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Micróbios presentes na boca foram associados ao risco de câncer de pâncreas

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Mais de duas dúzias de bactérias e fungos na boca1 podem estar associados ao risco de câncer2 de pâncreas3, de acordo com uma análise de duas grandes coortes, publicada no JAMA Oncology.

A análise de amostras de lavagem bucal de mais de 120.000 pessoas revelou três patógenos bacterianos responsáveis pela doença periodontal4, 21 outras espécies bacterianas e quatro fungos associados ao risco de câncer2 de pâncreas3, disseram Jiyoung Ahn, PhD, da Universidade de Nova York, na cidade de Nova York, EUA, e colegas.

Um escore de risco microbiano (ERM) que combinou 27 bactérias e fungos foi associado a um aumento de 3,44 vezes no risco de câncer2 para cada aumento de desvio padrão no ERM.

“Isso pode servir como uma importante ferramenta de estratificação de risco em populações saudáveis”, disse Ahn. “Se validado, o perfil do microbioma5 oral pode servir como um biomarcador não invasivo para identificar indivíduos com risco elevado que podem se beneficiar de uma vigilância reforçada, o que é especialmente importante dada a falta de métodos eficazes de detecção precoce do câncer2 de pâncreas3.”

Os resultados reforçam pesquisas anteriores que já relacionam a doença periodontal4, particularmente a infecção6 por Porphyromonas gingivalis, e a candidíase7 clínica, com um maior risco de câncer2 de pâncreas3.

“Nossos resultados sugerem que manter uma boa higiene bucal, por meio de escovação regular, uso de fio dental e cuidados dentários, é fundamental”, acrescentou Ahn. “Este é um fator modificável para a prevenção do câncer2 de pâncreas3.”

Pelo menos três patógenos da doença periodontal4 foram associados a um maior risco de câncer2 de pâncreas3, incluindo Porphyromonas gingivalis (OR 1,27, IC 95% 1,03-1,57), Eubacterium nodatum (OR 1,42, IC 95% 1,14-1,76) e Parvimonas micra (OR 1,36, IC 95% 1,09-1,70). Também foram associadas a um maior risco seis espécies de Actinobacteria, três espécies de Bacteroidetes, três espécies de Firmicutes e uma espécie de Fusobacterium.

O aumento da presença de Candida, o gênero fúngico8 mais comum, foi significativamente associado a um maior risco de câncer2 de pâncreas3 (1,58 vez, IC 95% 1,05-2,38), incluindo Candida tropicalis (1,43 vez, IC 95% 1,00-2,03) e Candida não especificada (1,34 vez, IC 95% 1,05-1,70). A associação de Candida com câncer2 de pâncreas3 foi mais forte em pessoas com histórico de tabagismo, mas o índice de massa corporal9 (IMC10), o consumo de álcool e o diabetes11 não aumentaram a associação.

O IMC10, o histórico de tabagismo, o consumo de álcool ou o diabetes11 também não tiveram efeito substancial na associação entre o ERM e o câncer2 de pâncreas3.

Leia sobre "Câncer2 de pâncreas3", "Periodontite" e "Candidíase7".

Algumas bactérias e fungos orais foram associados à redução do risco de câncer2 de pâncreas3, incluindo seis patógenos da doença periodontal4, três espécies de Proteobacteria, duas espécies de Bacteroidetes e duas espécies de Actinobacteria. Fungos orais como Candida albicans (0,77 vezes, IC 95% 0,62-0,96) e Malassezia globosa (0,84 vezes, IC 95% 0,73-0,98) foram associados a um menor risco de câncer2 de pâncreas3.

“Evidências emergentes associam sistematicamente patógenos orais à carcinogênese pancreática, sugerindo que a má saúde12 bucal pode estar causalmente relacionada ao desenvolvimento do câncer2 de pâncreas”, disseram Ahn e colegas.

Patógenos como P. gingivalis foram encontrados no câncer2 de pâncreas3, e algumas das bactérias orais identificadas no estudo estão associadas à disfunção do metabolismo13 de carboidratos e lipídios. Quando os micróbios orais migram da cavidade oral14 para o pâncreas3, eles podem desempenhar um papel na remodelação do microbioma5 pancreático e na promoção da carcinogênese.

