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Até 10% das neoplasias hematológicas pediátricas são atribuídas à exposição à radiação relacionada a exames de imagem

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Um em cada 10 casos de câncer1 do sangue2 em crianças pode resultar da exposição à radiação associada a exames de imagem, de acordo com uma ampla análise retrospectiva publicada no The New England Journal of Medicine.

O risco de malignidade hematológica aumentou com a exposição cumulativa à radiação em comparação com nenhuma, variando de 1,41 vez maior para doses de radiação de 1 a <5 mGy a 3,59 vezes maior para doses de 50 a <100 mGy. A dose cumulativa de radiação na medula óssea3 aumentou o risco de todos os cânceres hematológicos, atingindo um excesso de risco relativo de 2,54 por 100 mGy de exposição. Outros tipos de câncer1 também aumentaram com a exposição à radiação associada a exames de imagem.

Para aqueles expostos a pelo menos 30 mGy de radiação, o excesso de incidência4 cumulativa de cânceres hematológicos aos 21 anos foi de 25,6 por 10.000, relataram Rebecca Smith-Bindman, médica da Universidade da Califórnia em São Francisco e co-autora do estudo.

Uma conclusão importante da análise é que se deve evitar exames de imagem desnecessários em crianças.

Leia sobre "Câncer1 infantil", "Tomografia computadorizada5" e "Medicina nuclear".

“Nossas descobertas mostram que a radiação ionizante proveniente de exames de imagem está associada a um pequeno, mas estatisticamente significativo, aumento no risco de malignidade hematológica em crianças e adolescentes, mesmo em doses clinicamente comuns”, disse a co-autora Diana Miglioretti, PhD, da Universidade da Califórnia em Davis. “Isso reforça os princípios de justificação e otimização: exames de imagem devem ser realizados apenas quando os benefícios superam os riscos, as doses devem ser minimizadas e, quando apropriado, alternativas não ionizantes, como ressonância magnética6 ou ultrassonografia7, devem ser utilizadas. No entanto, exames de imagem clinicamente necessários nunca devem ser adiados, pois isso pode atrasar ou deixar passar diagnósticos.”

Os resultados não foram uma surpresa, visto que a associação entre exposição à radiação e câncer1 está bem estabelecida há anos.

“Nosso estudo se baseia em pesquisas anteriores, como o estudo EPI-CT na Europa, fornecendo evidências mais abrangentes de uma grande coorte8 norte-americana”, disse Miglioretti. “Incluímos todas as modalidades de imagem (não apenas a tomografia computadorizada5), utilizamos cálculos de dose específicos para cada paciente e comparamos diretamente crianças expostas e não expostas para quantificar os riscos com mais precisão. Ao contrário do estudo EPI-CT, acompanhamos as crianças desde o nascimento, o que nos permitiu capturar toda a utilização de imagens e identificar um grupo de comparação não exposto. Isso nos permitiu estimar a incidência4 cumulativa excessiva de neoplasias9 hematológicas associadas a diferentes níveis de exposição.”

Grande parte das evidências existentes sobre a relação linear entre radiação e câncer1 foi extrapolada de populações com exposições a doses mais altas, observou Lindsay M. Morton, PhD, do Instituto Nacional do Câncer1, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

“O relatório é uma adição importante ao crescente conjunto de evidências diretas sobre os pequenos riscos de câncer1 após exposição à radiação em baixas doses”, escreveu Morton. “Isso também confirma a latência10 relativamente curta (intervalo entre a exposição e o diagnóstico11 do câncer1) dos cânceres hematológicos relacionados à radiação em comparação com tumores sólidos, e aumenta ainda mais o espectro dos riscos de câncer1 hematológico relacionado à radiação, além da leucemia12 linfoblástica aguda e da leucemia12 mieloide aguda, para outros subtipos, como o linfoma13 não Hodgkin.”

Confira a seguir o resumo do artigo publicado.

Exames de imagem e risco de câncer1 hematológico pediátrico e adolescente

Avaliar o risco de câncer1 hematológico induzido por radiação a partir de exames médicos de imagem em crianças e adolescentes pode subsidiar decisões informadas sobre o uso desses exames.

Acompanhou-se uma coorte8 retrospectiva de 3.724.623 crianças nascidas entre 1996 e 2016 em seis sistemas de saúde14 dos EUA e em Ontário, Canadá, até o diagnóstico11 de câncer1 ou tumor15 benigno, óbito16, fim da cobertura de saúde14, idade de 21 anos ou 31 de dezembro de 2017.

As doses de radiação na medula óssea3 ativa a partir de exames de imagem foram quantificadas. As associações entre cânceres hematológicos e exposição cumulativa à radiação (vs. nenhuma exposição), com defasagem de 6 meses, foram estimadas com o uso de modelos de risco em tempo contínuo.

