Enxaquecas foram associadas a variantes genéticas raras que podem otimizar tratamentos
Sabemos que as enxaquecas1, que são dores de cabeça2 recorrentes, por vezes debilitantes e difíceis de tratar, têm alguma base genética, mas a ligação com o nosso DNA não é totalmente clara. Variantes genéticas recentemente identificadas podem ajudar no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para a doença.
Uma análise do genoma de 1,3 milhão de pessoas revelou dezenas de variações associadas às enxaquecas1, de acordo com estudo publicado na revista Nature Genetics.
Pensa-se que até 20 por cento dos adultos em todo o mundo sofrem de enxaquecas1. Algumas pessoas apresentam sintomas3 sensoriais, como luzes piscando ou formigamento no corpo, antes do início da dor de cabeça2, enquanto outras não. Não se sabe por que existem esses dois tipos de enxaqueca4 – conhecida como com ou sem aura.
“É sabido que a enxaqueca4 ocorre em famílias, mas não tem sido fácil identificar uma base genética clara para cada subtipo”, diz Debbie Hay, da Universidade de Otago, na Nova Zelândia.
Agora, Kári Stefánsson, da deCODE genetics, uma empresa biofarmacêutica na Islândia, e os seus colegas identificaram as variações genéticas que parecem influenciar o fato de as pessoas desenvolverem ou não enxaquecas1.
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Os pesquisadores analisaram o DNA de 1,3 milhões de pessoas da Islândia, Dinamarca, Reino Unido, EUA e Noruega, das quais cerca de 80 mil sofriam de enxaquecas1.
Eles encontraram 44 variantes genéticas associadas à doença, 12 das quais nunca foram descritas antes. Destas, a equipe descobriu que uma variante rara do gene PRRT2, que ajuda a regular a sinalização entre os neurônios5, está correlacionada com um grande risco de enxaqueca4 com aura e epilepsia6.
Por outro lado, variantes raras que suprimem a função dos genes SCN11A e KCNK5, que desempenham um papel no transporte de sódio e potássio entre as células7, respetivamente, parecem proteger contra ambos os tipos de enxaqueca4.
As descobertas poderão levar a novos tratamentos que visem as causas da enxaqueca4, tais como medicamentos que podem inibir a produção das proteínas8 codificadas pelos genes SCN11A e KCNK5.
“Descobertas como esta devem oferecer uma esperança substancial à população que sofre de enxaqueca”, afirma Stefánsson. “Os tratamentos atuais não eliminam completamente a tendência de desenvolver enxaquecas1, por isso há muito espaço para tratamentos melhores.”
“Embora tenha havido enormes avanços recentes no tratamento da enxaqueca4, ainda há muito a fazer para compreender os mecanismos da enxaqueca4 e como podemos adaptar o tratamento a cada paciente”, diz Hay.
No artigo, os pesquisadores relatam que variantes raras com grandes efeitos fornecem informações funcionais sobre a patologia9 dos subtipos de enxaqueca4, com e sem aura.
Eles contextualizam que a enxaqueca4 é uma doença neurovascular complexa com uma variedade de gravidade e sintomas3, mas principalmente estudada como um fenótipo10 em estudos de associação genômica ampla (GWAS).
Neste estudo, combinou-se grandes conjuntos de dados de GWAS de seis populações europeias para estudar os principais subtipos de enxaqueca4: enxaqueca4 com aura (EA) e enxaqueca4 sem aura (ES).
Identificou-se quatro novas variantes associadas à EA (em PRRT2, PALMD, ABO e LRRK2) e classificou-se 13 variantes associadas à ES.
Variantes raras com grandes efeitos destacam três genes. Uma variante rara com mutação11 de frameshift (mudança de quadro de leitura) no PRRT2 expresso no cérebro12 confere grande risco de EA e epilepsia6, mas não de ES.
Um teste de carga de variantes raras de perda de função em SCN11A, que codifica um canal de sódio expresso em neurônios5 com um papel fundamental na sensação de dor, mostra forte proteção contra enxaqueca4.
Finalmente, uma variante rara com efeitos reguladores cis no KCNK5 confere grande proteção contra enxaqueca4 e aneurismas cerebrais.
Essas descobertas oferecem novos insights com potencial terapêutico sobre a complexa biologia da enxaqueca4 e seus subtipos.
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Fontes:
Nature Genetics, publicação em 26 de outubro de 2023.
New Scientist, notícia publicada em 26 de outubro de 2023.