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Pacientes com sobrecarga de ferro apresentam um risco 55% maior de qualquer fratura óssea

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A associação da sobrecarga de ferro com a diminuição da densidade mineral óssea é estabelecida, mas sua relação com o risco de fratura1 osteoporótica permanece pouco estudada e inconsistente entre os locais de fratura1.

Pesquisadores conduziram um estudo de coorte2 populacional usando um banco de dados de clínica geral do Reino Unido para avaliar o risco de fratura1 em 20.264 pacientes com sobrecarga de ferro e 192.956 controles pareados sem ferritina elevada (idade média, 57 anos; cerca de 40% mulheres). Os resultados foram publicados no The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism.

Pacientes com sobrecarga de ferro foram identificados como aqueles com sobrecarga de ferro confirmada em laboratório (níveis de ferritina sérica >1000 μg/L; n = 13.510) ou um diagnóstico3 de um distúrbio de sobrecarga de ferro, como talassemia4 maior, anemia falciforme5 ou hemocromatose6 (n = 6.754).

O desfecho primário de interesse foi a primeira ocorrência de uma fratura1 osteoporótica após o diagnóstico3 de sobrecarga de ferro ou primeiro registro de ferritina alta.

Saiba mais sobre "Níveis de ferritina alterados", "Fratura1 óssea" e "Densitometria7 óssea".

Uma análise de sensibilidade foi conduzida para verificar o impacto da sobrecarga de ferro confirmada em laboratório no risco de fratura1 osteoporótica em comparação com um código de diagnóstico3 sem ferritina elevada.

Na coorte8 geral, os pacientes com sobrecarga de ferro tiveram um risco 55% maior de qualquer fratura1 osteoporótica do que os indivíduos de controle (razão de risco ajustada [aHR], 1,55; IC de 95%, 1,42-1,68), com o maior risco observado para fraturas vertebrais (aHR, 1,97; IC de 95%, 1,63-2,37) e fraturas de úmero9 (aHR, 1,91; IC de 95%, 1,61-2,26).

Pacientes com sobrecarga de ferro confirmada em laboratório apresentaram um risco 91% maior de qualquer fratura1 (aHR, 1,91; IC 95%, 1,73-2,10), com um risco 2,5 vezes maior observado para fraturas vertebrais (aHR, 2,51; IC 95%, 2,01-3,12), seguido por fraturas de úmero9 (aHR, 2,41; IC 95%, 1,96-2,95).

Não houve risco aumentado de fratura1 em nenhum local em pacientes com diagnóstico3 de transtorno de sobrecarga de ferro, mas sem sobrecarga de ferro confirmada em laboratório.

Nenhuma diferença específica de sexo foi identificada na associação entre sobrecarga de ferro e risco de fratura1.

A principal mensagem clínica das descobertas é que os médicos devem considerar a sobrecarga de ferro como um fator de risco10 para fratura1. É importante ressaltar que, entre pacientes de alto risco que apresentam valores de ferritina sérica superiores a 1000 μg/L, as estratégias de triagem e tratamento da osteoporose11 devem ser iniciadas de acordo com as diretrizes para pacientes12 com doença hepática13.

O estudo teve algumas limitações. Não foi possível avaliar a duração da sobrecarga de ferro no risco de fratura1 e, portanto, os pacientes puderam entrar na coorte8 com um único valor elevado de ferritina sérica que pode não ter refletido a sobrecarga sistêmica de ferro. Os autores também reconheceram a potencial classificação incorreta da exposição entre indivíduos de controle pareados porque apenas 2,9% tinham um valor de ferritina sérica disponível na linha de base. Além disso, os pesquisadores não conseguiram ajustar para o status da inflamação14 devido à disponibilidade limitada de medições de proteína C-reativa e à falta de dados de contagem de leucócitos15 em ambientes de atenção primária.

Confira a seguir o resumo do artigo publicado.

Aumento do risco de fratura1 entre pacientes com sobrecarga de ferro

Os distúrbios de sobrecarga de ferro estão associados à diminuição da densidade mineral óssea. No entanto, as evidências sobre o risco de fratura1 são escassas. Portanto, avaliou-se o risco de fratura1 associado aos distúrbios de sobrecarga de ferro em comparação aos controles correspondentes.

