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Um novo mecanismo do câncer: foram encontradas mutações em genes que normalmente ajudam as células a eliminar RNA defeituoso

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O câncer1 pode resultar de mutações em muitos genes diferentes.

Novas pesquisas apontam um gene que, quando mutado, causa câncer1 por meio de um mecanismo que os cientistas nunca haviam visto antes: as células2 perdem a capacidade de descartar seu lixo, ou seja, cadeias defeituosas de RNA.

Esse mecanismo parece atravessar muitas malignidades diferentes e pode apresentar um novo conjunto de moléculas para os medicamentos contra o câncer1 atingirem, conforme relatado na revista Science por uma equipe da Harvard Medical School, do Boston Children's Hospital e do Dana-Farber Cancer1 Institute.

Enquanto estudava o peixe-zebra, Megan Insco, instrutora de medicina da HMS e pesquisadora no laboratório de Leonard Zon na HMS e no Boston Children's na época, identificou um gene supressor3 de tumor4 chamado CDK13. Quando mutado, ele acelerou o desenvolvimento do melanoma5.

O mesmo gene também estava mutado em muitos melanomas humanos, ela descobriu.

Mas o que foi realmente surpreendente foi como a mutação6 CDK13 causa câncer1.

Investigando os RNAs produzidos por células2 de melanoma5, Insco viu vários RNAs curtos e defeituosos. Ela imediatamente compartilhou essa estranha descoberta com Zon.

“Eu disse, ‘isso definitivamente é interessante’”, lembrou Zon, professor de células-tronco7 e biologia regenerativa na Universidade de Harvard e diretor do Programa de Pesquisa de Células-tronco7 do Boston Children's. “Levou anos para descobrir o que isso significava.”

Leia sobre "Mutações genéticas", "Oncogênese" e "Câncer1 - informações importantes".

É normal que as células2 produzam um pequeno número de RNAs curtos e defeituosos. Normalmente, a maquinaria de vigilância no núcleo da célula8 os detecta e os descarta.

“Existem centenas de etapas na produção de RNAs e, às vezes, não dá certo”, explicou Insco, que agora dirige seu próprio laboratório no Dana-Farber.

“São erros que geralmente são descartados. Nesse caso, descobrimos que a célula8 não os estava limpando. O aspirador estava quebrado, então os RNAs estavam se acumulando.

Essas moléculas de RNA “lixo” por si só aceleraram dramaticamente a progressão do melanoma5. (Em seu laboratório, Insco investigará se o efeito se deve aos próprios RNAs ou a proteínas9 anormais produzidas a partir dos RNAs.)

Insco mostrou ainda que a proteína CDK13 está no centro do sistema de vigilância/limpeza de RNA da célula8. Ela modifica uma proteína chamada ZC3H14 que, por sua vez, recruta um complexo de proteínas9 para fazer o trabalho de limpeza. A CDK13 funciona da mesma forma em peixes-zebra, camundongos e células2 humanas, ela descobriu.

Ao todo, a pesquisa sugere que o gene CDK13, ou as proteínas9 que ele regula, podem ser direcionados para o tratamento de vários tipos de câncer1.

Somente no melanoma5, 21% dos tumores humanos examinados pela equipe tinham mutações no CDK13 ou em uma das proteínas9 a jusante10 dele.

A equipe também encontrou mutações em CDK13, ZC3H14 ou proteínas9 relacionadas em outros tumores humanos, incluindo câncer1 de pele11 não melanoma5, câncer1 de endométrio12, adenocarcinoma13 de cólon14 e câncer1 de pulmão15 de pequenas células2.

“Existe um mecanismo de limpeza que não está funcionando nesses tipos de câncer”, disse Zon. “Definir melhor como os RNAs são controlados e processados no câncer1 será uma questão importante para o desenvolvimento de terapias”.

Mutações oncogênicas do CDK13 impedem a vigilância do RNA nuclear

Vigilância do RNA torna-se oncogênica

A regulação precisa do RNA é um mecanismo de controle de qualidade importante para o desenvolvimento normal e para prevenir doenças. Os RNAs aberrantes requerem identificação e destruição para evitar a tradução de proteínas9 defeituosas.