Durante 35.715.325 pessoas-ano de acompanhamento (média de 10,1 anos por pessoa), 2.961 cânceres hematológicos foram diagnosticados, principalmente cânceres linfoides17 (2.349 [79,3%]), cânceres mieloides ou leucemia12 aguda (460 [15,5%]) e cânceres de células18 histiocíticas ou dendríticas (129 [4,4%]).

A exposição média (± DP) entre crianças expostas a pelo menos 1 mGy foi de 14,0 ± 23,1 mGy no geral (para comparação, 13,7 mGy foi a exposição de uma tomografia computadorizada5 [TC] da cabeça19) e 24,5 ± 36,4 mGy entre crianças com câncer1 hematológico.

O risco de câncer1 aumentou com a dose cumulativa, com um risco relativo (vs. nenhuma exposição) de 1,41 (intervalo de confiança [IC] de 95%, 1,11 a 1,78) para 1 a menos de 5 mGy, 1,82 (IC de 95%, 1,33 a 2,43) para 15 a menos de 20 mGy e 3,59 (IC de 95%, 2,22 a 5,44) para 50 a menos de 100 mGy.

A dose cumulativa de radiação na medula óssea3 foi associada a um risco aumentado de todos os cânceres hematológicos (risco relativo excessivo por 100 mGy, 2,54 [IC de 95%, 1,70 a 3,51; P <0,001]; risco relativo para 30 vs. 0 mGy, 1,76 [IC de 95%, 1,51 a 2,05]) e da maioria dos subtipos de tumores.

A incidência4 cumulativa excessiva de cânceres hematológicos aos 21 anos de idade entre crianças expostas a pelo menos 30 mGy (média de 57 mGy) foi de 25,6 por 10.000. Estimou-se que, nessa coorte8, 10,1% (IC 95%, 5,8 a 14,2) dos cânceres hematológicos podem ter sido atribuídos à exposição à radiação proveniente de exames médicos de imagem, com riscos maiores decorrentes de exames de imagem de alta dose, como a TC.

Esse estudo sugere uma associação entre a exposição à radiação proveniente de exames médicos de imagem e um risco pequeno, mas significativamente aumentado, de câncer1 hematológico entre crianças e adolescentes.

Veja também sobre "Leucemias", "Linfoma13" e "Prevenção do câncer1".

 

Fontes:
The New England Journal of Medicine, publicação em 17 de setembro de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 17 de setembro de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Até 10% das neoplasias hematológicas pediátricas são atribuídas à exposição à radiação relacionada a exames de imagem. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1495155/ate-10-das-neoplasias-hematologicas-pediatricas-sao-atribuidas-a-exposicao-a-radiacao-relacionada-a-exames-de-imagem.htm>. Acesso em: 1 out. 2025.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
3 Medula Óssea: Tecido mole que preenche as cavidades dos ossos. A medula óssea apresenta-se de dois tipos, amarela e vermelha. A medula amarela é encontrada em cavidades grandes de ossos grandes e consiste em sua grande maioria de células adiposas e umas poucas células sangüíneas primitivas. A medula vermelha é um tecido hematopoiético e é o sítio de produção de eritrócitos e leucócitos granulares. A medula óssea é constituída de um rede, em forma de treliça, de tecido conjuntivo, contendo fibras ramificadas e preenchida por células medulares.
4 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
5 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
6 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
7 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
8 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
9 Neoplasias: Termo que denomina um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento anormal e em certas situações pela invasão de órgãos à distância (metástases). As neoplasias mais frequentes são as de mama, cólon, pele e pulmões.
10 Latência: 1. Estado, caráter daquilo que se acha latente, oculto. 2. Por extensão de sentido, é o período durante o qual algo se elabora, antes de assumir existência efetiva. 3. Em medicina, é o intervalo entre o começo de um estímulo e o início de uma reação associada a este estímulo; tempo de reação. 4. Em psicanálise, é o período (dos quatro ou cinco anos até o início da adolescência) durante o qual o interesse sexual é sublimado; período de latência.
11 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
12 Leucemia: Doença maligna caracterizada pela proliferação anormal de elementos celulares que originam os glóbulos brancos (leucócitos). Como resultado, produz-se a substituição do tecido normal por células cancerosas, com conseqüente diminuição da capacidade imunológica, anemia, distúrbios da função plaquetária, etc.
13 Linfoma: Doença maligna que se caracteriza pela proliferação descontrolada de linfócitos ou seus precursores. A pessoa com linfoma pode apresentar um aumento de tamanho dos gânglios linfáticos, do baço, do fígado e desenvolver febre, perda de peso e debilidade geral.
14 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
15 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
16 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
17 Linfoides: 1. Relativos a ou que constituem o tecido característico dos nodos linfáticos. 2. Relativos ou semelhantes à linfa.
18 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
19 Cabeça:

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