Análise sugere que a intolerância às estatinas é superdiagnosticada
Embora seus benefícios tenham sido claramente demonstrados tanto na prevenção primária quanto na secundária, as estatinas têm sido objeto de muita controvérsia, levando à descontinuação. A intolerância às estatinas (IE) tem sido amplamente tomada como argumento, mas sua definição pode variar e assim dificultar sua real estimativa e os fatores a ela associados.
Agora, em uma ampla metanálise de dados de mais de 175 estudos, incluindo mais de 4 milhões de pacientes, publicada no European Heart Journal, os resultados sugerem que a prevalência1 de intolerância às estatinas pode ser menor do que se pensava anteriormente.
Aproveitando os dados de mais de 100 ensaios clínicos2 randomizados e 60 estudos de coorte3, a metanálise sugere que a prevalência1 geral de intolerância às estatinas foi de 9,1%, mas esse número foi ainda menor quando avaliado usando os critérios da National Lipid Association (NLA), do International Lipid Expert Panel (ILEP) e da European Atherosclerosis Society (EAS).
Leia sobre "Estatinas: prós e contras" e "Atorvastatina: prós e contras".
“Esses resultados não foram uma surpresa para mim, mas foram para muitos outros especialistas. Eles mostram que, na maioria dos casos, a intolerância às estatinas é superestimada e superdiagnosticada, e significa que cerca de 93% dos pacientes em terapia com estatina podem ser tratados de forma eficaz, com muito boa tolerabilidade e sem problemas de segurança”, disse Maciej Banach, da Universidade Médica de Lodz e da Universidade de Zielona Góra, na Polônia, em um comunicado.
Um problema importante e desconcertante para os médicos, a intolerância às estatinas representa um problema único no cuidado de pacientes com dislipidemia.
A intolerância às estatinas (IE) representa um importante problema de saúde4 pública para o qual são necessárias estimativas precisas de prevalência1. A intolerância às estatinas continua sendo um importante desafio clínico e está associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares.
Esta metanálise estimou a prevalência1 geral da IE, a prevalência1 de acordo com diferentes critérios diagnósticos e em diferentes contextos de doença, e identificou possíveis fatores/condições de risco que podem aumentar o risco de IE.
Foram pesquisados vários bancos de dados até 31 de maio de 2021, por estudos que relataram a prevalência1 de IE. O desfecho primário foi a prevalência1 geral e prevalência1 de acordo com uma série de critérios diagnósticos [National Lipid Association (NLA), International Lipid Expert Panel (ILEP) e European Atherosclerosis Society (EAS)] e em diferentes configurações de doenças. O desfecho secundário foi identificar possíveis fatores de risco para IE.
Um modelo de efeitos aleatórios foi aplicado para estimar a prevalência1 global agrupada. Um total de 176 estudos [112 ensaios clínicos2 randomizados (ECRs); 64 estudos de coorte3] com 4.143.517 pacientes foram incluídos na análise.
A prevalência1 geral de IE foi de 9,1% (intervalo de confiança de 95% 8,0-10%). A prevalência1 foi semelhante quando definida pelos critérios NLA, ILEP e EAS (7,0% [6,0-8,0%], 6,7% [5,0-8,0%], 5,9% [4,0-7,0%], respectivamente].
A prevalência1 de IE em ECRs foi significativamente menor em comparação com estudos de coorte3 (4,9% [4,0-6,0%) vs. 17% (14-19%]).
A prevalência1 de IE em estudos incluindo pacientes de prevenção primária e secundária foi muito maior do que quando os pacientes de prevenção primária ou secundária foram analisados separadamente (18% [14-21%], 8,2% [6,0-10%], 9,1% [6,0-11%], respectivamente).
A lipossolubilidade das estatinas não afetou a prevalência1 de IE (4,0% [2,0-5,0%] vs. 5,0% [4,0-6,0%]). Idade (odds ratio [OR] 1,33, P = 0,04), sexo feminino (OR 1,47, P = 0,007), raça asiática e negra (p <0,05 para ambos), obesidade5 (OR 1,30, P = 0,02), diabetes mellitus6 (OR 1,26, P = 0,02), hipotireoidismo7 (OR 1,37, P = 0,01), insuficiência renal8 e hepática9 crônicas (p <0,05 para ambos) foram significativamente associados com IE no modelo de metarregressão.
Agentes antiarrítmicos, bloqueadores dos canais de cálcio, uso de álcool e aumento da dose de estatina também foram associados a um maior risco de IE.
Com base na presente análise de mais de 4 milhões de pacientes, a prevalência1 de intolerância às estatinas é baixa quando diagnosticada de acordo com as definições internacionais. Esses resultados apoiam o conceito de que a prevalência1 de intolerância às estatinas completa pode ser superestimada, e destacam a necessidade de avaliação cuidadosa de pacientes com sintomas10 potenciais relacionados à intolerância às estatinas.
Veja também sobre "Entendendo o colesterol11 do organismo", "Dislipidemia" e "Informações importantes sobre medicamentos".
Fontes:
European Heart Journal, publicação em 16 de fevereiro de 2022.
Practical Cardiology, notícia publicada em 21 de fevereiro de 2022.