Pesquisadores relatam que a quinase 13 dependente de ciclina (CDK13), que ativa um mecanismo de vigilância de RNA para degradar RNAs anormais, também tem uma função supressora de tumor4. Quando o CDK13 foi mutado em um modelo animal de melanoma5, o acúmulo e a tradução de RNAs aberrantes resultaram em malignidade mais agressiva.

A análise de outros tipos de câncer1 revelou mutações CDK13 semelhantes e mostrou que genes adicionais de vigilância de RNA sofreram mutações recorrentes em tumores humanos.

Esses achados sugerem que a vigilância do RNA pode ter um papel supressor3 de tumor4 não reconhecido anteriormente.

Resumo

As vias de vigilância de RNA detectam e degradam transcrições defeituosas para garantir a fidelidade do RNA. Descobriu-se que a vigilância do RNA nuclear interrompida é oncogênica. A quinase 13 dependente de ciclina (CDK13) sofre mutação6 no melanoma5, e a CDK13 com mutação6 acelera o melanoma5 do peixe-zebra.

A mutação6 do CDK13 causa estabilização aberrante do RNA. A proteína CDK13 é necessária para a fosforilação da ZC3H14, que é necessária e suficiente para promover a degradação do RNA nuclear. A CDK13 mutante falha em ativar a vigilância do RNA nuclear, fazendo com que os transcritos codificadores de proteínas9 aberrantes sejam estabilizados e traduzidos. A expressão de RNA aberrante forçada acelera o melanoma5 no peixe-zebra.

Encontrou-se mutações recorrentes em genes que codificam componentes de vigilância do RNA nuclear em muitas malignidades, estabelecendo a vigilância do RNA nuclear como uma via supressora de tumor4.

Ativar a vigilância do RNA nuclear é crucial para evitar o acúmulo de RNAs aberrantes e suas resultantes consequências no desenvolvimento e na doença.

Veja também sobre "Conhecendo melhor o melanoma5" e "Genética - conceitos básicos".

 

Fontes:
Science, Vol. 380, Nº 6642, em 21 de abril de 2023.
Harvard Medical School, notícia publicada em 09 de maio de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Um novo mecanismo do câncer: foram encontradas mutações em genes que normalmente ajudam as células a eliminar RNA defeituoso. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1438980/um-novo-mecanismo-do-cancer-foram-encontradas-mutacoes-em-genes-que-normalmente-ajudam-as-celulas-a-eliminar-rna-defeituoso.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
3 Supressor: 1. Que ou o que suprime. 2. Em genética, é o gene que torna o fenótipo idêntico àquele determinado pelo alelo não mutante (diz-se de mutação).
4 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
5 Melanoma: Neoplasia maligna que deriva dos melanócitos (as células responsáveis pela produção do principal pigmento cutâneo). Mais freqüente em pessoas de pele clara e exposta ao sol.Podem derivar de manchas prévias que mudam de cor ou sangram por traumatismos mínimos, ou instalar-se em pele previamente sã.
6 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
7 Células-tronco: São células primárias encontradas em todos os organismos multicelulares que retêm a habilidade de se renovar por meio da divisão celular mitótica e podem se diferenciar em uma vasta gama de tipos de células especializadas.
8 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
9 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
10 Jusante: 1. Vazante da maré; baixa-mar. 2. O sentido da correnteza em um curso de água (da nascente para a foz). Em medicina, é usado para se referir ao sentido do fluxo sanguíneo normal.
11 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
12 Endométrio: Membrana mucosa que reveste a cavidade uterina (responsável hormonalmente) durante o CICLO MENSTRUAL e GRAVIDEZ. O endométrio sofre transformações cíclicas que caracterizam a MENSTRUAÇÃO. Após FERTILIZAÇÃO bem sucedida, serve para sustentar o desenvolvimento do embrião.
13 Adenocarcinoma: É um câncer (neoplasia maligna) que se origina em tecido glandular. O termo adenocarcinoma é derivado de “adeno”, que significa “pertencente a uma glândula” e “carcinoma”, que descreve um câncer que se desenvolveu em células epiteliais.
14 Cólon:
15 Pulmão: Cada um dos órgãos pareados que ocupam a cavidade torácica que tem como função a oxigenação do sangue.

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