Infecção pelo vírus Epstein-Barr aumenta em mais de 30 vezes o risco de desenvolver esclerose múltipla
Durante décadas, pesquisadores suspeitaram que as pessoas infectadas com um vírus1 extremamente comum, o Epstein-Barr, podem ter maior probabilidade de desenvolver esclerose múltipla2, uma doença neurológica que afeta um milhão de pessoas nos Estados Unidos. Agora, uma equipe de pesquisadores relata o que alguns dizem ser a evidência mais convincente de uma forte ligação entre as duas doenças.
Uma análise longitudinal, publicada pela revista Science, mostrou que o risco de esclerose múltipla2 (EM) aumentou 32 vezes após a infecção3 pelo vírus1 Epstein-Barr (VEB), mas permaneceu inalterado após outras infecções4 virais.
Leia sobre "O que são vírus1 e como evitar uma infecção3 viral" e "Como é a esclerose múltipla2".
Esse vírus1 infecta quase todos na adolescência ou na idade adulta jovem, e muito poucos desenvolvem esclerose múltipla2. Os pesquisadores também observam que ele não é o único fator de risco5 conhecido para as pessoas que desenvolvem a doença. Mas dizem que seus dados apontam para ser o fator mais claro de todos. Embora ainda não se saiba se a descoberta resultará em tratamentos ou curas para a esclerose múltipla2, o estudo pode motivar ainda mais pesquisas sobre terapias e vacinas para a doença.
“Este é realmente um ponto de virada”, diz Alberto Ascherio, da Universidade de Harvard, um dos autores do estudo. “Este é um grande passo porque sugere que a maioria dos casos de esclerose múltipla2 pode ser prevenida com a interrupção da infecção3 pelo VEB, e que colocar o VEB como alvo pode levar à descoberta de uma cura para a esclerose6 múltipla”, acrescentou.
A esclerose múltipla2 é uma doença desmielinizante7 crônica do sistema nervoso central8, sendo causada pelo ataque do sistema imunológico9 à bainha protetora que envolve os nervos, levando a sintomas10 como dificuldade para andar, que pioram com o tempo.
O vírus1 Epstein-Barr é um tipo de vírus1 da herpes que se espalha principalmente pela saliva, por exemplo, beijando ou bebendo do mesmo copo. É a causa da mononucleose11, às vezes conhecida como febre12 glandular. As infecções4 iniciais podem causar poucos ou nenhum sintoma13, mas uma vez que o vírus1 entra nas células14 imunes chamadas células14 B, ele se esconde nelas permanentemente. Ele pode reativar e causar problemas mais tarde na vida, incluindo vários tipos de câncer15.
A dificuldade em demonstrar que o vírus1 Epstein-Barr é a principal causa da EM é que 9 em cada 10 pessoas em todo o mundo estão infectadas com ele. Isso significa que os cientistas devem monitorar um grande número de pessoas para descobrir se as pessoas que não foram infectadas pelo vírus1 têm menos probabilidade de desenvolver EM.
A equipe de Ascherio encontrou os números de que precisava entre os militares dos EUA, que têm amostras de sangue16 coletadas regularmente e armazenadas, permitindo que sejam testadas posteriormente para infecções4 por Epstein-Barr. “Isso é praticamente único no mundo”, diz Ascherio.
Apenas 5% dos recrutas não estavam infectados com o vírus1 Epstein-Barr quando a primeira amostra de sangue16 foi coletada. Dos 10 milhões de militares, 955 desenvolveram EM, normalmente cerca de 10 anos após a coleta da primeira amostra.
No entanto, apenas um dos que desenvolveram esclerose múltipla2 testou negativo para anticorpos17 contra o vírus1 Epstein-Barr. Outros 34 não estavam infectados quando a primeira amostra de sangue16 foi coletada, mas foram infectados antes de serem diagnosticadas com EM.
Os pesquisadores relatam que o risco de EM aumentou 32 vezes após a infecção3 pelo VEB, mas não aumentou após a infecção3 por outros vírus1, incluindo o citomegalovírus18 de transmissão semelhante. Os níveis séricos do neurofilamento de cadeia leve, um biomarcador da degeneração19 neuroaxonal, aumentaram apenas após a soroconversão do VEB.
Esses achados não podem ser explicados por nenhum fator de risco5 conhecido para esclerose múltipla2 e sugerem o vírus1 Epstein-Barr como a principal causa de esclerose múltipla2.
Veja também sobre "Mononucleose infecciosa20 ou doença do beijo" e "Conhecendo melhor as doenças degenerativas21".
Fontes:
Science, Vol. 375, Nº 6578, em 13 de janeiro de 2022.
New Scientist, notícia publicada em 13 de janeiro de 2022.
The New York Times, notícia publicada em 13 de janeiro de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 13 de janeiro de 2022.