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Infarto do miocárdio foi associado a declínio cognitivo mais rápido

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Infarto do miocárdio1 (IM) incidente2 foi associado com declínio cognitivo3 de longo prazo acelerado, mas não com uma diminuição aguda na cognição4.

Durante um acompanhamento médio de 6,4 anos, as pessoas com ataques cardíacos incidentes5 experimentaram quedas mais rápidas e persistentes na cognição4 global em comparação com pessoas que nunca tiveram infarto do miocárdio1, relataram Michelle Johansen, MD, PhD, da Johns Hopkins University School of Medicine, em Baltimore, EUA, e co-autores.

As pontuações de memória e função executiva6 também caíram mais rapidamente ao longo do tempo naqueles com infarto do miocárdio1 incidente2.

“Também quantificamos a magnitude da mudança cognitiva7 pós-IM; o declínio na cognição4 global após o IM incidente2 foi equivalente a 6 a 13 anos de envelhecimento cognitivo3, representando um importante problema de saúde8 pública”, escreveram Johansen e seus colegas no JAMA Neurology.

Raça e sexo pareceram modificar o declínio cognitivo3 global após o IM, com declínios anuais mais acentuados em brancos em comparação com negros e em homens em comparação com mulheres.

Saiba mais sobre "Infarto do Miocárdio1", "Distúrbio neurocognitivo" e "Quando a perda de memória não é normal".

O estudo de coorte9 observacional de mais de 30.000 adultos não mostrou um declínio agudo10 após o IM na cognição4 global, função executiva6, ou memória.

O declive do declínio cognitivo3 após o infarto do miocárdio1 não pode ser explicado por acidente vascular cerebral11 ou nova fibrilação atrial, observaram Eric Smith, MD, da Universidade de Calgary, no Canadá, e Lisa Silbert, MD, da Oregon Health & Science University em Portland, EUA em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

“A falta de uma diminuição imediata na cognição4 e o declínio mais acentuado nos anos subsequentes sugerem que o IM foi associado a um processo progressivo e lento que acelerou o declínio cognitivo3, em vez de um processo agudo”, escreveram Smith e Silbert.

“Uma possibilidade é que pode haver disfunção cardíaca progressiva devido à cardiomiopatia isquêmica, com alterações na pressão arterial12 e no débito cardíaco13 levando à isquemia14 cerebral”, observaram. Os pacientes com infarto do miocárdio1 podem ser vulneráveis a arritmias15 pós-infarto16, sugeriram eles, ou a doença subclínica ou inflamação17 contínua. Além disso, o IM pode aumentar o risco de depressão, que está associado à demência18.

“Embora o mecanismo para o declínio cognitivo3 pós-IM não seja claro, o risco parece real”, disseram Smith e Silbert.

“Pacientes com histórico de infarto do miocárdio1 devem ser questionados sobre sintomas19 cognitivos20 periodicamente, com triagem cognitiva7 de acompanhamento para pacientes21 nos quais os sintomas19 são endossados por eles mesmos ou por um informante”, sugeriram. “O encaminhamento para um especialista cognitivo3 ou neuropsicólogo pode ser justificado em casos selecionados.”

No artigo, os pesquisadores contextualizam que a magnitude da mudança cognitiva7 após infarto do miocárdio1 (IM) incidente2 não é clara.

O objetivo do estudo, portanto, foi avaliar se o IM incidente2 está associado a alterações na função cognitiva7 após o ajuste para trajetórias cognitivas pré-IM.

Este estudo de coorte9 incluiu adultos sem infarto do miocárdio1, demência18 ou acidente vascular cerebral11 e com co-variáveis completas dos seguintes estudos de coorte22 baseados na população dos EUA conduzidos de 1971 a 2019: Estudo de Risco de Aterosclerose23 em Comunidades, Estudo de Desenvolvimento de Risco de Artéria24 Coronária em Jovens Adultos, Estudo de Saúde8 Cardiovascular, Estudo da Prole de Framingham, Estudo Multiétnico da Aterosclerose23 e Estudo do Norte de Manhattan. Os dados foram analisados de julho de 2021 a janeiro de 2022.

A exposição foi IM incidente2. O principal resultado foi a mudança na cognição4 global. Os resultados secundários foram mudanças na memória e função executiva6. Os resultados foram padronizados como escores T médios (DP) de 50 (10); uma diferença de 1 ponto representou uma diferença de 0,1 DP na cognição4. Modelos lineares de efeitos mistos estimaram mudanças na cognição4 no momento do IM (mudança na interceptação) e a taxa de mudança cognitiva7 ao longo dos anos após o IM (mudança no declive), controlando para trajetórias cognitivas pré-IM e fatores dos participantes, com termos de interação para raça e sexo.

