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Sobreviventes de câncer infantil apresentam risco aumentado de doença renal crônica e hipertensão

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Sobreviventes de câncer1 infantil apresentaram risco aumentado de doença renal2 crônica (DRC) e hipertensão3, sugeriu um estudo de coorte4 pareado de base populacional canadense, publicado no JAMA Network Open.

Ao longo de até 27 anos de observação, a incidência5 cumulativa de DRC ou hipertensão3 foi de 20,85% entre sobreviventes de câncer1 infantil, em comparação com 16,47% em uma coorte6 de crianças hospitalizadas, e de 19,24% entre outra coorte6 de sobreviventes de câncer1 infantil, em comparação com 8,05% em uma coorte6 pediátrica geral, relataram Michael Zappitelli, MD, do Hospital for Sick Children em Toronto, e colegas.

Sobreviventes de câncer1 infantil apresentaram um risco ajustado duas vezes maior de DRC ou hipertensão3 em comparação com a coorte6 hospitalizada (HR ajustada 2,00, IC 95% 1,86-2,14, P <0,001) e um risco ajustado quatro vezes maior em comparação com a coorte6 da população em geral (HRa 4,71, IC 95% 4,27-5,19, P <0,001).

A magnitude dessas associações foi maior quando o tempo de acompanhamento foi inferior a 1 ano (HRa 6,45, IC 95% 5,78-7,19, em comparação com a coorte6 hospitalizada e HRa 23,57, IC 95% 19,57-28,39, em comparação com a coorte6 da população em geral).

“Os resultados tornaram-se evidentes já no primeiro ano após o tratamento do câncer”, observaram Zappitelli e colaboradores. “Esses resultados reforçam a hipótese de que sobreviventes de câncer1 infantil precisam de monitoramento da pressão arterial7 e da saúde8 renal2 logo após a conclusão do tratamento do câncer1 e durante a vida adulta.”

“Os tratamentos e a sobrevivência9 aprimorados para o câncer1 infantil têm um custo de efeitos adversos; mais de 99% dos sobreviventes de câncer1 infantil apresentam problemas crônicos de saúde8 aos 50 anos”, explicaram os autores, observando que desfechos renais a longo prazo, como DRC e hipertensão3, são comuns nessa população.

No entanto, eles apontaram que a incidência5 e o momento da DRC e da hipertensão3 em sobreviventes de câncer1 infantil, em comparação com crianças hospitalizadas por outros motivos ou na população em geral, não são claros, e os estudos sobre desfechos renais em sobreviventes de câncer1 infantil “têm sido relativamente pequenos ou sem coortes comparativas, fatores que são reconhecidos como grandes barreiras para quantificar o risco à saúde8 renal2 a longo prazo.”

“Essa falta de evidências robustas pode explicar parcialmente por que as diretrizes de acompanhamento da saúde8 renal2 de sobrevivente de câncer1 infantil são vagas e não acionáveis”, acrescentaram. “A pesquisa de dados administrativos de saúde8 pode ajudar a superar esse problema e fornecer evidências necessárias para melhorar as diretrizes de acompanhamento.”

Saiba mais sobre "Câncer1 infantil", "Insuficiência renal10 crônica" e "Hipertensão arterial11 na infância".

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que os desfechos renais pós-terapia do câncer1, incluindo doença renal2 crônica (DRC) e hipertensão3, são comuns em sobreviventes de câncer1 infantil (SCI). A incidência5 e o momento da DRC e da hipertensão3 em SCI, em comparação com outras populações de risco ou em geral, não são claros.

O objetivo deste estudo, portanto, foi determinar a associação do tratamento do câncer1 infantil com DRC ou hipertensão3 pós-terapia do câncer1.

Foi realizado um estudo de coorte4 pareado de base populacional de crianças tratadas para câncer1 entre abril de 1993 e março de 2020 em Ontário, Canadá, com acompanhamento até março de 2021. A coorte6 de SCI (exposta) incluiu crianças (≤18 anos) sobreviventes ao câncer1. As coortes comparadoras foram uma coorte6 de hospitalização (crianças hospitalizadas) e uma coorte6 da população pediátrica geral (PG) (todas as outras crianças de Ontário).

Os critérios de exclusão foram histórico de câncer1 prévio, transplante de órgãos, DRC, diálise12 ou hipertensão3. O pareamento com cada uma das duas coortes comparadoras foi realizado separadamente e em uma proporção de 1:4 por idade, sexo, situação rural vs. urbana, quintil13 de renda, ano índice e presença de hospitalização anterior. Os dados foram analisados de março de 2021 a agosto de 2024.

A exposição do estudo foi tratamento para câncer1. O desfecho primário foi o composto de DRC ou hipertensão3, definido por códigos administrativos de diagnóstico14 e procedimento de saúde8. A modelagem de risco de subdistribuição de Fine e Gray15, considerando riscos concorrentes (morte e novo diagnóstico14 de câncer1 ou recidiva16) e ajustando para doença cardíaca, doença hepática17 e diabetes18, foi utilizada para determinar a associação do tratamento do câncer1 com os desfechos.

