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Riscos cerebrais diminuem quando a dieta inclui mais alimentos minimamente processados

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Uma dieta rica em alimentos ultraprocessados aumentou o risco de comprometimento cognitivo1 ou acidente vascular cerebral2, mostraram dados do estudo prospectivo3 REGARDS, publicados no periódico científico Neurology.

No entanto, o risco de declínio cognitivo1 ou acidente vascular cerebral2 caiu para as pessoas que ingeriam mais alimentos não processados ou minimamente processados, relataram W. Taylor Kimberly, MD, PhD, da Harvard Medical School em Boston, e co-autores.

Um aumento de 10% na ingestão relativa de alimentos ultraprocessados aumentou o risco de comprometimento cognitivo1 em 16% e de acidente vascular cerebral2 em 8%. Um aumento de 10% em alimentos não processados ou minimamente processados reduziu o risco de comprometimento cognitivo1 em 12% e o risco de acidente vascular cerebral2 em 9%.

O efeito dos alimentos ultraprocessados no risco de acidente vascular cerebral2 foi maior entre os participantes negros do que entre os brancos, descobriram os pesquisadores.

As duas condições neurológicas mais comuns que levam à saúde4 cerebral prejudicada são o acidente vascular cerebral2 e o declínio cognitivo1, observou Kimberly. “Sabíamos, por meio de nossos estudos anteriores e de estudos publicados por outros grupos, que a dieta tinha um impacto em ambos os resultados”, disse ele.

Mas esses estudos se concentraram em padrões alimentares como as dietas mediterrânea, DASH e MIND, destacou Kimberly. “Raciocinamos que não é apenas o tipo de alimento que importa, mas também a forma como é processado”, disse ele.

O estudo avaliou quatro categorias de alimentos com base no sistema de classificação NOVA: NOVA1 (alimentos não processados ou minimamente processados), NOVA2 (ingredientes culinários processados), NOVA3 (alimentos processados5) e NOVA4 (alimentos ultraprocessados).

Alimentos não processados ou minimamente processados incluíam frutas e vegetais cortados, resfriados ou congelados; cortes de aves, peixes ou carne; massas secas ou frescas; grãos; leguminosas; ovos; frutas secas; nozes e sementes sem sal; ervas e especiarias frescas ou secas; leite ou iogurte sem adição de açúcar6; e café, chá ou água.

Alimentos ultraprocessados eram formulações industriais feitas a partir de substâncias extraídas de alimentos ou constituintes alimentares, ou sintetizadas em laboratório a partir de substratos alimentares ou outras fontes orgânicas. Estes incluíam carne, peixe, vegetais, pizza, pratos de massa, hambúrgueres e cachorros-quentes preparados, bebidas energéticas, leite achocolatado, iogurtes aromatizados e pães, cereais, bolos, biscoitos e outros lanches embalados.

Saiba mais sobre "O que é uma alimentação saudável", "Envelhecimento cerebral normal ou patológico" e "Medicina do estilo de vida e seus pilares".

O estudo destaca o “papel significativo dos níveis de processamento de alimentos e sua relação com resultados neurológicos adversos, independentemente dos padrões alimentares convencionais”, observou Peipei Gao, da Harvard T.H. Chan School of Public Health, em Boston, e Zhendong Mei, PhD, da Harvard Medical School, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

“Os mecanismos subjacentes ao impacto dos alimentos ultraprocessados nos resultados neurológicos adversos podem ser atribuídos não apenas aos seus perfis nutricionais – má composição nutricional e alta carga glicêmica, que podem causar desregulação metabólica (por exemplo, obesidade7, hipertensão8, dislipidemia e tipo 2), promovendo assim a disfunção vascular9 – mas também à presença de aditivos, incluindo emulsionantes, corantes, adoçantes e nitratos/nitritos, que têm sido associados a perturbações no ecossistema microbiano intestinal e à inflamação”, escreveram os editorialistas.

A coorte10 REGARDS é enriquecida com participantes de uma região com alta prevalência11 de AVC, observaram Gao e Mei. “Curiosamente, o estudo revelou a heterogeneidade na ligação entre alimentos ultraprocessados e risco de acidente vascular cerebral2, com uma associação mais forte observada entre os participantes negros, o que é um caminho para estudos mais aprofundados”, observaram.

A pesquisa teve várias limitações: a ingestão alimentar foi autorrelatada e a natureza observacional do estudo impediu conclusões causais. No entanto, o estudo fornece uma razão para estarmos atentos aos alimentos que comemos, disse Kimberly.

“É importante reconhecer que os alimentos ultraprocessados são convenientes, tendem a ter uma vida útil mais longa e são concebidos para apelar ao nosso paladar”, destacou.

