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Testes de rastreio não invasivos se mostram promissores para detectar câncer colorretal

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A detecção precoce do câncer1 colorretal pode prevenir a maioria das mortes por esta doença, possivelmente até 73% delas. Mas apenas 50 a 75 por cento dos adultos de meia-idade e idosos que deveriam ser rastreados regularmente estão sendo testados.

Uma razão, dizem os médicos, é que os métodos de triagem desanimam muitas pessoas.

Existem duas opções para pessoas de risco médio: uma colonoscopia2 a cada 10 anos, a partir dos 45 anos, ou um exame de fezes a cada um ou três anos, dependendo do tipo de exame.

Mas algo muito mais simples está por vir: um exame de sangue3. Os gastroenterologistas dizem que esses testes podem se tornar parte dos exames de sangue3 de rotina que os médicos solicitam quando, por exemplo, uma pessoa chega para um exame físico anual.

O exame de sangue3 aproveita a descoberta de que os cânceres colorretais e os grandes pólipos4 – aglomerados de células5 no revestimento do cólon6 que ocasionalmente se transformam em câncer1 – libertam fragmentos7 de DNA no sangue3.

A análise de DNA também pode ser útil no exame de fezes, melhorando sua precisão.

Dois novos estudos, ambos publicados no The New England Journal of Medicine, sugerem que dois testes de rastreio não invasivos pareceram ser eficazes na detecção do câncer1 colorretal numa população de risco médio.

Leia sobre "Pólipos4 intestinais podem virar câncer1?", "Colonoscopia2: como é o exame" e "Polipose adenomatosa familiar".

No estudo BLUE-C, um teste de DNA de fezes multialvo de última geração teve maior probabilidade de detectar câncer1 colorretal em comparação com o teste imunoquímico fecal (FIT) padrão, com uma sensibilidade de 93,9% versus 67,3%, bem como lesões8 pré-cancerosas avançadas (43,4% vs 23,3%), relataram Thomas F. Imperiale, MD, da Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana, em Indianápolis, EUA, e colegas.

A especificidade para neoplasia9 avançada foi de 90,6% com o teste de última geração, o que foi uma melhoria em relação ao atual teste de DNA de fezes multialvo, mas foi inferior à especificidade de 94,8% do teste FIT.

Já os resultados do estudo ECLIPSE mostraram que um teste de DNA livre de células5 (cfDNA) baseado em sangue3 tinha uma sensibilidade de 83,1% para câncer1 colorretal e uma especificidade de 89,6% para neoplasia9 avançada, relataram William M. Grady, MD, do Fred Hutchinson Cancer1 Center em Seattle, EUA, e colegas.

“Os limites inferiores dos intervalos de confiança de 95% para sensibilidade para câncer1 colorretal e especificidade para neoplasia9 avançada atenderam aos critérios de aceitação pré-especificados, conforme estabelecido em outros testes de rastreio para câncer1 colorretal aprovados pela FDA”, escreveram Grady e equipe.

Os autores de ambos os estudos observaram que, embora o rastreio assintomático reduza a incidência10 de câncer1 colorretal e mortes relacionadas e seja recomendado por múltiplas sociedades profissionais, a adesão ao rastreio do câncer1 colorretal é de apenas cerca de 60% – bem abaixo da meta de 80% estabelecida pela National Colorectal Cancer1 Roundtable.

Em um editorial que acompanhou a publicação dos dois estudos, John M. Carethers, MD, da Universidade da Califórnia em San Diego, sugeriu que o melhor teste de triagem “é aquele que é realizado pelo paciente”.

“A maioria dos testes recomendados, incluindo os dois testes mais recentes avaliados nos estudos, melhoram a sensibilidade e aproximam-se da especificidade do FIT, de modo que estes testes parecem ser pelo menos tão eficazes quanto o FIT”, acrescentou. “A adesão ao rastreio é um fator chave e a facilidade de utilização do teste pode contribuir para uma maior adesão”.

Assim, a esperança é que estes testes mais recentes “aumentem a utilização e a adesão e elevem a percentagem da população submetida ao rastreio, a fim de reduzir as mortes por câncer1 colorretal”, escreveu ele.

Estudo BLUE-C: Teste de DNA de fezes multialvo de última geração para rastreio de câncer1 colorretal

Um teste de DNA de fezes multialvo de última geração, incluindo avaliações de marcadores moleculares de DNA e nível de hemoglobina11, foi desenvolvido para melhorar o desempenho do rastreamento do câncer1 colorretal, principalmente no que diz respeito à especificidade.

