Câncer de endométrio e contraceptivos orais: meta-análise a partir de 36 estudos epidemiológicos
O grupo Collaborative Group on Epidemiological Studies on Endometrial Cancer1 avaliou um conjunto de dados de mulheres com ou sem câncer1 de endométrio2 para avaliar a relação de tal patologia3 com o uso de contraceptivos orais.
Os contraceptivos orais são conhecidos por reduzir a taxa de incidência4 de câncer1 de endométrio2, mas não é certo quanto tempo esse efeito dura após cessar o uso dessa medicação ou se ele é modificado por outros fatores.
Um conjunto de dados de participantes individuais foi avaliado por pesquisadores incluindo 27.276 mulheres com câncer1 endometrial (casos) e 115.743 sem câncer1 endometrial (controles) de 36 estudos epidemiológicos. Os riscos relativos (RR) de câncer1 de endométrio2 associados ao uso de contraceptivos orais foram estimados por meio de regressão logística e estratificados por estudo, idade, paridade, índice de massa corporal5, tabagismo e uso de terapia hormonal na menopausa6.
A idade média dos casos foi de 63 anos (IQR 57-68) e o ano mediano do diagnóstico7 do câncer1 foi 2001 (IQR 1994-2005). 9.459 (35%) de 27.276 casos e 45.625 (39%) de 115.743 controles nunca tinham usado contraceptivos orais, por duração média de 3,0 anos (IQR 1-7) e 4,4 anos (IQR 2-9), respectivamente. Quanto mais tempo as mulheres haviam usado anticoncepcionais orais, maior a redução no risco de câncer1 de endométrio2; cada cinco anos de uso estava associado a uma relação de risco de 0,76 (IC 95% 0,73-0,78; p<0,0001). Esta redução no risco persistiu por mais de 30 anos após cessar o uso de contraceptivos orais, sem diminuição aparente entre os RRs para uso durante os anos 1960, 1970 e 1980, apesar de doses de estrogênio mais altas em comprimidos utilizados nos primeiros anos. Entretanto, a redução do risco associado ao fato de já ter utilizado contraceptivos orais alguma vez diferiu de acordo com o tipo de tumor8, sendo mais forte para carcinomas do que para sarcomas. Em países de alta renda, 10 anos de uso de contraceptivos orais foi estimado para reduzir o risco absoluto de câncer1 endometrial originado antes da idade de 75 anos de 2,3 para 1,3 por 100 mulheres.
Os resultados mostram que o uso de contraceptivos orais confere proteção de longo prazo contra o câncer1 endometrial. Estes resultados sugerem que, nos países desenvolvidos, cerca de 400.000 casos de câncer1 endometrial antes da idade de 75 anos foram evitados ao longo dos últimos 50 anos (1965-2014) por contraceptivos orais, incluindo 200.000 na última década (2005-14).
Fonte: The Lancet Oncology, publicação online, de 4 de agosto de 2015