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Parar de fumar pode aliviar a ansiedade e a depressão

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As pessoas que param de fumar por pelo menos 15 semanas podem ver melhorias em sua saúde1 mental, mostrou uma análise secundária do estudo EAGLES, publicada no JAMA Network Open.

Em adultos com e sem histórico psiquiátrico, aqueles que pararam de fumar por esse período observaram reduções nas pontuações da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS) em 6 meses em comparação com fumantes ativos, relataram Angela Difeng Wu, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e co-autores.

Após o ajuste para vários fatores, a cessação sustentada do tabagismo foi associada a uma diferença de 0,40 pontos para ansiedade e uma diferença de 0,47 pontos para depressão na HADS – uma escala de 0 a 21 em que pontuações mais baixas indicam melhor saúde1 mental.

Entre os participantes que pararam de fumar, aqueles com transtorno psiquiátrico anterior experimentaram reduções maiores nos escores de ansiedade (-0,48 vs -0,29 para ex-fumantes sem tal histórico) e depressão (-0,60 vs -0,32).

Enquanto uma análise de correspondência de escore de propensão encontrou reduções semelhantes, uma análise de variável instrumental foi “incapaz de confirmar isso”.

Saiba mais sobre "Tabagismo", "Parar de fumar: como é" e "Principais transtornos mentais".

“Parar de fumar está associado a menor risco de morbidade2 e melhor qualidade de vida em qualquer idade, com nossa análise acrescentando evidências de que também melhora o bem-estar mental”, observaram Wu e seus colegas. “Fumar é a principal causa de doenças e mortes evitáveis no mundo, com uma em cada duas pessoas que continuam fumando ao longo da vida morrendo de uma doença relacionada ao fumo”.

Os pesquisadores observaram que os equívocos em torno do tabagismo e seu impacto na saúde1 mental geralmente impedem o abandono.

“Muitas pessoas que fumam afirmam que querem parar, mas muitas continuam porque relatam que fumar ajuda a aliviar o estresse e oferece outros benefícios para a saúde1 mental. Esses benefícios aparentes podem ser espúrios”, escreveram os autores do estudo. “Sentimentos de mau humor, irritabilidade e ansiedade podem se manifestar logo após terminar um cigarro quando os níveis de nicotina no sangue3 caem, e esses sentimentos são aliviados fumando outro cigarro.”

“Portanto, os indivíduos podem perceber que fumar alivia seu sofrimento psicológico; no entanto, esse sofrimento pode ter sido causado pela abstinência de fumar. A crença de que os cigarros são calmantes é generalizada e alguns profissionais de saúde1 podem dissuadir pessoas com transtornos mentais de tentar parar de fumar”, acrescentaram.

No artigo os pesquisadores contextualizam que embora muitas pessoas relatem o desejo de parar de fumar, as preocupações com a piora da saúde1 mental após o abandono são frequentemente levantadas por médicos e fumantes.

O objetivo do estudo, portanto, foi avaliar as mudanças na saúde1 mental após a cessação do tabagismo usando 3 abordagens analíticas co-primárias confirmatórias.

Este estudo de coorte4 foi conduzido usando dados de um grande ensaio clínico randomizado5, o Evaluating Adverse Events in a Global Smoking Cessation Study. As abordagens analíticas incluíram regressão Tobit multivariada, ajuste de escore de propensão e regressões de variáveis instrumentais realizadas de agosto a outubro de 2022. Os dados ausentes foram imputados para análise de sensibilidade.

O estudo ocorreu em 16 países, em 140 centros, entre 2011 e 2015. Apenas os dados dos participantes que completaram o estudo coletados nos EUA estavam disponíveis para esta análise secundária. Os participantes incluíam adultos com ou sem transtorno psiquiátrico que fumavam.

A exposição do estudo foi a abstinência tabágica entre as semanas 9 e 24.

Os escores de ansiedade e depressão foram medidos usando a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão em 24 semanas, onde uma pontuação mais baixa indica melhor saúde1 mental (intervalo, 0-21).

Dos 4.260 participantes incluídos (idade média [DP], 46,5 [12,4] anos; 2.485 mulheres [58,3%]; 3.044 indivíduos brancos [71,5%]), 2.359 (55,4%) tinham histórico de doença mental. A pontuação média (DP) da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão foi de 4,25 (3,68) (mediana [IQR], 3 [1-6]) para ansiedade e 2,44 (2,91) (mediana [IQR], 1 [0-4]) para depressão.

Após o ajuste para variáveis demográficas e basais, a cessação do tabagismo foi associada a uma diminuição nos escores de ansiedade (-0,40 pontos; IC 95%, -0,58 a -0,22 pontos) e depressão (-0,47 pontos; IC 95%, -0,61 a -0,33 ponto) em comparação com o hábito de fumar.

Da mesma forma, os modelos ajustados ao escore de propensão indicaram que a cessação do tabagismo foi associada a pontuações reduzidas para ansiedade (β = -0,32; IC 95%, -0,53 a -0,11) e depressão (β = -0,42; IC 95%, -0,60 a -0,24).

A análise de variáveis instrumentais foi insuficiente e as estimativas foram imprecisas. Os resultados foram robustos para sensibilidade planejada e análises de subgrupo, com tamanhos de efeito maiores em pessoas com histórico de doença mental.

Neste estudo de coorte4 de pessoas com e sem transtornos psiquiátricos, a cessação do tabagismo, mantida por pelo menos 15 semanas, foi associada a melhores resultados de saúde1 mental em análises observacionais, mas a análise de variáveis instrumentais forneceu evidências inconclusivas.

Descobertas como essas podem tranquilizar as pessoas que fumam e seus médicos de que a cessação do tabagismo provavelmente não piorará e pode melhorar a saúde1 mental.

Leia sobre "Saúde1 mental", "Síndrome6 de abstinência" e "Ansiedade normal e patológica".

 

Fontes:
JAMA Network Open, publicação em 31 de maio de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 31 de maio de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Parar de fumar pode aliviar a ansiedade e a depressão. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1439130/parar-de-fumar-pode-aliviar-a-ansiedade-e-a-depressao.htm>. Acesso em: 28 abr. 2024.

Complementos

1 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
2 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
3 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
4 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
5 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
6 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
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