Um método baseado em CRISPR produz células T que impedem a evolução do câncer em adolescentes
Em um estudo inédito, publicado no The New England Journal of Medicine, cientistas usaram um método de alteração de DNA chamado edição de base para tratar doenças – neste caso, modificando células1 imunológicas para tratar com sucesso dois adolescentes com uma forma agressiva de leucemia2 infantil.
A técnica foi usada pela primeira vez para tratar doenças humanas. Com ela, as células1 T podem ser projetadas para combater as células1 T anormais que são uma característica dessa forma agressiva de leucemia2.
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No artigo, os pesquisadores descrevem a criação de células1 T CAR7 por edição de base para tratar a leucemia2 linfoblástica aguda de células1 T refratária.
Eles relatam que a desaminação da citidina que é guiada por repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente interespaçadas (CRISPR, do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) pode mediar uma conversão altamente precisa de um nucleotídeo em outro – especificamente, citosina em timina – sem gerar quebras no DNA.
Assim, os genes podem ser editados por base e tornados inativos sem induzir translocações4 e outras aberrações cromossômicas. O uso dessa técnica em pacientes com leucemia2 de células1 T refratária na infância está sendo investigado.
Usou-se a edição de base para gerar células1 T do receptor de antígeno5 quimérico (CAR) universais e prontas para uso. Células1 T de doadores voluntários saudáveis foram transduzidas com o uso de um lentivírus para expressar um CAR com especificidade para CD7 (CAR7), uma proteína que é expressa na leucemia2 linfoblástica aguda (LLA) de células1 T.
Em seguida, usou-se a edição de base para inativar três genes que codificam os receptores CD52 e CD7 e a cadeia β do receptor de células1 T αβ para evitar a soroterapia linfodepletiva, o fratricídio de células1 T CAR7 e a doença do enxerto6 contra o hospedeiro, respectivamente. Investigou-se a segurança dessas células1 editadas em três crianças com leucemia2 recidivante7.
A primeira paciente, uma menina de 13 anos que teve LLA de células1 T recidivante7 após transplante alogênico de células-tronco8, teve remissão molecular em 28 dias após a infusão de uma dose única de CAR7 editado por base (BE-CAR7). Ela então recebeu um transplante alogênico de células-tronco8 de intensidade reduzida (não mieloablativo) de seu doador original, com reconstituição imunológica bem-sucedida e remissão leucêmica contínua.
As células1 BE-CAR7 do mesmo banco mostraram atividade potente em dois outros pacientes e, embora complicações fúngicas9 fatais tenham se desenvolvido em um paciente, o outro paciente foi submetido a transplante alogênico de células-tronco8 enquanto estava em remissão.
Eventos adversos graves incluíram síndrome10 de liberação de citocinas11, citopenia multilinhagem e infecções12 oportunistas.
Os resultados provisórios deste estudo de fase 1 apoiam uma investigação mais aprofundada de células1 T editadas por base para pacientes13 com leucemia2 recidivante7 e indicam os riscos antecipados de complicações relacionadas à imunoterapia.
Veja também sobre "Leucemia2 linfocítica aguda" e "Leucemia2 linfocítica crônica".
Fontes:
The New England Journal of Medicine, publicação em 14 de junho de 2023.
Nature, notícia publicada em 21 de junho de 2023.