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Problemas cognitivos na meia-idade foram associados a interrupções do sono mais cedo na vida

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Pessoas que tiveram sono fragmentado na faixa dos 30 e 40 anos tinham maior probabilidade de ter pior cognição1 uma década depois, mostraram dados longitudinais de uma pesquisa publicada no jornal científico Neurology. As descobertas indicam que a qualidade – e não a quantidade – do sono pode ser mais importante.

Aqueles no tercil mais alto versus o mais baixo do índice de fragmentação do sono tinham duas vezes mais chances de ter um desempenho ruim em três tipos de testes cognitivos2 11 anos depois, disseram Yue Leng, PhD, da Universidade da Califórnia em São Francisco, e co-autores.

O desempenho cognitivo3 foi pior no teste Avaliação Cognitiva4 de Montreal (MoCA) de função cognitiva4 global, nos testes de Fluência de Letras e Fluência de Categoria e no Teste de Substituição de Dígitos por Símbolos (DSST) de velocidade de processamento, função executiva5 e memória de trabalho6.

Nem a duração objetiva do sono nem a qualidade subjetiva do sono foram associadas à cognição1.

Saiba mais sobre "Sono - como ele é", "Distúrbios do sono" e "Insônia - como dormir melhor".

“Uma vez que a patologia7 da doença de Alzheimer8 começa a acumular-se no cérebro9 muitos anos antes do início dos sintomas10, é possível que os distúrbios do sono identificados mais tarde na vida – perto do momento em que a perda de memória se torna aparente – sejam na verdade a consequência desta patologia7 que vem se desenvolvendo silenciosamente ao longo dos anos”, disse Leng em comunicado.

“Dada a longa janela sem sintomas10 da doença de Alzheimer8 e a alta prevalência11 de problemas de sono, a compreensão dos distúrbios do sono na meia-idade tem implicações significativas para a saúde12 pública”, acrescentou.

A relação entre sono e demência13 é complexa e pode ser bidirecional à medida que as pessoas envelhecem. Num estudo que durou 25 anos de acompanhamento, as pessoas que dormiam em média 6 horas ou menos quando tinham 50 anos ou mais tinham 30% mais probabilidade de serem diagnosticadas com demência13 mais tarde na vida. E novos dados do UK Biobank sugeriram que a regularidade do sono na meia-idade e em idades mais avançadas pode ser um fator de risco14 de demência13.

No artigo, os pesquisadores relatam que evidências crescentes apoiam uma associação entre qualidade do sono e risco de demência13. No entanto, pouco se sabe se a duração e a qualidade do sono medidas objetivamente influenciam a cognição1 na meia-idade, período importante para a compreensão da direção da associação entre sono e demência13.

Este estudo examinou a associação entre a duração e a qualidade do sono, medida quando os participantes tinham entre 30 e 40 anos, e a cognição1 na meia-idade avaliada 11 anos depois entre adultos negros e brancos.

Como parte do estudo de coorte15 Coronary Artery Risk Development in Young Adults, a duração e a qualidade do sono foram avaliadas objetivamente usando actigrafia16 de punho e subjetivamente pelo Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) em 2003-2005.

Durante 2015-2016, avaliou-se a cognição1 na meia-idade usando o Teste de Substituição de Dígitos por Símbolos (DSST), teste Stroop, Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey, Avaliação Cognitiva4 de Montreal (MoCA) e testes de Fluência de Letras e Fluência de Categoria. Utilizou-se regressão logística multivariada para examinar a associação entre parâmetros do sono e baixo desempenho cognitivo3, que foi definido como uma pontuação >1 DP abaixo da pontuação média.

Os 526 participantes (58% mulheres e 44% negros) tinham idade média de 40,1 ± 3,6 anos no início do estudo, duração média do sono de 6,1 ± 1,1 horas e índice médio de fragmentação do sono (calculado como a soma da porcentagem de tempo gasto se movimentando e a porcentagem de períodos imóveis ≤1 minuto) de 19,2 ± 8,1%, e 239 (45,6%) participantes relataram sono insatisfatório, conforme definido por uma pontuação global do PSQI >5.

Após ajuste para dados demográficos, escolaridade, tabagismo, índice de massa corporal17, depressão, atividade física, hipertensão18 e diabetes19, aqueles no tercil mais alto versus o mais baixo do índice de fragmentação do sono tinham mais de duas vezes mais chances de ter desempenho cognitivo3 ruim (>1 DP abaixo da média) no DSST (razão de chances [OR] = 2,97; IC 95% 1,34-6,56), nos testes de fluência (OR = 2,42; IC 95% 1,17-5,02) e no teste MoCA (OR = 2,29; IC 95% 1,06-4,94).

A associação entre fragmentação do sono e desempenho cognitivo3 não diferiu por raça ou sexo. A duração objetiva do sono ou a qualidade subjetiva do sono não foram associadas à cognição1 na meia-idade.

O estudo concluiu que a elevada fragmentação do sono medida pela actigrafia16, em vez da duração do sono, foi associada a pior cognição1 entre homens e mulheres negros e brancos de meia-idade, mostrando que a qualidade do sono é importante para a saúde12 cognitiva4 já na meia-idade.

Leia sobre "Demência13" e "Mal de Alzheimer20".

 

Fontes:
Neurology, publicação em 03 de janeiro de 2024.
MedPage Today, notícia publicada em 05 de janeiro de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Problemas cognitivos na meia-idade foram associados a interrupções do sono mais cedo na vida. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1463512/problemas-cognitivos-na-meia-idade-foram-associados-a-interrupcoes-do-sono-mais-cedo-na-vida.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
2 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
3 Desempenho cognitivo: Desempenho dos processos de aprendizagem e de aquisição de conhecimento através da percepção.
4 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
5 Função executiva: Também conhecida como controle cognitivo ou sistema supervisor atencional é um conceito neuropsicológico que se aplica ao processo cognitivo responsável pelo planejamento e execução de atividades, que podem incluir, por exemplo, a iniciação de tarefas, memória de trabalho, atenção sustentada e inibição de impulsos.
6 Memória de trabalho: Atua no momento em que a informação está sendo adquirida, retendo a informação por alguns segundos e, então, a destinando a ser guardada por períodos mais longos ou a ser descartada. A memória de trabalho pode, ainda, armazenar dados por via inconsciente. Difere da memória de curto prazo pois esta trabalha com as informações por algumas horas até que sejam gravadas de forma definitiva.
7 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
8 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
9 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
10 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
11 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
12 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
13 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
14 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
15 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
16 Actigrafia: Ela estima parâmetros do sono, tais como tempo total de sono, início e fim do sono, tempo de vigília após início do sono, eficiência e latência do sono. Como é uma estimativa, não é considerada padrão ouro para analisar o sono.
17 Índice de massa corporal: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
18 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
19 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
20 Alzheimer: Doença degenerativa crônica que produz uma deterioração insidiosa e progressiva das funções intelectuais superiores. É uma das causas mais freqüentes de demência. Geralmente começa a partir dos 50 anos de idade e tem incidência similar entre homens e mulheres.
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