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Terapia única de edição genética pode reduzir o colesterol permanentemente

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As perspectivas para um tratamento único que reduza o risco de doenças cardíacas para o resto da vida de uma pessoa ficaram mais promissoras. Em um estudo em estágio inicial, uma única dose de uma terapia de edição genética CRISPR reduziu os níveis de colesterol1 sem quaisquer efeitos colaterais2 graves, possivelmente de forma permanente.

O VERVE-102, uma terapia de edição genética que desativa permanentemente o gene PCSK9 no fígado3 e limita a produção de colesterol1 LDL4, está se mostrando promissor no estudo Heart-2 de fase Ib, anunciou a fabricante Verve Therapeutics. O estudo está avaliando pacientes com hipercolesterolemia5 familiar heterozigótica e/ou doença arterial coronariana prematura, duas populações que necessitam de reduções profundas e duradouras dos níveis de colesterol1 de lipoproteína de baixa densidade (LDL4-C) no sangue6.

Os resultados mais recentes seguem as descobertas do estudo Heart-1 com o VERVE-101, uma iteração7 anterior da terapia que a empresa suspendeu em abril de 2024, após um participante do estudo desenvolver enzimas hepáticas8 elevadas e baixos níveis de plaquetas9. Acredita-se que os efeitos colaterais2 estejam relacionados ao revestimento de nanopartículas lipídicas (NPL) da terapia.

Tanto o VERVE-101 quanto o VERVE-102 são medicamentos de edição genética CRISPR que atuam por meio de uma única alteração de par de bases de DNA para inativar o gene PCSK9 no fígado3, com o objetivo de reduzir o colesterol1 LDL4. De acordo com a Verve Therapeutics, o novo produto utiliza um revestimento de NPL que incorpora a molécula de açúcar10 GalNAc, ou N-acetilgalactosamina. Essa característica permite o acesso às células11 hepáticas12 por meio de receptores de asialoglicoproteína ou receptores de LDL4.

Saiba mais sobre "Colesterol1 do organismo" e "Edição genética - o que é e para o que serve".

Os novos dados do Heart-2 mostram que uma única infusão de VERVE-102 levou a reduções dose-dependentes nos níveis sanguíneos de PCSK9 e LDL4 em 14 pacientes com hipercolesterolemia5 familiar heterozigótica e/ou doença arterial coronariana prematura com pelo menos 28 dias de acompanhamento. O estudo incluiu três coortes com base no peso, que receberam doses de 0,3, 0,45 e 0,6 mg/kg.

As reduções médias de LDL4-C e proteína PCSK9 em relação ao valor basal, utilizando uma variação percentual média temporal do dia 28 até o último acompanhamento disponível, foram as seguintes:

  • Coorte13 1; 0,3 mg/kg (n = 4): a redução de LDL4-C foi de 21% e a redução de PCSK9 foi de 46%.
  • Coorte13 2; 0,45 mg/kg (n = 6): a redução de LDL4-C foi de 41% e a redução de PCSK9 foi de 53%.
  • Coorte13 3; 0,6 mg/kg (n = 4): a redução do LDL4-C foi de 53% e a redução da PCSK9 foi de 60%.

Entre os 14 participantes, uma redução máxima de LDL4-C de 69% foi alcançada em um participante da coorte13 de 0,6 mg/kg.

Para medicamentos de edição genética in vivo administrados por NPL, a dose total de RNA administrada está emergindo como um fator-chave para a farmacodinâmica. Assim, a Verve também avaliou os dados de farmacodinâmica do Heart-2 pela dose total de RNA. A análise inclui os 14 participantes do ensaio clínico agrupados em três faixas de dose total de RNA administrada: <25 mg (n = 4), 25 a <50 mg (n = 7) e 50 a <60 mg (n = 3).

Em todos os 14 participantes, o VERVE-102 demonstrou uma forte resposta dose-dependente entre a quantidade de RNA total administrada e as reduções de LDL4-C. Três participantes receberam uma dose de RNA total entre 50 e 60 mg, com uma dose média de 55 mg de RNA total. Neste grupo de dose, o VERVE-102 demonstrou uma redução média de LDL4-C ao longo do tempo de 59%. Cada um dos três participantes que receberam uma dose ≥50 mg obteve uma redução média de LDL4-C ao longo do tempo >50% em relação ao valor basal.

Além disso, a Verve Therapeutics afirmou que a terapia foi bem tolerada: não houve eventos adversos graves relacionados ao tratamento, toxicidades limitantes da dose ou eventos cardiovasculares. Um paciente apresentou uma reação relacionada à infusão (grau 2) que foi resolvida com paracetamol. Também não houve alterações clinicamente significativas ou tendências dose-dependentes na alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase, bilirrubina14 ou plaquetas9.