Em um estudo prospectivo12, avaliou-se um teste de DNA de fezes multialvo de última geração em adultos assintomáticos com 40 anos de idade ou mais que estavam sendo submetidos à colonoscopia2 de rastreio.

Os desfechos primários foram sensibilidade do teste para câncer1 colorretal e especificidade para neoplasia9 avançada (câncer1 colorretal ou lesões8 pré-cancerosas avançadas). Lesões8 pré-cancerosas avançadas incluíram um ou mais adenomas ou lesões8 serrilhadas sésseis medindo pelo menos 1 cm na dimensão mais longa, lesões8 com características histológicas13 de vilosidades e displasia14 de alto grau.

Os objetivos secundários incluíram a quantificação da sensibilidade para lesões8 pré-cancerosas avançadas e especificidade para achados não neoplásicos15 ou colonoscopia2 negativa e comparação de sensibilidades para câncer1 colorretal e lesões8 pré-cancerosas avançadas entre o teste de DNA de fezes multialvo e um teste imunoquímico fecal (FIT) disponível comercialmente.

Dos 20.176 participantes, 98 tinham câncer1 colorretal, 2.144 tinham lesões8 pré-cancerosas avançadas, 6.973 tinham adenomas não avançados e 10.961 tinham achados não neoplásicos15 ou colonoscopia2 negativa.

Com o teste de última geração, a sensibilidade para câncer1 colorretal foi de 93,9% (intervalo de confiança [IC] de 95%, 87,1 a 97,7) e a especificidade para neoplasia9 avançada foi de 90,6% (IC 95%, 90,1 a 91,0). A sensibilidade para lesões8 pré-cancerosas avançadas foi de 43,4% (IC 95%, 41,3 a 45,6) e a especificidade para achados não neoplásicos15 ou colonoscopia2 negativa foi de 92,7% (IC 95%, 92,2 a 93,1).

Com o FIT, a sensibilidade foi de 67,3% (IC 95%, 57,1 a 76,5) para câncer1 colorretal e 23,3% (IC 95%, 21,5 a 25,2) para lesões8 pré-cancerosas avançadas; a especificidade foi de 94,8% (IC 95%, 94,4 a 95,1) para neoplasia9 avançada e 95,7% (IC 95%, 95,3 a 96,1) para achados não neoplásicos15 ou colonoscopia2 negativa.

Em comparação com o FIT, o teste de última geração apresentou sensibilidade superior para câncer1 colorretal (P <0,001) e para lesões8 pré-cancerosas avançadas (P <0,001), mas teve menor especificidade para neoplasia9 avançada (P <0,001). Nenhum evento adverso ocorreu.

O estudo concluiu que o teste de DNA de fezes multialvo de última geração mostrou maior sensibilidade para câncer1 colorretal e lesões8 pré-cancerosas avançadas do que o FIT, mas também mostrou menor especificidade.

Veja também sobre "Câncer1 Colorretal", "Prevenção do câncer1" e "Marcadores tumorais: para que eles servem".

Estudo ECLIPSE: Um teste de DNA livre de células5 baseado em sangue3 para rastreio de câncer1 colorretal

O câncer1 colorretal é o terceiro câncer1 mais diagnosticado em adultos nos Estados Unidos. A detecção precoce poderia prevenir mais de 90% das mortes relacionadas ao câncer1 colorretal, mas mais de um terço da população elegível para rastreio não está em dia com o rastreio, apesar dos múltiplos testes disponíveis.

Um exame de sangue3 tem o potencial de melhorar a adesão ao rastreio, detectar o câncer1 colorretal mais cedo e reduzir a mortalidade16 relacionada ao câncer1 colorretal.

Neste estudo, avaliou-se as características de desempenho de um teste sanguíneo de DNA livre de células5 (cfDNA) em uma população elegível para rastreamento de câncer1 colorretal. Os desfechos co-primários foram sensibilidade para câncer1 colorretal e especificidade para neoplasia9 avançada (câncer1 colorretal ou lesões8 pré-cancerosas avançadas) em relação à colonoscopia2 de rastreamento. O desfecho secundário foi a sensibilidade para detectar lesões8 pré-cancerosas avançadas.

