Infarto do miocárdio e lesão miocárdica têm definições distintas publicadas pelo documento Fourth Universal Definition of Myocardial Infarction (2018)
O documento Fourth Universal Definition of Myocardial Infarction (2018) foi publicado simultaneamente pela European Society of Cardiology (ESC), American College of Cardiology (ACC), American Heart Association (AHA) e World Heart Federation (WHF), atualizando de forma importante a definição anterior, de 2012, de infarto do miocárdio1 e de lesão2 miocárdica.
As mudanças publicadas pelo documento merecem a atenção dos clínicos envolvidos no cuidado de pacientes com infarto3 agudo4 do miocárdio5 e o número cada vez maior de indivíduos que apresentam elevação dos níveis da troponina sanguínea, mas não tiveram infarto do miocárdio1. O documento está sendo apresentado no congresso da ESC 2018 e diferencia claramente o infarto do miocárdio1 da lesão2 miocárdica.
Nesta nova definição, pacientes com altos níveis séricos de troponina, mas sem quadro clínico de isquemia6, são classificados como apresentando "lesão2 miocárdica". Já o diagnóstico7 do "infarto do miocárdio1" ainda depende da presença de um teste sanguíneo de troponina elevado, juntamente com evidência clínica de isquemia6 (por exemplo, padrões isquêmicos no eletrocardiograma8).
O uso da troponina, especialmente da troponina de alta sensibilidade, permite detectar melhor minúsculas lesões9 nas células10 do músculo cardíaco11.
Saiba mais sobre "Infarto do miocárdio1" e "Eletrocardiograma8".
A nova definição universal de infarto do miocárdio1 atualizou também:
- As descrições dos cinco subtipos do infarto do miocárdio1, oferecendo a oportunidade de colocar estes diferentes tipos de infarto do miocárdio1 nos códigos da CID-10. É de interesse considerável que todos os cinco subtipos de infarto do miocárdio1 e lesão2 miocárdica não isquêmica tenham códigos na 10ª Revisão Internacional de Classificação de Doenças (CID-10) para fins de faturamento e para fins de estudos epidemiológicos.
- O papel cada vez mais valioso dos exames complementares de imagem.
- A ênfase na diferenciação entre a lesão2 do miocárdio5, o aumento da troponina por causas variadas e o infarto do miocárdio1, de acordo com evidências definitivas das doenças subjacentes e dos exames clínicos e complementares.
Tipo 1: é o resultado de uma fissura12 erosão ou ruptura na placa13 aterosclerótica, com trombose14 arterial coronariana subsequente. Pacientes com infarto do miocárdio1 tipo 1 podem ter uma elevação do segmento ST ou um infarto do miocárdio1 sem supradesnivelamento do segmento ST e geralmente são tratados com medicação e implante15 de stent na lesão2 da artéria16 coronária.
Tipo 2: decorrente de isquemia6 (privação de oxigênio) sem erosão, fissura12 ou ruptura da placa13 aterosclerótica. Há um desequilíbrio na oferta e demanda de oxigênio do miocárdio5, como pode ocorrer em um paciente com hipotensão17 (oferta reduzida) ou taquiarritmia18 (demanda aumentada).
Tipo 3: apresentação clássica de infarto do miocárdio1, como com um típico ECG com supradesnivelamento do segmento ST, mas não foi realizado um exame de sangue19 com troponina sérica. Esta é uma situação incomum em países economicamente favorecidos.
Tipo 4: ocorre no contexto de uma intervenção coronária percutânea no laboratório de cateterismo20, geralmente como resultado de uma complicação do procedimento que está sendo realizado.
Tipo 5: o tipo 5 é comparável ao tipo 4, mas ocorre no momento da cirurgia de revascularização miocárdica.
Pacientes com elevação dos níveis de troponina sanguínea, mas sem evidência clínica de isquemia6, são considerados como tendo uma “lesão miocárdica”. Lesões9 agudas do miocárdio5 (por exemplo, de trauma esternal) estão associadas a um padrão crescente e decrescente de elevação da troponina quando o teste seriado é realizado. Este é um padrão similar ao que é visto nos tipos 1, 2, 4 e 5 do infarto do miocárdio1.
Todos os pacientes com um nível elevado de troponina no sangue19 são ditos ter uma forma de lesão2 do miocárdio5, mas apenas pacientes com lesão2 miocárdica e evidência clínica de isquemia6 são ditos ter infarto do miocárdio1.
O novo documento discute longamente as várias formas de lesão2 miocárdica não isquêmica. Por exemplo, um paciente diabético jovem com sepse21 por bactéria22 Gram-negativa, mas sem hipotensão17 ou taquicardia23 acentuada, mas com um nível elevado de troponina sanguínea, seria chamado de paciente com lesão2 miocárdica que provavelmente ocorreu devido a danos às células10 miocárdicas secundárias a níveis aumentados de catecolaminas circulantes e citocinas24. Outra forma de lesão2 miocárdica ocorre em pacientes com miocardite25 ou com necrose26 miocárdica induzida por quimioterapia27.
É importante saber que um paciente pode ter lesão2 miocárdica e liberação de troponina, detectável pelos testes de alta sensibilidade de dosagem da troponina, se houver doença renal28 (insuficiência renal29 avançada), insuficiência cardíaca30 grave ou mesmo se for atleta (por exemplo, um corredor), o que "certamente não configura infarto do miocárdio1". Outros quadros que podem causar lesão2 miocárdica e aumento da troponina são infecção31, sepse21 e cirurgia cardíaca.
No entanto, os médicos não devem ignorar a lesão2 do miocárdio5, pois muitos estudos mostram que o prognóstico32 para pacientes33 com doença grave e lesão2 miocárdica concomitante sem isquemia6 é pior do que para um paciente idêntico com um valor normal de troponina no sangue19.
Leia sobre "Septicemia34", "Miocardite25", "Quimioterapia27", "Insuficiência renal29" e "Insuficiência cardíaca30".
O documento completo pode ser consultado em:
European Society of Cardiology
Circulation
European Heart Journal.