Esses visitantes orais podem, então, ajudar a manter o câncer2 em curso. Sua presença pancreática contínua pode causar “disbiose que libera toxinas15 e metabólitos16 microbianos, promovendo a tumorigênese pancreática ao desencadear uma resposta imune inata e, assim, afetando o potencial fagocitário e os processos inflamatórios”, explicaram Ahn e colegas.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que a microbiota17 oral pode estar envolvida no desenvolvimento do câncer2 de pâncreas3, porém as evidências atuais são amplamente limitadas ao sequenciamento do amplicon 16S bacteriano e a pequenos estudos retrospectivos de caso-controle.

O objetivo deste estudo, portanto, foi testar se o microbioma5 bacteriano e fúngico8 oral está associado ao desenvolvimento subsequente de câncer2 de pâncreas3.

Este estudo de coorte18 utilizou dados de duas coortes epidemiológicas: a Coorte19 de Nutrição20 do Estudo de Prevenção do Câncer2 II da Sociedade Americana do Câncer2 e o Ensaio de Rastreamento de Câncer2 de Próstata21, de Pulmão22, Colorretal e de Ovário23.

Entre os participantes das coortes que forneceram amostras orais, aqueles que desenvolveram câncer2 de pâncreas3 prospectivamente foram identificados durante o acompanhamento. Os participantes do grupo controle que permaneceram livres de câncer2 foram selecionados por pareamento por frequência 1:1 com base na coorte19, faixa etária quinquenal, sexo, raça e etnia e tempo desde a coleta da amostra oral. Os dados foram coletados de agosto de 2023 a setembro de 2024, e analisados de agosto de 2023 a janeiro de 2025.

O microbioma5 bacteriano e fúngico8 oral foi caracterizado, respectivamente, por sequenciamento metagenônico shotgun24 de genoma completo e sequenciamento da região espaçadora transcrita interna (ITS).

A associação de patógenos periodontais25 do complexo vermelho (Treponema denticola, Porphyromonas gingivalis e Tannerella forsythia) e do complexo laranja (Fusobacterium nucleatum, F periodonticum, Prevotella intermedia, P nigrescens, Parvimonas micra, Eubacterium nodatum, Campylobacter shower e C gracilis) com câncer2 de pâncreas3 foi testada por regressão logística.

A associação dos táxons26 bacterianos e fúngicos27 de todo o microbioma5 com câncer2 de pâncreas3 foi avaliada pela Análise de Composições de Microbiomas com Correção de Viés 2 (ANCOM-BC2). Os escores de risco microbiano (ERM) para câncer2 de pâncreas3 foram calculados a partir das espécies bacterianas e fúngicas28 associadas ao risco.

O principal desfecho foi incidência29 de câncer2 de pâncreas3.

Dos 122.000 participantes das coortes que forneceram amostras, 445 desenvolveram câncer2 de pâncreas3 ao longo de um acompanhamento mediano (IQR) de 8,8 (4,9-13,4) anos e foram pareados com 445 controles. Desses 890 participantes, 474 (53,3%) eram do sexo masculino e a média (DP) de idade foi de 67,2 (7,5) anos.

Três patógenos periodontais25 bacterianos orais (P. gingivalis, E. nodatum e P. micra) foram associados ao aumento do risco de câncer2 de pâncreas3. Uma varredura completa do bacterioma revelou 8 bactérias orais associadas à diminuição e 13 bactérias orais associadas ao aumento do risco de câncer2 de pâncreas3 (estatística Q ajustada pela taxa de descobertas falsas inferior a 0,05).

Dentre os fungos, o gênero Candida foi associado ao aumento do risco de câncer2 de pâncreas3. O ERM, baseado em 27 espécies orais, foi associado a um aumento no risco de câncer2 de pâncreas3 (razão de chances multivariada por aumento de 1 desvio padrão no ERM, 3,44; IC 95%, 2,63-4,51).

Neste estudo de coorte18, bactérias e fungos orais foram fatores de risco significativos para o desenvolvimento de câncer2 de pâncreas3. A microbiota17 oral é promissora como biomarcador para identificar indivíduos com alto risco de câncer2 de pâncreas3, contribuindo potencialmente para a prevenção personalizada.

As limitações do estudo incluíram o desenho observacional, que poderia permitir confusão por fatores não mensurados. Bancos de dados de referência de microbioma5 incompletos podem ter limitado os achados de fungos que aumentam o risco. Por fim, a grande porcentagem de participantes brancos na população do estudo pode limitar a generalização dos achados.

Veja também sobre "O que são bactérias", "Fungos: como são" e "Microbioma5 intestinal humano".

