Insônia aumenta risco de demência em idosos saudáveis
A insônia aumentou o risco de comprometimento cognitivo1 e envelhecimento cerebral em pessoas cognitivamente saudáveis, mostrou um amplo estudo prospectivo2 publicado na revista científica Neurology.
Idosos com insônia crônica, definida como dificuldade para dormir pelo menos 3 dias por semana durante 3 meses ou mais, apresentaram um risco 40% maior de desenvolver comprometimento cognitivo1 leve ou demência3 em comparação com aqueles que não tinham insônia crônica, relataram Diego Carvalho, MD, da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, e colegas.
Isso equivale a 3,5 anos adicionais de envelhecimento cerebral.
A insônia também foi associada a um declínio mais rápido nos escores cognitivos4 globais. Pessoas portadoras do gene de risco para Alzheimer5 APOE4 apresentaram declínios cognitivos4 mais acentuados.
Quando acompanhada por menos sono, a insônia foi associada a um pior desempenho cognitivo6 basal, bem como à maior hiperintensidade da substância branca e à carga PET amiloide. Quando acompanhada por mais sono (sugerindo potencialmente a remissão dos sintomas7), a insônia foi associada a uma menor carga basal de hiperintensidades da substância branca.
“Nossos resultados sugerem que a insônia pode afetar o cérebro8 de diferentes maneiras, envolvendo não apenas as placas9 amiloides, mas também pequenos vasos que irrigam o cérebro”, disse Carvalho em um comunicado.
“Isso reforça a importância do tratamento da insônia crônica, não apenas para melhorar a qualidade do sono, mas potencialmente para proteger a saúde10 do cérebro8 à medida que envelhecemos”, continuou ele. “Nossos resultados também contribuem para um crescente conjunto de evidências de que o sono não se trata apenas de descanso; trata-se também de resiliência cerebral.”
Vários estudos relacionaram o risco de demência3 com sono de má qualidade e distúrbios circadianos, e alguns relacionaram sono de má qualidade na meia-idade com envelhecimento cerebral mais rápido.
Metanálises em larga escala também mostraram que a insônia está associada a um risco aumentado de declínio cognitivo1 ou demência3, mas esses estudos frequentemente não levaram em conta a multimorbidade frequente, incluindo apneia obstrutiva do sono11 comórbida, ou possíveis efeitos do tratamento hipnótico, observaram Carvalho e colaboradores.
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“Uma relação bidirecional proposta entre envelhecimento/neurodegeneração e sono alterado provavelmente fundamenta a associação entre insônia e declínio cognitivo”, observaram.
“O envelhecimento pode promover a insônia ao reduzir a pressão homeostática do sono, possivelmente devido à diminuição da sensibilidade à adenosina”, escreveram. “O envelhecimento também está associado à diminuição da amplitude do ritmo circadiano12, afetando a propensão ao sono no horário desejado ou após o despertar.”
No artigo publicado, os pesquisadores relatam que a relação entre insônia e declínio cognitivo1 é pouco compreendida. O objetivo, então, foi investigar associações entre insônia crônica, resultados cognitivos4 longitudinais e saúde10 cerebral em idosos.
A partir do Estudo de Envelhecimento da Mayo Clinic, de base populacional, identificou-se idosos cognitivamente sem comprometimento, com ou sem diagnóstico13 de insônia crônica, submetidos a avaliações neuropsicológicas anuais (escores cognitivos4 globais com escore z e estado cognitivo1) e que tinham resultados de imagem seriados quantificados (carga PET amiloide [centiloide] e hiperintensidades na substância branca por ressonância magnética14 [HSB, % do volume intracraniano]).
Utilizou-se modelos de efeitos mistos para examinar associações entre a insônia basal (independentemente ou em interação com alterações autorrelatadas na duração habitual do sono) e escores z cognitivos4 longitudinais, HSB transformadas em logaritmo e níveis de PET amiloide, ajustando para múltiplos fatores de confusão, incluindo diagnóstico13 de apneia15 do sono. O risco de comprometimento cognitivo1 (CC) incidente16 foi estimado usando o modelo de riscos proporcionais de Cox.
Foram incluídos 2.750 participantes (média de 70,3 ± 9,7 anos, 49,2% mulheres) em modelos de cognição17 global e 2.814 em modelos de Cox com acompanhamento mediano de 5,6 anos. Um total de 1.027 e 561 participantes foram incluídos nos modelos de HSB e PET amiloide, respectivamente.
A insônia foi associada a um declínio mais rápido de 0,011 por ano (IC 95% -0,020 a -0,001, p para interação = 0,028) nas pontuações cognitivas globais e a um risco 40% maior de CC (razão de risco [HR] 1,4, IC 95% 1,07-1,85, p = 0,015).
A insônia com sono reduzido foi associada ao desempenho cognitivo6 basal (β = -0,211, IC 95% -0,376 a -0,046, p para interação = 0,012), a HSB (β = 0,147, IC 95% 0,044-0,249, p para interação = 0,005) e à carga PET amiloide (β = 10,5, IC 95% 0,5-20,6, p para interação = 0,039).
Participantes com insônia que dormiram mais do que o habitual (potencialmente indicando remissão dos sintomas7) apresentaram menor carga de HSB basal (β = -0,142, IC 95% -0,268 a -0,016, p para interação = 0,028).
A insônia não foi associada à taxa de acúmulo de HSB ou amiloide ao longo do tempo. Em participantes com insônia, o uso de hipnóticos não foi associado a escores cognitivos4 (β = 0,016, IC 95% -0,201 a 0,233, p = 0,888) ou a CC incidente16 (HR 0,94, IC 95% 0,5-1,6, p = 0,832).
O estudo encontrou uma associação entre insônia, declínio cognitivo1 e aumento do risco de comprometimento cognitivo1. A insônia com sono reduzido foi associada a pior desempenho cognitivo6 e pior saúde10 cerebral (HSB e carga amiloide) no início do estudo. Dormir mais do que o habitual foi associado a menor carga de HSB.
A análise apresentou diversas limitações, afirmaram Carvalho e co-autores. Faltavam dados objetivos sobre o sono e não havia detalhes sobre o tratamento da insônia ou da apneia obstrutiva do sono11.
Embora a frequência do diagnóstico13 de insônia crônica esteja em linha com outras pesquisas, “suspeitamos que alguns casos de insônia crônica permaneçam sem diagnóstico13 e nosso estudo não abordou as associações com os sintomas7 atuais de insônia”, reconheceram.
A população do estudo era predominantemente branca, e os resultados podem não se aplicar a outros grupos.
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Fontes:
Neurology, Vol. 105, N° 7, em outubro de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 10 de setembro de 2025.