Usando o Healthcare Improvement Network, um banco de dados da organização Cegedim que reúne dados de clínica geral do Reino Unido, identificou-se pacientes com >18 anos de idade com ferro elevado (valor de ferritina >1000 µg/L) ou um código de diagnóstico3 elegível para distúrbios de sobrecarga de ferro entre 2010 e 2022. A primeira data de ferro elevado ou um código de diagnóstico3 definiu a data índice para pacientes12 com sobrecarga de ferro, que foram pareados com até 10 controles. Os modelos de risco proporcional de Cox ajustados por fatores de confusão e variáveis no tempo estimaram as razões de risco (HRs) e intervalos de confiança de 95%. As análises foram estratificadas por local de fratura1 osteoporótica (quadril, vertebral, úmero9, antebraço16) e evidência de ferritina sérica elevada na linha de base (ferritina >1000 µg/L) e sexo.

Identificou-se 20.264 pacientes elegíveis e 192.956 controles. No geral, houve um aumento de 55% no risco de qualquer fratura1 entre pacientes com sobrecarga de ferro (HR 1,55 [1,42-1,68]). O risco de fratura1 aumentou em todos os locais, com o maior risco observado para fraturas vertebrais (HR 1,97 [1,63-2,10]). Pacientes com ferritina >1000 µg/L tiveram um aumento de 91% no risco de qualquer fratura1 (HR 1,91 [1,73-2,16]) e um aumento de 2,5 vezes no risco de fraturas vertebrais (HR 2,51 [2,01-3,12]). Não houve aumento no risco entre pacientes sem ferritina sérica elevada em nenhum local. O risco de fratura1 foi semelhante entre os sexos.

Este grande estudo de coorte2 de base populacional encontrou um aumento de 55% no risco de fratura1 associado à sobrecarga de ferro. O risco foi maior entre pacientes com sobrecarga de ferro confirmada em laboratório, destacando a importância dos médicos considerarem iniciar a terapia para osteoporose11 em pacientes com ferritina sérica >1000 µg/L para minimizar o risco de fratura1.

Leia sobre "Fratura1 espontânea", "Reservas de ferro do organismo" e "Metabolismo17 do ferro".

 

Fontes:
The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, publicação em 18 de novembro de 2024.
Medscape, notícia publicada em 04 de dezembro de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Pacientes com sobrecarga de ferro apresentam um risco 55% maior de qualquer fratura óssea. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1480135/pacientes-com-sobrecarga-de-ferro-apresentam-um-risco-55-maior-de-qualquer-fratura-ossea.htm>. Acesso em: 13 jan. 2025.

Complementos

1 Fratura: Solução de continuidade de um osso. Em geral é produzida por um traumatismo, mesmo que possa ser produzida na ausência do mesmo (fratura patológica). Produz como sintomas dor, mobilidade anormal e ruídos (crepitação) na região afetada.
2 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
3 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
4 Talassemia: Anemia mediterrânea ou talassemia. Tipo de anemia hereditária, de transmissão recessiva, causada pela redução ou ausência da síntese da cadeia de hemoglobina, uma proteína situada no interior do glóbulos vermelhos e que tem a função de transportar o oxigênio. É classificada dentro das hemoglobinopatias. Afeta principalmente populações da Itália e da Grécia (e seus descendentes), banhadas pelo Mar Mediterrâneo.
5 Anemia falciforme: Doença hereditária que causa a má formação das hemácias, que assumem forma semelhante a foices (de onde vem o nome da doença), com maior ou menor severidade de acordo com o caso, o que causa deficiência do transporte de gases nos indivíduos que possuem a doença. É comum na África, na Europa Mediterrânea, no Oriente Médio e em certas regiões da Índia.
6 Hemocromatose: Distúrbio metabólico caracterizado pela deposição de ferro nos tecidos em virtude de seu excesso no organismo. Os locais em que o ferro mais se deposite são fígado, pâncreas, coração e hipófise.
7 Densitometria: Medição de densidade óptica em chapas fotográficas.
8 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
9 Úmero:
10 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
11 Osteoporose: Doença óssea caracterizada pela diminuição da formação de matriz óssea que predispõe a pessoa a sofrer fraturas com traumatismos mínimos ou mesmo na ausência deles. É influenciada por hormônios, sendo comum nas mulheres pós-menopausa. A terapia de reposição hormonal, que administra estrógenos a mulheres que não mais o produzem, tem como um dos seus objetivos minimizar esta doença.
12 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
13 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
14 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
15 Leucócitos: Células sangüíneas brancas. Compreendem tanto os leucócitos granulócitos (BASÓFILOS, EOSINÓFILOS e NEUTRÓFILOS) como os não granulócitos (LINFÓCITOS e MONÓCITOS). Sinônimos: Células Brancas do Sangue; Corpúsculos Sanguíneos Brancos; Corpúsculos Brancos Sanguíneos; Corpúsculos Brancos do Sangue; Células Sanguíneas Brancas
16 Antebraço:
17 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.

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