Estudo com mais de 34.000 pessoas está finalmente esclarecendo do que realmente consiste um microbioma intestinal saudável
Nosso microbioma1 intestinal tem uma enorme influência em nossa saúde2 geral. Frequentemente ouvimos falar sobre como certas coisas são boas para o nosso microbioma1 e, consequentemente, boas para a nossa saúde2. Mas não estava totalmente claro do que um microbioma1 intestinal saudável era composto, quais bactérias específicas tinham efeitos benéficos e quais tinham efeitos negativos.
Agora, um estudo com mais de 34.000 pessoas, publicado na revista Nature, está esclarecendo do que realmente consiste um microbioma1 intestinal saudável, nos aproximando da compreensão das combinações de micróbios que indicam, de forma confiável, que temos baixa inflamação3, boa imunidade4 e níveis saudáveis de colesterol5.
O microbioma1 intestinal pode influenciar o sistema imunológico6, a taxa de envelhecimento e até o risco de problemas de saúde2 mental. Apesar da profusão de testes caseiros que prometem revelar a composição da comunidade intestinal, a utilidade de tais testes tem sido debatida, porque é difícil definir o que é uma combinação microbiana “boa”.
As análises anteriores se concentravam principalmente na diversidade de espécies, considerando que uma maior variedade de bactérias era considerada um bom indicador. No entanto, é difícil identificar comunidades específicas de organismos que interagem e que estejam implicadas em um aspecto específico da nossa saúde2, porque os microbiomas variam muito de pessoa para pessoa.
“Existe uma relação muito complexa entre os alimentos que ingerimos, a composição do nosso microbioma1 intestinal e os efeitos que o microbioma1 intestinal tem sobre a nossa saúde2. A única maneira de tentar mapear essas conexões é ter amostras suficientemente grandes”, afirma Nicola Segata, da Universidade de Trento, na Itália.
Para criar esse mapa, Segata e seus colegas avaliaram um conjunto de dados de mais de 34.500 pessoas que participaram do programa PREDICT no Reino Unido e nos EUA, conduzido pela empresa de testes de microbioma1 Zoe, e validaram os resultados comparando-os com dados de outras 25 coortes de países ocidentais.
Saiba mais sobre "Microbioma1 intestinal humano", "Bactérias do bem - o que elas têm a nos oferecer" e "As relações entre intestino e cérebro7".
Das milhares de espécies que residem no intestino humano, os pesquisadores se concentraram em 661 espécies bacterianas encontradas em mais de 20% dos participantes do estudo da Zoe. Eles usaram isso para determinar as 50 bactérias mais associadas a marcadores de boa saúde2 – avaliados por meio de indicadores como índice de massa corporal8 e níveis de glicose9 no sangue10 – e as 50 mais ligadas à saúde2 precária.
As 50 espécies de “bactérias boas” – 22 das quais são novas para a ciência – parecem influenciar quatro áreas principais: níveis de colesterol5; inflamação3 e saúde2 imunológica; distribuição de gordura11 corporal; e controle do açúcar12 no sangue10.
Os participantes considerados saudáveis, por não apresentarem nenhuma condição médica conhecida, tinham cerca de 3,6 vezes mais dessas espécies do que pessoas com alguma condição médica, enquanto pessoas com peso saudável apresentavam cerca de 5,2 vezes mais dessas espécies do que aquelas com obesidade13.
Os pesquisadores sugerem que os resultados positivos ou negativos para a saúde2 podem decorrer do papel vital que o microbioma1 intestinal desempenha na liberação de substâncias químicas envolvidas no transporte de colesterol5, na redução da inflamação3, no metabolismo14 de gordura11 e na sensibilidade à insulina15.
Quanto às espécies específicas presentes, a maioria dos micróbios, tanto na classificação de “boas” quanto na de “ruins”, pertence à classe Clostridia. Dentro dessa classe, espécies da família Lachnospiraceae apareceram 40 vezes, com 13 aparentemente apresentando efeitos favoráveis e 27 desfavoráveis.
“O estudo destaca grupos bacterianos que poderiam ser investigados mais a fundo em relação ao seu potencial impacto positivo ou negativo em condições de saúde2, como níveis elevados de glicose9 no sangue10 ou obesidade13”, afirma Ines Moura, da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
A relação entre esses micróbios e a dieta foi avaliada por meio de questionários alimentares e dados registrados no aplicativo Zoe, onde os usuários são aconselhados a consumir pelo menos 30 tipos diferentes de plantas por semana e pelo menos três porções diárias de alimentos fermentados, com ênfase em fibras e evitando o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados.
