Sobrepeso e obesidade estão associados ao maior risco de desenvolver vários tipos de câncer: estudo de coorte com 5,24 milhões de adultos do Reino Unido
O alto índice de massa corporal1 (IMC2) predispõe a vários tipos de câncer3 em locais específicos, mas uma caracterização sistemática e detalhada, em larga escala, dos padrões de risco para todos esses cânceres comuns, com ajustes para potenciais fatores de confusão, não tinha sido previamente realizada. O objetivo do estudo, publicado pelo The Lancet, foi investigar as relações entre o IMC2 e os cânceres de locais específicos mais comuns.
A Clinical Research Practice Datalink usou dados de cuidados primários do IMC2 de indivíduos do Reino Unido e modelos de Cox para investigar a associação entre o IMC2 e vinte e dois dos cânceres mais comuns, ajustando os possíveis fatores de confusão, tais como sexo, status da menopausa4, tabagismo e idade, calculando os efeitos na população.
5,24 milhões de pessoas foram incluídas; 166.955 desenvolveram cânceres de interesse para o estudo. O IMC2 foi associado a dezessete de vinte e dois tipos de tumores malignos, mas os efeitos variaram substancialmente pelo local acometido. Cada aumento de 5 kg/m² no IMC2 foi aproximadamente e linearmente associado ao câncer3 de útero5, vesícula biliar6, rins7, colo do útero8, tireoide9 e leucemia10. O IMC2 foi positivamente associado ao câncer3 de fígado11, cólon12, ovário13 e câncer3 de mama14 na pós-menopausa4 em geral (todos com p<0,0001), mas esses efeitos variaram com o IMC2 e com características individuais subjacentes. Associações inversas foram estimadas com o risco de câncer3 de próstata15 e de câncer3 de mama14 na pré-menopausa4, ambos em termos globais, e nos não-fumantes. Por outro lado, para os tumores malignos de pulmão16 e o câncer3 da cavidade oral17, não foram observadas associações em não fumantes: associações inversas em geral foram impulsionadas por fumantes e ex-fumantes, provavelmente por causa da confusão residual pela quantidade de cigarros fumados. Supondo causalidade, 41% dos tumores malignos uterinos e 10% ou mais dos cânceres de vesícula18, rim19, fígado11 e do cólon12 podem ser atribuídos ao excesso de peso. Estimou-se que um aumento de 1 kg/m² no IMC2 de toda a população resultaria em 3.790 pacientes adicionais, no Reino Unido, desenvolvendo anualmente um de dez tipos de câncer3 associados positivamente ao IMC2.
As interpretações dos resultados levaram a concluir que o IMC2 está associado ao risco de câncer3, com efeitos substanciais a nível populacional. A heterogeneidade dos efeitos sugere que mecanismos distintos estão associados ao risco para tumores malignos em diferentes locais e a variados subgrupos de pacientes.
Fonte: The Lancet, publicação online, de 14 de agosto de 2014