Havia 10.182 SCI (idade mediana [IQR] no diagnóstico14, 7 [3-13] anos; 5.529 homens [54,3%]; tempo mediano [IQR] de acompanhamento, 8 [2-15] anos) pareados a 40.728 pacientes da coorte6 de hospitalização (idade mediana [IQR] no diagnóstico14, 7 [2-12] anos; 5.529 homens [porcentagem ponderada, 54,3%]; tempo mediano [IQR] de acompanhamento, 11 [6-18] anos) e 8.849 SCI (idade mediana [IQR] no diagnóstico14, 5 [2-11] anos; 4.825 homens [54,5%]; tempo mediano [IQR] de acompanhamento, 7 [2-14] anos) pareados a 35.307 indivíduos da coorte6 de PG (idade mediana [IQR] no diagnóstico14, 6 [2-11] anos; 4825 homens [porcentagem ponderada, 54,5%]; tempo mediano [IQR] de acompanhamento, 10 [5-16] anos).

Os tipos de câncer1 mais frequentes foram leucemia19 (2.948 pacientes [29,0%]), neoplasias20 do sistema nervoso central21 (2.123 pacientes [20,9%]) e linfoma22 (1.583 pacientes [15,5%]).

Durante a observação, a incidência5 cumulativa de DRC ou hipertensão3 foi de 20,85% (IC 95%, 18,75%-23,02%) na coorte6 de SCI vs 16,47% (IC 95%, 15,21%-17,77%) na coorte6 de hospitalização e 19,24% (IC 95%, 15,99%-22,73%) na coorte6 de SCI vs 8,05% (IC 95%, 6,76%-9,49%) na coorte6 de PG.

Os pacientes SCI apresentaram risco aumentado de DRC ou hipertensão3 em comparação com a coorte6 de hospitalização (razão de risco ajustada, 2,00; IC 95%, 1,86-2,14; P <0,001) e com a coorte6 de PG (razão de risco ajustada, 4,71; IC 95%, 4,27-5,19; P <0,001).

Neste estudo de base populacional, os sobreviventes de câncer1 infantil apresentaram risco aumentado de doença renal2 crônica e hipertensão3, condições associadas à mortalidade23, sugerindo que a detecção e o tratamento precoces dessas condições nessa população podem diminuir as complicações tardias e a mortalidade23.

Leia sobre "Leucemias: o que são", "Tumores cerebrais: quais os tipos principais" e "Linfoma22: o que saber sobre ele".

 

Fontes:
JAMA Network Open, Vol. 8, N° 5, em 19 de maio de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 19 de maio de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Sobreviventes de câncer infantil apresentam risco aumentado de doença renal crônica e hipertensão. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1491635/sobreviventes-de-cancer-infantil-apresentam-risco-aumentado-de-doenca-renal-cronica-e-hipertensao.htm>. Acesso em: 9 jul. 2025.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
3 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
4 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
5 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
6 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
7 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
8 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
9 Sobrevivência: 1. Ato ou efeito de sobreviver, de continuar a viver ou a existir. 2. Característica, condição ou virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro. Condição ou qualidade de quem ainda vive após a morte de outra pessoa. 3. Sequência ininterrupta de algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade, persistência, duração.
10 Insuficiência renal: Condição crônica na qual o corpo retém líquido e excretas pois os rins não são mais capazes de trabalhar apropriadamente. Uma pessoa com insuficiência renal necessita de diálise ou transplante renal.
11 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
12 Diálise: Quando os rins estão muito doentes, eles deixam de realizar suas funções, o que pode levar a risco de vida. Nesta situação, é preciso substituir as funções dos rins de alguma maneira, o que pode ser feito realizando-se um transplante renal, ou através da diálise. A diálise é um tipo de tratamento que visa repor as funções dos rins, retirando as substâncias tóxicas e o excesso de água e sais minerais do organismo, estabelecendo assim uma nova situação de equilíbrio. Existem dois tipos de diálise: a hemodiálise e a diálise peritoneal.
13 Quintil: 1. Em estatística, diz-se de ou qualquer separatriz que divide a área de uma distribuição de frequência em cinco domínios de áreas iguais. O termo quintil também é utilizado, por vezes, para designar uma das quintas partes da amostra ordenada. 2. Em astronomia, é o aspecto de dois planetas distantes 72° entre si (distância angular correspondente a um quinto do Zodíaco). 3. Em matemática, é o mesmo que quíntico. A palavra quintil deriva do latim quintus, que significa quinto.
14 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
15 Gray: Em radioterapia, a dose absorvida é medida em rad (do inglês radiation absorbed dose) e significa a energia (dose) realmente absorvida por um corpo específico. 1 rad equivale a 0,01 joules por kg. Atualmente usa-se o gray (Gy) para expressar dose absorvida no sistema internacional (SI), que corresponde a 100 rad (1 joule de energia para 1 kg de massa).
16 Recidiva: 1. Em medicina, é o reaparecimento de uma doença ou de um sintoma, após período de cura mais ou menos longo; recorrência. 2. Em direito penal, significa recaída na mesma falta, no mesmo crime; reincidência.
17 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
18 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
19 Leucemia: Doença maligna caracterizada pela proliferação anormal de elementos celulares que originam os glóbulos brancos (leucócitos). Como resultado, produz-se a substituição do tecido normal por células cancerosas, com conseqüente diminuição da capacidade imunológica, anemia, distúrbios da função plaquetária, etc.
20 Neoplasias: Termo que denomina um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento anormal e em certas situações pela invasão de órgãos à distância (metástases). As neoplasias mais frequentes são as de mama, cólon, pele e pulmões.
21 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
22 Linfoma: Doença maligna que se caracteriza pela proliferação descontrolada de linfócitos ou seus precursores. A pessoa com linfoma pode apresentar um aumento de tamanho dos gânglios linfáticos, do baço, do fígado e desenvolver febre, perda de peso e debilidade geral.
23 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
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