Mas o consumo cada vez menor de alimentos ultraprocessados foi associado a um melhor perfil de saúde4 cerebral, observou Kimberly: “Como os padrões de dieta e a saúde4 do cérebro12 são uma relação de longo prazo, pode fazer sentido buscar pequenas mudanças que sejam sustentáveis ao longo do tempo, em vez de mudanças dramáticas que podem ser difíceis de manter.”

No artigo publicado, os pesquisadores avaliaram as associações entre o consumo de alimentos ultraprocessados e resultados adversos para a saúde4 cerebral.

Eles relatam que alimentos ultraprocessados (AUPs) estão associados a doenças cardiometabólicas e resultados neurológicos, como declínio cognitivo1 e acidente vascular cerebral2. No entanto, não está claro se o processamento de alimentos confere risco neurológico independente da informação do padrão alimentar.

O objetivo do estudo foi (1) investigar associações entre AUPs e comprometimento cognitivo1 e acidente vascular cerebral2 incidentes13 e (2) comparar essas associações com outros padrões alimentares comumente recomendados no estudo REasons for Geographic and Racial Differences in Stroke. Este estudo de coorte14 prospectivo3 e observacional inscreveu adultos negros e brancos nos Estados Unidos de 2003 a 2007.

O sistema NOVA foi utilizado para categorizar itens de um questionário basal de frequência alimentar de acordo com o nível de processamento. Foram excluídos os participantes com dados dietéticos autorreferidos incompletos ou implausíveis. O consumo de cada categoria (gramas) foi normalizado para o total de gramas consumidas.

Pontuações que quantificam a adesão às dietas Mediterrânea, Abordagens Dietéticas para Parar a Hipertensão8 (DASH) e Intervenção Mediterrânea-DASH para Atraso Neurodegenerativo (MIND) também foram calculadas.

O comprometimento cognitivo1 incidente15 foi definido usando o desempenho relativo a uma amostra normativa em avaliações de memória e fluência. O acidente vascular cerebral2 incidente15 foi identificado através de revisão julgada de registros médicos.

A coorte10 de comprometimento cognitivo1 (n = 14.175) incluiu participantes sem evidência de comprometimento no início do estudo que foram submetidos a testes de acompanhamento. A coorte10 de AVC (n = 20.243) incluiu participantes sem histórico de AVC.

Em modelos multivariáveis de riscos proporcionais de Cox, um aumento de 10% na ingestão relativa de AUPs foi associado a maior risco de comprometimento cognitivo1 (taxa de risco [HR] = 1,16, IC 95% 1,09-1,24, p = 1,01 × 10-5) e um aumento de 10% na ingestão de alimentos não processados ou minimamente processados foi associado a menor risco de comprometimento cognitivo1 (HR = 0,88, IC 95% 0,83-0,94, p = 1,83 × 10-4).

Maior consumo de AUPs (HR = 1,08, IC 95% 1,02-1,14, p = 1,12 × 10-2) e de alimentos não processados ou minimamente processados (HR = 0,91, IC 95% 0,86-0,95, p = 2,13 × 10-4) também foram associados ao risco de acidente vascular cerebral2 em modelos multivariáveis de Cox.

O efeito dos AUPs no risco de AVC foi maior entre os participantes negros do que entre os brancos (interação AUP-por-raça HR = 1,15, IC 95% 1,03-1,29, p = 1,50 × 10-2). As associações entre AUPs e comprometimento cognitivo1 e acidente vascular cerebral2 foram independentes da adesão às dietas Mediterrânea, DASH e MIND.

O estudo concluiu que o processamento de alimentos pode ser importante para a saúde4 cerebral em idosos, independentemente dos fatores de risco conhecidos e da adesão aos padrões alimentares recomendados.

Leia sobre "Doenças cerebrovasculares", "Distúrbio neurocognitivo" e "Acidente Vascular Cerebral2".

 

Fontes:
Neurology, publicação em 22 de maio de 2024.
MedPage Today, notícia publicada em 22 de maio de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Riscos cerebrais diminuem quando a dieta inclui mais alimentos minimamente processados. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1470127/riscos-cerebrais-diminuem-quando-a-dieta-inclui-mais-alimentos-minimamente-processados.htm>. Acesso em: 24 nov. 2024.

Complementos

1 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
2 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
3 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Alimentos processados: São aqueles que passam por processamento industrial (larga escala) ou doméstico, contendo elementos químicos. Este processo de transformação, mesmo que caseiro, é percebido como menos saudável que o natural. Geralmente estes produtos sofrem junção com outro tipo de produto, como conservantes, ou alterações em sua temperatura. Exemplo: qualquer produto enlatado, engarrafado ou embutidos.
6 Açúcar: 1. Classe de carboidratos com sabor adocicado, incluindo glicose, frutose e sacarose. 2. Termo usado para se referir à glicemia sangüínea.
7 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
8 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
9 Vascular: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
10 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
11 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
12 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
13 Incidentes: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
14 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
15 Incidente: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
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