Gostou do artigo? Compartilhe!

Alguns antidepressivos foram associados a um declínio cognitivo mais rápido em pacientes com demência

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

 

 

Resumo:

  • Antidepressivos foram associados a um declínio cognitivo1 mais rápido em pessoas com demência2.
  • ISRSs mostraram associações significativas com a piora da cognição3 em pacientes com demência2.
  • O estudo faz parte de um projeto maior para avaliar como medicamentos comuns podem afetar pacientes com demência2.

 

Medicamentos antidepressivos foram associados a taxas mais rápidas de declínio cognitivo1 em pacientes com demência2, mostrou um estudo de coorte4 nacional na Suécia, publicado no BMC Medicine.

Entre quase 19.000 pessoas com demência2, aquelas que receberam prescrição de antidepressivos apresentaram uma queda mais rápida nos escores do Mini Exame do Estado Mental (MEEM) (β = -0,30 pontos/ano, IC 95% -0,39 a -0,21, P <0,001) em comparação com aquelas que não receberam prescrição de antidepressivos, de acordo com Sara Garcia-Ptacek, médica e PhD do Instituto Karolinska em Estocolmo, e co-autores. As pontuações do MEEM variam de 0 a 30 pontos, com pontuações mais baixas indicando pior cognição3.

A associação pareceu ser mais pronunciada em pessoas com demência2 grave, relataram os pesquisadores.

Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) foram os antidepressivos mais comumente prescritos (64,8%) no estudo. As prescrições também incluíram antidepressivos tricíclicos (2,2%), inibidores de recaptação de serotonina e norepinefrina (IRSNs; 2,0%) e outros antidepressivos (31,0%).

Em comparação com o não uso, os seguintes ISRS foram associados a um declínio cognitivo1 mais rápido:

  • Escitalopram (Lexapro): β = -0,76 pontos/ano, IC 95% -1,09 a -0,44, P <0,001
  • Citalopram (Celexa): β = -0,41 pontos/ano, IC 95% -0,55 a -0,27, P <0,001
  • Sertralina (Zoloft): β = -0,25 pontos/ano, IC 95% -0,43 a -0,06, P = 0,011

Mirtazapina, um antidepressivo tetracíclico oral, também foi associada a um declínio cognitivo1 mais rápido em comparação com o não uso (β = -0,19 pontos/ano, IC 95% -0,34 a -0,04, P = 0,014). Os resultados para antidepressivos tricíclicos (P = 0,543) e IRSNs (P = 0,381) não foram significativos.

Leia sobre "Perguntas e respostas sobre antidepressivos" e "Demência2".

Pacientes com demência2 frequentemente apresentam depressão e ansiedade, que podem ser anteriores ao diagnóstico5 de demência2 ou podem ser sintomas6 comportamentais e psiquiátricos de demência2.

“Esses sintomas6 podem impactar negativamente a qualidade de vida e a cognição3. Frequentemente, usamos antidepressivos nesses casos, e era importante para nós saber se os antidepressivos impactam a cognição”, disse Garcia-Ptacek.

O estudo faz parte de um projeto maior liderado por Garcia-Ptacek que avaliou se medicamentos usados para outras condições poderiam afetar o declínio cognitivo1 em pacientes com demência2. “Alguns dos medicamentos que encontramos tiveram efeitos positivos, por exemplo, estatinas e bloqueadores dos receptores da angiotensina”, observou ela.

“Descobrimos que os antidepressivos estavam associados a um pior declínio cognitivo1, mas nem todos os antidepressivos eram iguais. Nossas descobertas podem ajudar a orientar a escolha do antidepressivo em pacientes com demência2 e abrir novos caminhos para a pesquisa”, destacou Garcia-Ptacek.

“Precisamos investigar melhor se os antidepressivos estão causando declínio cognitivo1 ou se outros fatores, como a própria depressão, estão por trás dessa associação”, acrescentou. “No futuro, espero ver prescrições muito mais direcionadas, em que os medicamentos sejam melhor adaptados a pacientes específicos.”

