "Quem é mais mais provável de ser infectado pelo SARS-CoV-2" e "Dinâmica temporal na excreção viral e transmissibilidade da COVID-19".

 

Fonte: NEJM, publicação em 12 de junho de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. História natural da infecção assintomática por SARS-CoV-2. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1370953/historia-natural-da-infeccao-assintomatica-por-sars-cov-2.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.

Complementos

1 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
2 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
3 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
4 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
5 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
6 PCR: Reação em cadeia da polimerase (em inglês Polymerase Chain Reaction - PCR) é um método de amplificação de DNA (ácido desoxirribonucleico).
7 Sintomático: 1. Relativo a ou que constitui sintoma. 2. Que é efeito de alguma doença. 3. Por extensão de sentido, é o que indica um particular estado de coisas, de espírito; revelador, significativo.
8 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
9 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
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