Estudo aponta sucesso duradouro da estratégia de tratamento baseado em metas na artrite reumatoide
O sucesso da terapia “treat-to-target” para a artrite reumatoide1 (AR) em estágio inicial durou até 20 anos, de acordo com pesquisadores que acompanharam os participantes em dois dos primeiros ensaios clínicos2 destinados a testar a estratégia. Essa estratégia de tratamento consiste em definir metas terapêuticas precisas, monitorar a resposta com frequência e intensificar o tratamento se os alvos não forem atingidos.
A maioria dos pacientes nos ensaios – que visavam a remissão sem medicamentos em um e baixa atividade da doença no outro – mantiveram os benefícios quando examinados novamente 7 a 10 anos após o final dos ensaios, ou seja, 12 a 20 anos após o início do tratamento, relataram Sascha L. Heckert, MD, da Universidade de Leiden, na Holanda, e colegas, em estudo publicado na revista científica Rheumatology.
Nos exames de acompanhamento, 91% desses pacientes apresentavam baixa atividade da doença (Disease Activity Score [DAS] <2,4) e 68% estavam em remissão (DAS <1,6).
A atividade da doença não foi completamente erradicada, entretanto. Algum grau de progressão radiográfica era comum, mas o grupo de Heckert identificou essa progressão como “relativamente leve”. Da mesma forma, a função física estava “relativamente preservada”, com alguma piora evidente. Heckert e colegas acrescentaram que o estudo representa o acompanhamento de mais longo prazo já relatado para estratégias de tratamento baseado em metas na AR.
“Nossos resultados implicam o benefício duradouro do tratamento precoce e prolongado, mas também mostram que ainda há espaço para melhorias adicionais nas estratégias de tratamento para garantir melhores resultados em longo prazo em pacientes com AR/AI (artrite3 indiferenciada)”, os autores concluíram.
O objetivo do estudo era avaliar os resultados da doença após 20 e 12 anos de pacientes com artrite reumatoide1 (AR) ou artrite3 indiferenciada (AI), tratados com base em metas nos ensaios BeSt e IMPROVED.
Leia sobre "Artrite3: por que acontece" e "Artrite reumatoide1".
No BeSt (inclusão 2000-2002, duração de 10 anos), 508 pacientes com AR de início recente foram randomizados para:
- monoterapia sequencial
- terapia combinada4 progressiva
- terapia combinada4 inicial com csDMARD (Antirreumáticos Modificadores da Doença sintéticos convencionais)
- terapia combinada4 inicial com bDMARD (Antirreumáticos Modificadores da Doença biológicos) / csDMARD
A meta do tratamento foi baixa atividade da doença (DAS ≤2,4).
No estudo IMPROVED (inclusão 2007-2010, duração de 5 anos), 610 pacientes com AR/AI de início recente iniciaram MTX (metotrexato) com ponte de prednisona. A meta do tratamento foi a remissão (DAS <1,6). Os pacientes que não estavam em remissão precoce foram randomizados para:
- terapia combinada4 com csDMARD
- ou terapia combinada4 com bDMARD/csDMARD
Entre 2019-2022, esses pacientes foram convidados para acompanhamento de longo prazo.
Cento e cinquenta e três pacientes ex-BeSt e 282 ex-IMPROVED participaram do estudo de acompanhamento após uma mediana de 12 e 20 anos desde o início do estudo.
Nos pacientes ex-BeSt e ex-IMPROVED, a taxa de baixa atividade da doença foi de 91% e 68% estavam em remissão de acordo com a DAS. A mediana do Escore de Sharp van der Heijde (SHS) foi de 14,0 em participantes ex-BeSt (IQR 6,0-32,5; progressão desde o final de BeSt 6,0, IQR 2,0-12,5) e 8 em participantes ex-IMPROVED (IQR 3-16; progressão desde o final de IMPROVED 4, IQR 2-9).
A pontuação média no Health Assessment Questionnaire (HAQ) foi de 0,8 ± 0,6 em participantes ex-BeSt (mudança desde o final do BeSt: 0,3 ± 0,5) e 0,6 ± 0,6 nos participantes ex-IMPROVED (mudança desde o final do IMPROVED: 0,06 ± 0,5).
Entre os ex-participantes do BeSt, 17% disseram não tomar medicamentos antirreumáticos; 28% tomavam um único medicamento convencional modificador da doença, como o metotrexato; e a maioria dos restantes utilizava algum tipo de terapia direcionada, isoladamente ou com medicamentos antirreumáticos convencionais.
Mais participantes do IMPROVED não tomavam nenhum medicamento para AR (26%) ou apenas um agente convencional (31%). Da mesma forma, menos pessoas recorreram a medicamentos biológicos ou não biológicos direcionados (30%).
Nem todos os participantes nos ensaios atingiram as metas de baixa atividade ou remissão da doença na última consulta regular do estudo. Mas entre aqueles que o fizeram e voltaram para os exames do novo estudo, as taxas de permanência na meta foram extremamente altas:
- Baixa atividade da doença no BeSt: 110/117 ou 94%
- Remissão no BeSt: 57/70 ou 81%
- Baixa atividade da doença no IMPROVED: 228/245 ou 93%
- Remissão no IMPROVED: 131/170 ou 77%
Não é de surpreender que as taxas destes resultados tenham sido mais baixas entre aqueles que não atingiram as metas nos ensaios originais. Mas não foram ruins para uma doença crônica e progressiva, na faixa de 50%-60% para remissão e 70%-80% para baixa atividade da doença.
O estudo concluiu que, aos 12/20 anos após o início do tratamento, a maioria dos pacientes com AR e AI que foram tratados para atingir baixa DAS ou remissão de acordo com a DAS estavam em remissão e tinham incapacidade funcional limitada. A progressão do dano radiográfico foi leve, embora não completamente suprimida.
Veja também sobre "Doenças dos ossos" e "Patologias dos dedos das mãos5 e dos pés".
Fontes:
Rheumatology, publicação em 01 de abril de 2024.
MedPage Today, notícia publicada em 04 de abril de 2024.