Dores de crescimento podem indicar um risco maior de enxaquecas mais tarde na vida
As crianças que têm dores de crescimento têm maior probabilidade do que os seus pares de sofrer enxaquecas1 mais tarde na vida, mostrou um estudo publicado na revista Headache.
Dores de crescimento – ou membros doloridos na adolescência – são frequentemente atribuídas ao rápido crescimento infantil2. No entanto, não há evidências que apoiem isso e sua causa permanece obscura.
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Raimundo Pereira da Silva Neto, da Universidade Federal do Paraná, e seus colegas recrutaram 100 crianças com idades entre 5 e 10 anos para um estudo e acompanharam sua saúde4 durante cinco anos, período em que aproximadamente metade teve dores de crescimento.
Mais de 70% das crianças com dores de crescimento tiveram enxaqueca3 – uma dor de cabeça5 latejante e pulsante que pode aumentar a sensibilidade à luz ou ao som. O mesmo aconteceu com apenas 22% daquelas crianças que não apresentavam dores de crescimento. A descoberta sugere que as dores de crescimento e as enxaquecas1 partilham uma causa subjacente comum, diz Silva Neto.
“Em famílias de crianças com dores de crescimento, há uma prevalência6 aumentada de outras síndromes dolorosas, especialmente enxaqueca3 entre os pais”, escreveram os autores. “Por outro lado, as crianças com enxaqueca3 apresentam maior prevalência6 de dores de crescimento, sugerindo uma patogênese7 comum; portanto, levantamos a hipótese de que as dores de crescimento em crianças são um precursor ou comorbidade8 da enxaqueca3.”
No artigo, os pesquisadores investigaram as dores de crescimento em crianças e adolescentes como sintoma9 precoce de enxaqueca3. Eles relatam que crianças e adolescentes podem apresentar dores nos membros inferiores, predominantemente no final do dia ou durante a noite, sem qualquer relação com doença orgânica. Essas dores são frequentemente chamadas de “dores de crescimento” (DC) por pediatras e ortopedistas. Elas são comumente atribuídas ao rápido crescimento.
O objetivo do estudo foi revisar e caracterizar a DC em crianças e adolescentes como precursora/comorbidade8 da enxaqueca3.
O estudo foi de coorte10 transversal, prospectivo11, longitudinal, com comparação de grupos. Uma amostra de 100 crianças/adolescentes nascidos de mães com enxaqueca3 atendidas em um ambulatório de cefaleia12 foi recrutada em ordem aleatória escolhida por sorteio, mantendo a proporção de 1:1 para o grupo com DC e os controles. Ambos os grupos foram acompanhados por um período de 5 anos.
Após 5 anos de acompanhamento, 78 pacientes completaram o estudo, dos quais 42 eram do grupo com DC e 36 eram do grupo controle. Cefaleia12 que preenche os critérios diagnósticos da Classificação Internacional de Cefaleias13, 3ª edição, para enxaqueca3 sem aura ou provável enxaqueca3 ocorreu em 32/42 (76%) dos pacientes com DC e em 8/36 (22%) dos controles (p <0,001).
Na amostra que inicialmente apresentava “dores de crescimento”, essas dores persistiram em 6/42 (14%) e apareceram em 14/36 (39%) dos que eram previamente assintomáticos (p = 0,026).
O estudo concluiu que a dor nos membros inferiores de crianças e adolescentes, comumente chamada de dores de crescimento pelos pediatras e ortopedistas, pode refletir um precursor ou comorbidade8 com a enxaqueca3.
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Fontes:
Headache, publicação em 06 de setembro de 2023.
New Scientist, notícia publicada em 15 de setembro de 2023.