Adesivo elétrico na pele pode manter feridas livres de infecção
Um adesivo que aplica pulsos elétricos na pele1 pode ser usado antes ou depois de uma cirurgia para evitar que bactérias que vivem inofensivamente na pele1 entrem no corpo e causem envenenamento do sangue2, reduzindo nossa dependência de antibióticos. As descobertas foram publicadas no periódico científico Device.
A bactéria3 Staphylococcus epidermidis geralmente vive inofensivamente na pele1 humana, mas se entrar no corpo após uma cirurgia ou por meio de rachaduras na pele1 devido a condições como psoríase4, pode causar infecções5 na corrente sanguínea, o que pode levar a uma pressão arterial6 perigosamente baixa.
Os antibióticos podem prevenir e tratar essas infecções5, mas isso levou ao surgimento de cepas7 de S. epidermidis resistentes a antibióticos. Procurando outra abordagem, Bozhi Tian da Universidade de Chicago e seus colegas consideraram o potencial dos pulsos elétricos, que já haviam demonstrado matar bactérias.
Os pesquisadores criaram adesivos plásticos quadrados com 1 milímetro de largura, cada um contendo eletrodos de ouro que, quando conectados, produzem pulsos elétricos que não podem ser sentidos pelas pessoas. Eles então espalharam uma cepa8 de S. epidermidis em cinco amostras de pele1 de porco desinfetada e colocaram um adesivo em cima de cada pedaço.
Após eletrocutar a pele1 por 10 segundos a cada 10 minutos por 18 horas, a equipe descobriu que os níveis de S. epidermidis foram reduzidos 10 vezes nessas amostras em comparação com outras que tiveram adesivos colocados, mas que não forneceram pulsos elétricos.
A intervenção também interrompeu a capacidade das bactérias de se unirem para formar uma camada chamada biofilme, que tem sido associada a infecções5 mais graves.
Leia sobre "Tratamento de feridas", "Curativos" e "Infecções5 oportunistas".
Os resultados sugerem que os adesivos, que teoricamente poderiam ser cortados em qualquer tamanho, poderiam reduzir o risco de infecções5 graves por S. epidermidis resistentes a medicamentos, diz Tian.
O uso generalizado de antibióticos está causando um aumento na resistência aos medicamentos e essa abordagem alternativa pode ajudar a desacelerar a crise, diz Munehiro Asally da Universidade de Warwick, Reino Unido. Mas não está claro como os adesivos podem afetar outras bactérias na pele1 que também podem causar envenenamento do sangue2, ele diz.
A equipe de Tian planeja explorar isso em estudos posteriores e, esperançosamente, testar a abordagem em animais vivos em cerca de um ano.
Confira a seguir o resumo do artigo publicado.
Controle bioeletrônico sem medicamentos de patógenos oportunistas por meio de excitabilidade seletiva
Panorama geral
Células9 de mamíferos, como neurônios10 e cardiomiócitos, são eletricamente excitáveis. Dispositivos como marcapassos e estimuladores neurais exploram essa característica para terapias elétricas sem medicamentos. Em contraste, a excitabilidade de bactérias residentes tem sido menos explorada, apesar de seu papel crucial na saúde11 humana.
Se a excitabilidade da microbiota12 humana pudesse ser aproveitada de forma semelhante para controle bioeletrônico sem medicamentos, ela poderia fornecer soluções para resistência a antibióticos em infecções5 oportunistas.
Neste estudo, explorou-se a excitabilidade elétrica da Staphylococcus epidermidis, uma bactéria3 que vive na pele1 responsável por infecções5 clínicas comuns. Embora não respondesse em pH neutro, descobriu-se que as bactérias se tornavam eletricamente excitáveis no ambiente ácido da pele1 saudável. Chamou-se isso de “excitabilidade seletiva”, pois as bactérias eram seletivas ou exigentes quanto ao ambiente em que exibiam excitabilidade.
Explorando a excitabilidade seletiva, suprimiu-se os fatores de virulência13 bacteriana com estimulação elétrica suave. Este método oferece métodos localizados, programáveis e sem antibióticos para controlar patógenos oportunistas.
Destaques
- O pH saudável da pele1 confere excitabilidade elétrica ao Staphylococcus epidermidis.
- As bactérias eletricamente sensibilizadas são suprimidas por estimulação elétrica suave.
- Dispositivo bioeletrônico flexível reduz biofilmes bacterianos na pele1 suína.
Resumo
A excitabilidade natural em tecidos de mamíferos tem sido amplamente explorada para terapias eletrocêuticas sem medicamentos. No entanto, não está claro se os residentes bacterianos no corpo humano14 são igualmente excitáveis e se sua excitabilidade também pode ser aproveitada para tratamento bioeletrônico sem medicamentos.
Usando uma plataforma microeletrônica, examinou-se a excitabilidade elétrica da Staphylococcus epidermidis, uma bactéria3 residente na pele1 responsável por infecções5 clínicas generalizadas. Descobriu-se que um estímulo elétrico não letal poderia excitar a S. epidermidis, induzindo mudanças reversíveis no potencial de membrana.
Curiosamente, a S. epidermidis tornou-se excitável apenas sob pH ácido da pele1, indicando que as bactérias eram “seletivas” sobre o ambiente em que demonstravam excitabilidade. Essa excitabilidade seletiva permitiu a supressão programável da formação de biofilme usando voltagens de estimulação benignas.
Por fim, demonstrou-se a supressão de S. epidermidis em um modelo de pele1 suína usando um adesivo eletrocêutico flexível.
Esse trabalho mostra que a excitabilidade inata de bactérias residentes pode ser ativada seletivamente para controle bioeletrônico sem medicamentos.
Veja também sobre "Usos e abusos dos antibióticos" e "A resistência aos antibióticos e as superbactérias".
Fontes:
Device, Vol. 2, Nº 11, em novembro de 2024.
New Scientist, notícia publicada em 24 de outubro de 2024.