Gostou do artigo? Compartilhe!

Depressão emergente foi associada à patologia mais precoce do Alzheimer

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

Principais conclusões

Sintomas1 depressivos foram associados a mudanças precoces na patologia2 de Alzheimer3 em regiões associadas ao controle emocional.

• Maiores sintomas1 depressivos foram associados ao acúmulo de amiloide nos córtices frontal e cingulado.

• Os sintomas1 começaram nos estágios iniciais da doença de Alzheimer4, antes que as mudanças cognitivas surgissem.

Sintomas1 depressivos crescentes foram associados a mudanças muito precoces na patologia2 amiloide de Alzheimer3 em regiões cerebrais associadas ao controle emocional, mostrou um estudo longitudinal publicado no JAMA Network Open.

Em uma coorte5 de idosos cognitivamente não prejudicados com carga amiloide inicialmente baixa, maiores sintomas1 depressivos foram associados ao acúmulo de amiloide nos córtices frontal e cingulado, relataram Catherine Munro, PhD, do Brigham and Women's Hospital em Boston, e co-autores.

Em um acompanhamento médio de 8,6 anos, pontuações crescentes na Escala de Depressão Geriátrica (GDS) de 30 itens foram associadas a inclinações (slopes) da carga amiloide no exame PET nas três regiões a seguir, após ajuste para idade, sexo e educação:

  • Córtex orbitofrontal medial: β = 11,07, IC de 95% 5,26-16,87; t = 3,74, P = 0,004
  • Istmo do giro do cíngulo: β = 12,83, IC de 95% 5,68-19,98; t = 3,51, P = 0,004
  • Córtex frontal médio: β = 9,22, IC de 95% 2,25-16,20; t = 2,59, P = 0,03

Essas relações foram independentes de alterações cognitivas.

Leia sobre "Doenças nervosas degenerativas6" e "Depressão em idosos".

As descobertas lançam luz sobre os fundamentos neurobiológicos dos sintomas1 comportamentais que ocorrem nos estágios iniciais da mudança patológica do Alzheimer3, observou Munro.

“Relatamos que as mudanças nos sintomas1 de humor estão associadas ao acúmulo de amiloide em regiões cerebrais específicas relacionadas ao controle emocional, começando nos estágios pré-clínicos iniciais da doença de Alzheimer4 – um estágio que precede a demência”, disse Munro.

“Além disso, as associações entre humor e amiloide regional que observamos são independentes de evidências iniciais de declínio cognitivo”, acrescentou ela. “Juntos, isso indica que novos ou agravados sintomas1 de humor na idade adulta mais avançada podem estar relacionados à patologia2 subjacente da doença de Alzheimer4 precoce, e não apenas reações psicológicas a mudanças cognitivas.”

A análise, baseada em uma amostra de 154 participantes do Harvard Aging Brain Study, teve como objetivo determinar se as mudanças iniciais nos sintomas1 depressivos acompanhavam o acúmulo mais precoce de amiloide no cérebro7, semelhante ao que havia sido visto em outro estudo de declínio cognitivo8 e acúmulo de amiloide sublimiar.

Dados anteriores do Harvard Aging Brain Study sugeriram uma relação próxima entre humor, mudanças cognitivas e patologia2 de Alzheimer3 em estágios pré-clínicos do Alzheimer3, bem antes da demência9, observou a co-autora Jennifer Gatchel, MD, PhD, do Massachusetts General Hospital em Boston. “Nesse estudo, descobrimos que a amiloide cortical cerebral global, mesmo em níveis abaixo do que consideraríamos positivo para amiloide, teve sinergia com sintomas1 depressivos leves em idosos para prever piora no desempenho cognitivo10 ao longo do tempo”, disse Gatchel.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que sintomas1 depressivos em idosos podem ser um prenúncio da doença de Alzheimer4 (DA), mesmo em estágios pré-clínicos. Não está claro se o agravamento dos sintomas1 depressivos são manifestações de distribuições regionais da patologia2 central da DA (amiloide) e se as alterações cognitivas afetam essa relação.

O objetivo deste estudo, portanto, foi avaliar se o aumento dos sintomas1 depressivos está associado ao acúmulo de amiloide em regiões cerebrais importantes para a regulação emocional e se essas associações variam de acordo com o desempenho cognitivo10.

