Memória imunológica: cérebro pode armazenar e recuperar respostas imunes específicas
As interações entre os sistemas nervoso e imunológico têm sido um tema de grande interesse nas últimas décadas. Interagindo de maneira bidirecional, os sinais1 neuronais podem afetar as funções imunológicas e as células2 imunológicas podem modular a atividade dos neurônios3 no cérebro4 e na medula espinhal5, ou no resto do corpo (conhecido como periferia), na saúde6 e na doença.
Em novo estudo publicado na revista científica Cell, pesquisadores demonstram que a inflamação7 na cavidade abdominal8 resulta na estimulação de certos neurônios3 em uma área do cérebro4 chamada córtex insular, ou ínsula. A reativação artificial desses neurônios3 com “impressão imunológica” é suficiente para gerar uma recordação específica do órgão de respostas inflamatórias que se assemelham ao episódio inflamatório inicial.
Isso mostra que a inflamação7 no intestino é codificada por neurônios3 no cérebro4, com os neurônios3 do córtex insular codificando e recuperando respostas imunes específicas.
Leia sobre "As relações entre intestino e cérebro4" e "O que é inflamação7".
Destaques
- Os conjuntos neuronais no córtex insular (CtxIns) são ativados durante a inflamação7 periférica
- A reativação desses neurônios3 é suficiente para recuperar a inflamação7 periférica
- Esses neurônios3 do CtxIns se projetam para locais de controle do sistema nervoso autônomo9 (DMV, RVLM)
- A inibição do CtxIns alivia a inflamação7 durante a colite10 induzida por dextran sulfato de sódio (DSS)
Resumo
Evidências crescentes indicam que o cérebro4 regula a imunidade11 periférica, mas ainda não está claro se e como o cérebro4 representa o estado do sistema imunológico12. Neste estudo, mostrou-se que o córtex insular (CtxIns)do cérebro4 armazena informações relacionadas ao sistema imunológico12.
Usando marcação de células2 dependente de atividade em camundongos, capturou-se conjuntos neuronais no CtxIns que estavam ativos sob duas condições inflamatórias diferentes (colite10 induzida por dextran sulfato de sódio [DSS] e peritonite13 induzida por zimosan).
A reativação quimiogênica desses conjuntos neuronais foi suficiente para recuperar amplamente o estado inflamatório sob o qual esses neurônios3 foram capturados.
Assim, mostrou-se que o cérebro4 pode armazenar e recuperar respostas imunes específicas, estendendo o conceito clássico de memória imunológica para representações neuronais de informações inflamatórias.
Veja também sobre "O papel dos neurotransmissores no organismo", "Neurociência - o que ela estuda" e "Imunoterapia".
Fontes:
Cell, Vol. 184, Nº 24, em novembro de 2021.
Nature, notícia publicada em 10 de janeiro de 2022.