O estudo incluiu 30.465 adultos (idade média [DP], 64 [10] anos; 56% do sexo feminino), dos quais 1.033 tiveram 1 ou mais eventos de infarto do miocárdio1 e 29.432 não tiveram um evento de infarto do miocárdio1. O acompanhamento médio foi de 6,4 anos (IQR, 4,9-19,7 anos).

No geral, o IM incidente2 não foi associado a uma diminuição aguda na cognição4 global (-0,18 pontos; IC 95%, -0,52 a 0,17 pontos), função executiva6 (-0,17 pontos; IC 95%, -0,53 a 0,18 pontos) ou memória (0,62 pontos; IC 95%, -0,07 a 1,31 pontos).

No entanto, indivíduos com IM incidente2 versus aqueles sem IM demonstraram declínios mais rápidos na cognição4 global (-0,15 pontos por ano; IC 95%, -0,21 a -0,10 pontos por ano), memória (-0,13 pontos por ano; IC 95%, -0,22 a -0,04 pontos por ano) e função executiva6 (-0,14 pontos por ano; IC 95%, -0,20 a -0,08 pontos por ano) ao longo dos anos após o IM em comparação com os declives pré-IM.

A análise de interação sugeriu que raça e sexo modificaram o grau de mudança no declínio na cognição4 global após IM (raça × termo de interação de declive pós-IM, P = 0,02; sexo × termo de interação de declive pós-IM, P = 0,04), com uma mudança menor no declínio ao longo dos anos após o IM em indivíduos negros do que em indivíduos brancos (diferença na mudança de declive, 0,22 pontos por ano; IC 95%, 0,04-0,40 pontos por ano) e em mulheres do que em homens (diferença na mudança de declive, 0,12 pontos por ano; IC 95%, 0,01-0,23 pontos por ano).

Este estudo de coorte9 usando dados agrupados de 6 estudos de coorte22 descobriu que o IM incidente2 não foi associado a uma diminuição na cognição4 global, memória ou função executiva6 no momento do evento em comparação com nenhum IM, mas foi associado a declínios mais rápidos na cognição4 global, memória e função executiva6 ao longo do tempo.

Esses achados sugerem que a prevenção do infarto do miocárdio1 pode ser importante para a saúde8 do cérebro25 a longo prazo.

Leia sobre "Doenças cardiovasculares26" e "Envelhecimento cerebral normal ou patológico".

 

Fontes:
JAMA Neurology, publicação em 30 de maio de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 30 de maio de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Infarto do miocárdio foi associado a declínio cognitivo mais rápido. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1439340/infarto-do-miocardio-foi-associado-a-declinio-cognitivo-mais-rapido.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
2 Incidente: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
3 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
4 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
5 Incidentes: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
6 Função executiva: Também conhecida como controle cognitivo ou sistema supervisor atencional é um conceito neuropsicológico que se aplica ao processo cognitivo responsável pelo planejamento e execução de atividades, que podem incluir, por exemplo, a iniciação de tarefas, memória de trabalho, atenção sustentada e inibição de impulsos.
7 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
8 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
9 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
10 Agudo: Descreve algo que acontece repentinamente e por curto período de tempo. O oposto de crônico.
11 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
12 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
13 Débito cardíaco: Quantidade de sangue bombeada pelo coração para a aorta a cada minuto.
14 Isquemia: Insuficiência absoluta ou relativa de aporte sanguíneo a um ou vários tecidos. Suas manifestações dependem do tecido comprometido, sendo a mais frequente a isquemia cardíaca, capaz de produzir infartos, isquemia cerebral, produtora de acidentes vasculares cerebrais, etc.
15 Arritmias: Arritmia cardíaca é o nome dado a diversas perturbações que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.
16 Infarto: Morte de um tecido por irrigação sangüínea insuficiente. O exemplo mais conhecido é o infarto do miocárdio, no qual se produz a obstrução das artérias coronárias com conseqüente lesão irreversível do músculo cardíaco.
17 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
18 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
19 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
20 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
21 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
22 Estudos de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
23 Aterosclerose: Tipo de arteriosclerose caracterizado pela formação de placas de ateroma sobre a parede das artérias.
24 Artéria: Vaso sangüíneo de grande calibre que leva sangue oxigenado do coração a todas as partes do corpo.
25 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
26 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
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