No artigo publicado os pesquisadores relatam que a demência2 está associada a sintomas6 psiquiátricos, mas os efeitos dos antidepressivos na função cognitiva7 em pacientes com demência2 são pouco estudados. O objetivo, portanto, foi investigar a associação entre antidepressivos e declínio cognitivo1 em pacientes com demência2, e o risco de demência2 grave, fraturas e morte, dependendo da classe, do medicamento e da dose do antidepressivo.

Este é um estudo de coorte4 nacional. Foram incluídos pacientes com demência2 registrados no Registro Sueco de Transtornos Cognitivos8/Demenciais – SveDem de 1º de maio de 2007 a 16 de outubro de 2018, com pelo menos um acompanhamento após o diagnóstico5 de demência2 e que fossem novos usuários de antidepressivos.

O uso de antidepressivos foi definido como uma exposição variável ao longo do tempo durante os 6 meses que antecederam o diagnóstico5 de demência2 ou cada acompanhamento subsequente. Utilizou-se modelos lineares mistos para examinar a associação entre o uso de antidepressivos e as trajetórias cognitivas avaliadas pelos escores do Mini Exame do Estado Mental (MEEM).

Utilizou-se modelos de riscos proporcionais de Cox para calcular as razões de risco para demência2 grave (escore no MEEM <10), fratura9 e morte. Comparou-se classes e medicamentos antidepressivos e analisou-se a dose-resposta.

Foram incluídos 18.740 pacientes (10.205 mulheres [54,5%]; média [DP] de idade, 78,2 [7,4] anos), dos quais 4.271 (22,8%) receberam pelo menos uma prescrição de antidepressivo. Durante o acompanhamento, foram emitidas 11.912 prescrições de antidepressivos, sendo os inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRSs) os mais comuns (64,8%).

O uso de antidepressivos foi associado a um declínio cognitivo1 mais rápido (β [IC 95%] = -0,30 [-0,39, -0,21] pontos/ano), em particular sertralina (-0,25 [-0,43, -0,06] pontos/ano), citalopram (-0,41 [-0,55, -0,27] pontos/ano), escitalopram (-0,76 [-1,09, -0,44] pontos/ano) e mirtazapina (-0,19 [-0,34, -0,04] pontos/ano) em comparação com o não uso.

A associação foi mais forte em pacientes com demência2 grave (pontuações iniciais no MEEM de 0 a 9). O escitalopram apresentou uma taxa de declínio maior do que a sertralina. Em comparação com o não uso, observou-se um efeito dose-resposta dos ISRSs em maior declínio cognitivo1 e maiores riscos de demência2 grave, mortalidade10 por todas as causas e fraturas.

Neste estudo de coorte4, o uso atual de antidepressivos foi associado a um declínio cognitivo1 mais rápido; além disso, doses dispensadas mais altas de ISRSs foram associadas a um maior risco de demência2 grave, fraturas e mortalidade10 por todas as causas.

Esses achados destacam a importância do monitoramento cuidadoso e regular para avaliar os riscos e benefícios do uso de diferentes antidepressivos em pacientes com demência2.

Veja também sobre "Depressão em idosos", "Polifarmácia" e "Principais doenças dos idosos".

 

Fontes:
BMC Medicine, publicação em 25 de fevereiro de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 24 de fevereiro de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Alguns antidepressivos foram associados a um declínio cognitivo mais rápido em pacientes com demência. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1483735/alguns-antidepressivos-foram-associados-a-um-declinio-cognitivo-mais-rapido-em-pacientes-com-demencia.htm>. Acesso em: 23 abr. 2025.

Complementos

1 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
2 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
3 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
4 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
5 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
6 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
7 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
8 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
9 Fratura: Solução de continuidade de um osso. Em geral é produzida por um traumatismo, mesmo que possa ser produzida na ausência do mesmo (fratura patológica). Produz como sintomas dor, mobilidade anormal e ruídos (crepitação) na região afetada.
10 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.

Resultados de busca relacionada no catalogo.med.br:

Rafael de Castro Resende

Psiquiatra

Recife/PE

Você pode marcar online Ver horários disponíveis

Soo Yang Lee

Clínico Geral

Linhares/ES

Eduardo Mashimo

Psiquiatra

São Paulo/SP

Gostou do artigo? Compartilhe!