Os pesquisadores descobriram que a maioria dos micróbios se associava ou a uma dieta geralmente saudável e melhor saúde2, ou a uma dieta pior e saúde2 mais precária. Mas 65 dos 661 micróbios não se encaixaram.
“Essas 65 bactérias comprovam que o quadro ainda é mais complexo do que o que vimos”, diz Segata, que também trabalha como consultor da Zoe. “Os efeitos podem depender dos outros micróbios presentes, da cepa16 específica da bactéria17 ou da dieta específica.”
Essa classificação de bactérias “boas” versus “ruins” permitiu que os pesquisadores criassem uma escala de classificação de 0 a 1000 para a saúde2 geral da microbiota18 intestinal de uma pessoa, que já é usada como parte dos testes de saúde2 intestinal da Zoe.
“Pense em uma microbiota18 intestinal saudável como uma comunidade de fábricas químicas. Queremos um grande número de espécies, queremos que as boas superem as ruins, e quando isso acontece, produzimos substâncias químicas realmente saudáveis, que têm impactos em todo o corpo”, diz Tim Spector, membro da equipe do King’s College London e co-fundador da Zoe.
Isso não significa, porém, que o microbioma1 intestinal ideal e saudável já tenha sido definido. “Definir um microbioma1 saudável é uma tarefa difícil, já que a composição do microbioma1 intestinal é influenciada pela dieta, mas também pode mudar com fatores ambientais, idade e condições de saúde2 que exigem medicação a longo prazo”, afirma Moura.
“Precisamos realmente pensar em nosso corpo e em nosso microbioma1 como dois sistemas complexos que, juntos, formam um sistema ainda mais complexo”, diz Segata. “Quando você muda uma coisa, tudo se modifica um pouco como consequência. Entender a relação de causa e efeito em muitos casos pode ser muito complexo.”
Estudos maiores são necessários para desvendar essas conexões e abranger uma parcela maior da população global, diz Segata. No entanto, uma vez que tenhamos estabelecido a base da sua saúde2 e do seu microbioma1, será possível recomendar alimentos específicos para ajustar sua microbiota18 intestinal, conclui ele.
Leia sobre "O que é inflamação3", "Conhecendo o sistema imunológico6" e "O que é uma alimentação saudável".
Confira a seguir o resumo do artigo publicado.
Microrganismos intestinais associados a saúde2, nutrição19 e intervenções dietéticas
A incidência20 de doenças cardiometabólicas está aumentando globalmente, e tanto a má alimentação quanto o microbioma1 intestinal humano têm sido implicados. No entanto, a área carece de estudos abrangentes e em larga escala que explorem essas ligações em diversas populações.
Neste estudo, em mais de 34.000 participantes dos EUA e do Reino Unido com dados metagenômicos, dietéticos, antropométricos e de saúde2 do hospedeiro, identificou-se espécies do microbioma1 intestinal conhecidas e também ainda não cultivadas significativamente associadas a diferentes dietas e fatores de risco.
Desenvolveu-se um ranking das espécies mais favoravelmente e desfavoravelmente associadas a marcadores de saúde2 humana, chamado de ‘ZOE Microbiome Health Ranking 2025’. Este sistema mostrou associações fortes e reproduzíveis entre o ranking das espécies microbianas e o índice de massa corporal8 e as condições de saúde2 do hospedeiro em mais de 7.800 amostras públicas adicionais.
Em 746 pessoas adicionais de dois ensaios clínicos21 de intervenção dietética, as espécies com classificação favorável aumentaram em abundância e prevalência22, e as espécies com classificação desfavorável diminuíram ao longo do tempo.
Em conclusão, estas análises fornecem forte suporte para a associação da dieta e do microbioma1 com marcadores de saúde2, e o sistema de resumo pode ser usado como base para futuros estudos causais e mecanísticos. Deve-se enfatizar, no entanto, que a inferência causal não é possível sem estudos de coorte23 prospectivos e ensaios clínicos21 intervencionistas.
Veja também sobre "Obesidade13", "Colesterol5" e "Composição corporal".
Fontes:
Nature, publicação em 10 de dezembro de 2025.
New Scientist, notícia publicada em 10 de dezembro de 2025.















