Risco de meningioma, um tumor cerebral, aumenta com o uso de uma injeção anticoncepcional

A ocorrência de meningioma foi rara, porém mais frequente entre mulheres que usavam acetato de medroxiprogesterona de depósito (Depo-Provera) em comparação com outros métodos contraceptivos, mostrou uma análise com mais de 10 milhões de mulheres nos EUA, publicada no JAMA Neurology.

Em comparação com mulheres que não usavam contraceptivos hormonais, mulheres que usavam acetato de medroxiprogesterona de depósito apresentaram um risco relativo (RR) de 2,43 para meningioma, de acordo com Varun Kshettry, MD, da Cleveland Clinic, e co-autores.

O risco de meningioma foi limitado a mulheres com mais de 4 anos de exposição ao acetato de medroxiprogesterona de depósito ou que começaram a usá-lo após os 31 anos.

O acetato de medroxiprogesterona oral também foi associado ao meningioma em comparação com os controles, mas o risco foi menor (RR 1,18). O número necessário para causar dano foi de 1.152 mulheres para o acetato de medroxiprogesterona de depósito e 3.020 mulheres para o acetato de medroxiprogesterona oral.

Não foi encontrado aumento no risco de diagnóstico¹ de meningioma com nenhum outro contraceptivo, incluindo contraceptivos orais combinados, dispositivos intrauterinos (DIUs), pílulas contendo apenas progestina ou contraceptivos implantáveis subdérmicos.

Os meningiomas são os tumores cerebrais primários mais comuns. Eles surgem das membranas que envolvem o cérebro² e a medula espinhal³ e geralmente são benignos.

Um estudo de 2024 na França sugeriu um aumento no risco de meningioma associado ao acetato de medroxiprogesterona injetável. “No entanto, este estudo foi limitado devido ao baixo uso geral de medroxiprogesterona de depósito na França”, disse Kshettry. “Nos EUA, a medroxiprogesterona de depósito é comumente usada, então buscamos investigar a associação dessa progestina com a formação de meningiomas na população americana.”

Os resultados podem ser úteis na “discussão risco-benefício, particularmente para pacientes⁴ que podem apresentar risco aumentado de meningioma devido a outros fatores de risco, como neurofibromatose tipo II, histórico prévio de radiação craniana e histórico familiar de meningioma”, acrescentou Kshettry.

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O meningioma é o único tumor⁵ intracraniano com clara predominância em mulheres, com incidência⁶ crescente após a puberdade, observaram Gilles Reuter, MD, PhD, do Centre Hospitalier Universitaire de Liège, na Bélgica, e Britta Wandschneider, MD, PhD, do UCL Queen Square Institute of Neurology, em Londres.

“Mais de 60% dos meningiomas expressam receptores de progesterona. Em casos conhecidos de meningioma, o tamanho do tumor⁵ aumenta em períodos de níveis séricos mais elevados de estradiol e progesterona, como durante os anos férteis, gravidez⁷ e periparto”, escreveram Reuter e Wandschneider em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

“Histopatologicamente, há uma maior proporção de expressão do receptor de progesterona durante esses períodos, ressaltando uma relação biológica plausível entre hormônios sexuais e a evolução do meningioma”, acrescentaram.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que não há dados que esclareçam o risco de meningioma conferido pelo acetato de medroxiprogesterona de depósito nos EUA. O objetivo do estudo, portanto, foi examinar o risco relativo de diagnóstico¹ de meningioma em mulheres que utilizam acetato de medroxiprogesterona de depósito e outras progestinas relacionadas.

Este estudo retrospectivo⁸ de coorte⁹ populacional utilizou dados do TriNetX, um banco de dados nacional dos EUA com 68 organizações de saúde¹⁰. Os dados foram analisados de dezembro de 2004 a dezembro de 2024. A incidência⁶ de diagnóstico¹ de meningioma foi comparada entre os grupos de tratamento por meio de análises pareadas por escore de propensão.

As participantes incluíram uma amostra de mulheres que usavam apenas um dos seguintes contraceptivos/progestinas: acetato de medroxiprogesterona de depósito, acetato de medroxiprogesterona oral, contraceptivos orais combinados, dispositivos intrauterinos, pílulas contendo apenas progestina ou contraceptivos implantáveis subdérmicos. O grupo controle incluiu mulheres que não usavam esses tratamentos hormonais. Do total de 118.289.082 pacientes no TriNetX no momento da análise, 61.588.239 pacientes eram do sexo feminino e elegíveis.

As pacientes foram definidas utilizando códigos diagnósticos da Classificação Internacional de Doenças, da Terminologia Processual Atual e códigos RxNorm dentro do TriNetX.

O desfecho principal foi o diagnóstico¹ de meningioma. Os riscos relativos e o número necessário para causar dano foram calculados.

Havia 10.425.438 pacientes que preencheram os critérios de inclusão, com idade média de 33,4 anos no momento da inclusão. Após o pareamento por escore de propensão, 88.667 pacientes com idade média de 26,2 anos no momento da inclusão estavam no grupo acetato de medroxiprogesterona de depósito.

O uso de acetato de medroxiprogesterona de depósito apresentou um risco relativo de 2,43 (IC 95%, 1,77-3,33) para o diagnóstico¹ de meningioma em comparação com os controles. Notavelmente, esse risco foi limitado a pacientes com mais de 4 anos de exposição ou que iniciaram a prescrição com idade superior a 31 anos.

O acetato de medroxiprogesterona oral apresentou risco relativo aumentado de 1,18 (IC 95%, 1,10-1,27) em comparação aos controles. Não foi encontrado risco aumentado de diagnóstico¹ de meningioma com qualquer outro contraceptivo.

O número necessário para causar dano para o acetato de medroxiprogesterona de depósito foi de 1.152 pacientes e 3.020 pacientes para o acetato de medroxiprogesterona oral.

Neste estudo, mulheres que receberam acetato de medroxiprogesterona de depósito apresentaram maior risco relativo de diagnóstico¹ subsequente de meningioma, especialmente com exposições prolongadas e início da medicação em idades mais avançadas. O alto número necessário para causar dano sugere baixo risco clínico geral.

Uma limitação do estudo se deve ao fato da análise ter se baseado em códigos de planos de saúde¹⁰ para identificar as pacientes e ter incluído apenas alguns potenciais fatores de confusão no risco de meningioma, reconheceram Kshettry e co-autores.

Os resultados são observacionais, enfatizaram os pesquisadores. Mais estudos são necessários para esclarecer o mecanismo biológico subjacente à exposição à progesterona e ao crescimento do meningioma, acrescentaram.

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Fontes:
JAMA Neurology, publicação em 02 de setembro de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 02 de setembro de 2025.