Em um comunicado à imprensa, Eugene Braunwald, MD (Brigham and Women's Hospital, Boston, MA, EUA), que atua no conselho científico da empresa, destaca o potencial de uma única dose para benefícios ao longo da vida. “Com os tratamentos existentes, aproximadamente metade dos pacientes interrompe a terapia hipolipemiante prescrita em até 1 ano, resultando em um controle inadequado do LDL4-C no mundo real”, comenta. “O VERVE-102 é uma grande promessa para transformar o tratamento da doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA) e migrar esse tratamento de comprimidos diários ou injeções intermitentes15 ao longo de décadas para um futuro de dose única para redução sustentada do LDL4-C.”

A Verve Therapeutics planeja divulgar os dados finais de escalonamento de dose do Heart-2 no segundo semestre de 2025 e, em breve, inscrever o primeiro paciente em seu ensaio clínico de fase II, conduzido no Reino Unido, Canadá, Israel, Austrália e Nova Zelândia. A empresa também está trabalhando em diversas outras terapias genéticas. Entre elas, a VERVE-201, que tem como alvo o gene ANGPTL3, que eleva os níveis de LDL4 e triglicerídeos, e a VERVE-301, que tem como alvo o gene LPA, que afeta a produção de Lp(a).

Leia sobre "Dislipidemia - informações necessárias", "Hipercolesterolemia5 familiar" e "Doenças cardiovasculares16".

 

Fontes:
Verve Therapeutics, comunicado publicado em 14 de abril de 2025.
TCTMD, notícia publicada em 14 de abril de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Terapia única de edição genética pode reduzir o colesterol permanentemente. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/pharma-news/1490395/terapia-unica-de-edicao-genetica-pode-reduzir-o-colesterol-permanentemente.htm>. Acesso em: 4 jun. 2025.

Complementos

1 Colesterol: Tipo de gordura produzida pelo fígado e encontrada no sangue, músculos, fígado e outros tecidos. O colesterol é usado pelo corpo para a produção de hormônios esteróides (testosterona, estrógeno, cortisol e progesterona). O excesso de colesterol pode causar depósito de gordura nos vasos sangüíneos. Seus componentes são: HDL-Colesterol: tem efeito protetor para as artérias, é considerado o bom colesterol. LDL-Colesterol: relacionado às doenças cardiovasculares, é o mau colesterol. VLDL-Colesterol: representa os triglicérides (um quinto destes).
2 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
3 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
4 LDL: Lipoproteína de baixa densidade, encarregada de transportar colesterol através do sangue. Devido à sua tendência em depositar o colesterol nas paredes arteriais e a produzir aterosclerose, tem sido denominada “mau colesterol“.
5 Hipercolesterolemia: Aumento dos níveis de colesterol do sangue. Está associada a uma maior predisposição ao desenvolvimento de aterosclerose.
6 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
7 Iteração: Processo de resolução de uma equação mediante operações em que sucessivamente o objeto de cada uma é o resultado da que a precede. É um ciclo ou uma etapa de uma rotina maior.
8 Enzimas hepáticas: São duas categorias principais de enzimas hepáticas. A primeira inclui as enzimas transaminasas alaninoaminotransferase (ALT ou TGP) e a aspartato aminotransferase (AST ou TOG). Estas são enzimas indicadoras do dano às células hepáticas. A segunda categoria inclui certas enzimas hepáticas como a fosfatase alcalina (FA) e a gamaglutamiltranspeptidase (GGT) as quais indicam obstrução do sistema biliar, quer seja no fígado ou nos canais maiores da bile que se encontram fora deste órgão.
9 Plaquetas: Elemento do sangue (não é uma célula porque não apresenta núcleo) produzido na medula óssea, cuja principal função é participar da coagulação do sangue através da formação de conglomerados que tamponam o escape do sangue por uma lesão em um vaso sangüíneo.
10 Açúcar: 1. Classe de carboidratos com sabor adocicado, incluindo glicose, frutose e sacarose. 2. Termo usado para se referir à glicemia sangüínea.
11 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
12 Hepáticas: Relativas a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
13 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
14 Bilirrubina: Pigmento amarelo que é produto da degradação da hemoglobina. Quando aumenta no sangue, acima de seus valores normais, pode produzir uma coloração amarelada da pele e mucosas, denominada icterícia. Pode estar aumentado no sangue devido a aumento da produção do mesmo (excesso de degradação de hemoglobina) ou por dificuldade de escoamento normal (por exemplo, cálculos biliares, hepatite).
15 Intermitentes: Nos quais ou em que ocorrem interrupções; que cessa e recomeça por intervalos; intervalado, descontínuo. Em medicina, diz-se de episódios de febre alta que se alternam com intervalos de temperatura normal ou cujas pulsações têm intervalos desiguais entre si.
16 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
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