 

Fontes:
JAMA Oncology, publicação em 18 de setembro de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 18 de setembro de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Micróbios presentes na boca foram associados ao risco de câncer de pâncreas. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1495285/microbios-presentes-na-boca-foram-associados-ao-risco-de-cancer-de-pancreas.htm>. Acesso em: 3 out. 2025.

Complementos

1 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
2 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
3 Pâncreas: Órgão nodular (no ABDOME) que abriga GLÂNDULAS ENDÓCRINAS e GLÂNDULAS EXÓCRINAS. A pequena porção endócrina é composta pelas ILHOTAS DE LANGERHANS, que secretam vários hormônios na corrente sangüínea. A grande porção exócrina (PÂNCREAS EXÓCRINO) é uma glândula acinar composta, que secreta várias enzimas digestivas no sistema de ductos pancreáticos (que desemboca no DUODENO).
4 Periodontal: Relativo ao ou próprio do tecido em torno dos dentes, o periodonto. O periodonto é o tecido conjuntivo que fixa o dente no alvéolo.
5 Microbioma: Comunidade ecológica de microrganismos comensais, simbióticos e patogênicos que compartilham nosso espaço corporal. Microbioma humano é o conjunto de microrganismos que reside no corpo do Homo sapiens, mantendo uma relação simbiótica com o hospedeiro. O conceito vai além do termo microbiota, incluindo também a relação entre as células microbianas e as células e sistemas humanos, por meio de seus genomas, transcriptomas, proteomas e metabolomas.
6 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
7 Candidíase: É o nome da infecção produzida pela Candida albicans, um fungo que produz doença em mucosas, na pele ou em órgãos profundos (candidíase sistêmica).As infecções profundas podem ser mais freqüentes em pessoas com deficiência no sistema imunológico (pacientes com câncer, SIDA, etc.).
8 Fúngico: Relativo à ou produzido por fungo.
9 Índice de massa corporal: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
10 IMC: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
11 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
12 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
13 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
14 Cavidade Oral: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
15 Toxinas: Substâncias tóxicas, especialmente uma proteína, produzidas durante o metabolismo e o crescimento de certos microrganismos, animais e plantas, capazes de provocar a formação de anticorpos ou antitoxinas.
16 Metabólitos: Qualquer composto intermediário das reações enzimáticas do metabolismo.
17 Microbiota: Em ecologia, chama-se microbiota ao conjunto dos microrganismos que habitam um ecossistema, principalmente bactérias, protozoários e outros microrganismos que têm funções importantes na decomposição da matéria orgânica e, portanto, na reciclagem dos nutrientes. Fazem parte da microbiota humana uma quantidade enorme de bactérias que vivem em harmonia no organismo e auxiliam a ação do sistema imunológico e a nutrição, por exemplo.
18 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
19 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
20 Nutrição: Incorporação de vitaminas, minerais, proteínas, lipídios, carboidratos, oligoelementos, etc. indispensáveis para o desenvolvimento e manutenção de um indivíduo normal.
21 Próstata: Glândula que (nos machos) circunda o colo da BEXIGA e da URETRA. Secreta uma substância que liquefaz o sêmem coagulado. Está situada na cavidade pélvica (atrás da parte inferior da SÍNFISE PÚBICA, acima da camada profunda do ligamento triangular) e está assentada sobre o RETO.
22 Pulmão: Cada um dos órgãos pareados que ocupam a cavidade torácica que tem como função a oxigenação do sangue.
23 Ovário: Órgão reprodutor (GÔNADAS) feminino. Nos vertebrados, o ovário contém duas partes funcionais Sinônimos: Ovários
24 Shotgun: Em metagenômica, o sequenciamento por shotgun é feito da mesma forma que em genomas de culturas clonadas. Porém, o material genético original não é de apenas um organismo, mas de uma comunidade. Dependendo da amostra, o DNA fornece apenas um fragmento do genoma dos organismos daquele ambiente.
25 Periodontais: Relativo ao ou próprio do tecido em torno dos dentes, o periodonto. O periodonto é o tecido conjuntivo que fixa o dente no alvéolo.
26 Táxons: Táxon (no plural “taxaâ€) é a unidade taxonômica associada à classificação científica de seres vivos. Reino, ordem, gênero e espécie são exemplos de taxa.
27 Fúngicos: Relativos à ou produzidos por fungo.
28 Fúngicas: Relativas à ou produzidas por fungo.
29 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.

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