A coorte17 de validação clínica incluiu 10.258 pessoas, 7.861 das quais preencheram os critérios de elegibilidade e foram avaliáveis. Um total de 83,1% dos participantes com câncer1 colorretal detectado por colonoscopia2 tiveram teste de cfDNA positivo e 16,9% tiveram teste negativo, o que indica uma sensibilidade do teste de cfDNA para detecção de câncer1 colorretal de 83,1% (intervalo de confiança [IC ] de 95%, 72,2 a 90,3).

A sensibilidade para câncer1 colorretal em estágio I, II ou III foi de 87,5% (IC 95%, 75,3 a 94,1) e a sensibilidade para lesões8 pré-cancerosas avançadas foi de 13,2% (IC 95%, 11,3 a 15,3).

Um total de 89,6% dos participantes sem qualquer neoplasia9 colorretal avançada (câncer1 colorretal ou lesões8 pré-cancerosas avançadas) identificada na colonoscopia2 tiveram um exame de sangue3 de cfDNA negativo, enquanto 10,4% tiveram um exame de sangue3 de cfDNA positivo, o que indica uma especificidade para qualquer neoplasia9 avançada de 89,6% (IC 95%, 88,8 a 90,3).

A especificidade para colonoscopia2 negativa (sem câncer1 colorretal, lesões8 pré-cancerosas avançadas ou lesões8 pré-cancerosas não avançadas) foi de 89,9% (IC 95%, 89,0 a 90,7).

O estudo concluiu que, em uma população de rastreio de risco médio, este exame de sangue3 de cfDNA apresentou 83% de sensibilidade para câncer1 colorretal, 90% de especificidade para neoplasia9 avançada e 13% de sensibilidade para lesões8 pré-cancerosas avançadas.

 

Fontes:
BLUE-C: The New England Journal of Medicine, Vol. 390, Nº 11, em 13 de março de 2024.
ECLIPSE: The New England Journal of Medicine, Vol. 390, Nº 11, em 13 de março de 2024.
MedPage Today, notícia publicada em 13 de março de 2024.
The New York Times, notícia publicada em 13 de março de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Testes de rastreio não invasivos se mostram promissores para detectar câncer colorretal. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1468137/testes-de-rastreio-nao-invasivos-se-mostram-promissores-para-detectar-cancer-colorretal.htm>. Acesso em: 29 abr. 2024.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Colonoscopia: Estudo endoscópico do intestino grosso, no qual o colonoscópio é introduzido pelo ânus. A colonoscopia permite o estudo de todo o intestino grosso e porção distal do intestino delgado. É um exame realizado na investigação de sangramentos retais, pesquisa de diarreias, alterações do hábito intestinal, dores abdominais e na detecção e remoção de neoplasias.
3 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
4 Pólipos: 1. Em patologia, é o crescimento de tecido pediculado que se desenvolve em uma membrana mucosa (por exemplo, no nariz, bexiga, reto, etc.) em resultado da hipertrofia desta membrana ou como um tumor verdadeiro. 2. Em celenterologia, forma individual, séssil, típica dos cnidários, que se caracteriza pelo corpo formado por um tubo ou cilindro, cuja extremidade oral, dotada de boca e tentáculos, é dirigida para cima, e a extremidade oposta, ou aboral, é fixa.
5 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
6 Cólon:
7 Fragmentos: 1. Pedaço de coisa que se quebrou, cortou, rasgou etc. É parte de um todo; fração. 2. No sentido figurado, é o resto de uma obra literária ou artística cuja maior parte se perdeu ou foi destruída. Ou um trecho extraído de uma obra.
8 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
9 Neoplasia: Termo que denomina um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento anormal e em certas situações pela invasão de órgãos à distância (metástases). As neoplasias mais frequentes são as de mama, cólon, pele e pulmões.
10 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
11 Hemoglobina: Proteína encarregada de transportar o oxigênio desde os pulmões até os tecidos do corpo. Encontra-se em altas concentrações nos glóbulos vermelhos.
12 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
13 Histológicas: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
14 Displasia: Desenvolvimento ou crescimento anormal de um tecido ou órgão.
15 Neoplásicos: Que apresentam neoplasias, ou seja, que apresentam processo patológico que resulta no desenvolvimento de neoplasma ou tumor. Um neoplasma é uma neoformação de crescimento anormal, incontrolado e progressivo de tecido, mediante proliferação celular.
16 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
17 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
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