Os participantes do Harvard Aging Brain Study, um estudo de coorte11 longitudinal, foram submetidos a avaliações anuais de sintomas1 depressivos e cognição12 juntamente com imagens de tomografia por emissão de pósitrons (PET) da amiloide cortical no início do estudo e a cada 2 a 3 anos depois (acompanhamento médio [DP], 8,6 [2,2] anos).

A coleta de dados foi conduzida de setembro de 2010 a outubro de 2022 em uma amostra de conveniência de idosos residentes na comunidade que não apresentavam comprometimento cognitivo8 com, no máximo, depressão leve no início do estudo. Os dados foram analisados de outubro de 2022 a dezembro de 2023.

Os principais desfechos e medidas foram depressão (Escala de Depressão Geriátrica [GDS] – 30 itens), cognição12 (Composto Cognitivo8 Pré-Clínico de Alzheimer3 – 5 [PACC]) e uma medida contínua de amiloide cerebral (PET com composto B de Pittsburgh [PiB]) examinada em regiões definidas a priori (córtex orbitofrontal medial [mOFC], córtex orbitofrontal lateral, córtex frontal médio [MFC], córtex frontal superior, córtex cingulado anterior, istmo do giro do cíngulo [IGC], córtex cingulado posterior e amígdala13). As associações entre pontuações longitudinais de GDS, inclinações (slopes) amiloides regionais e inclinações (slopes) do PACC foram avaliadas usando modelos lineares de efeitos mistos.

Nesta amostra de 154 indivíduos (94 [61%] mulheres; idade média [DP], 72,6 [6,4] anos; escolaridade média [DP], 15,9 [3,1] anos), o aumento das inclinações do PiB no mOFC bilateral, no IGC e no MFC foi associado ao aumento das pontuações na GDS (mOFC: β = 11,07 [IC 95%, 5,26-16,87]; t = 3,74 [EP, 2,96]; P = 0,004; IGC: β = 12,83 [IC 95%, 5,68-19,98]; t = 3,51 [EP, 3,65]; P = 0,004; MFC: β = 9,22 [IC 95%, 2,25-16,20]; t = 2,59 [EP, 3,56]; P = 0,03). Mesmo com a inclinação do PACC como uma co-variável adicional, as associações permaneceram significativas nessas regiões.

Neste estudo de coorte11 de idosos cognitivamente não prejudicados com, no máximo, sintomas1 depressivos basais leves, maiores sintomas1 depressivos ao longo do tempo foram associados ao acúmulo de amiloide em regiões associadas ao controle emocional. Além disso, essas associações persistiram na maioria das regiões, independentemente das alterações cognitivas.

Esses resultados lançam luz sobre a neurobiologia dos sintomas1 depressivos em indivíduos idosos e ressaltam a importância do monitoramento de sintomas1 de humor elevado no início da DA.

Veja também sobre "Mal de Alzheimer3" e "Envelhecimento cerebral normal ou patológico".

 

Fontes:
JAMA Network Open, publicação em 29 de agosto de 2024.
MedPage Today, notícia publicada em 29 de agosto de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Depressão emergente foi associada à patologia mais precoce do Alzheimer. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1481565/depressao-emergente-foi-associada-a-patologia-mais-precoce-do-alzheimer.htm>. Acesso em: 23 abr. 2025.

Complementos

1 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
2 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
3 Alzheimer: Doença degenerativa crônica que produz uma deterioração insidiosa e progressiva das funções intelectuais superiores. É uma das causas mais freqüentes de demência. Geralmente começa a partir dos 50 anos de idade e tem incidência similar entre homens e mulheres.
4 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
5 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
6 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
7 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
8 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
9 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
10 Desempenho cognitivo: Desempenho dos processos de aprendizagem e de aquisição de conhecimento através da percepção.
11 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
12 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
13 Amígdala: Designação comum a vários agregados de tecido linfoide, especialmente o que se situa à entrada da garganta; tonsila.

Resultados de busca relacionada no catalogo.med.br:

Lauro Figueira Pinto

Neurologista

Uberlândia/MG

Maria Clara Coutinho Pereira

Psiquiatria da Infância e Adolescência

Belo Horizonte/MG

Philipe Marques da Cunha

Neurologista

Sete Lagoas/MG

Gostou do artigo? Compartilhe!