Tecido adiposo perivascular contribui para a disfunção vascular na insuficiência cardíaca, através da super ativação do sistema renina-angiotensina
A insuficiência cardíaca1 é uma síndrome2 caracterizada pela incapacidade do coração3 em manter fluxo de sangue4 adequado para os diversos órgãos e tecidos do corpo. Segundo dados do Ministério da Saúde5, nos últimos dez anos a insuficiência cardíaca1 foi responsável por 228.239 óbitos.
Agora, um novo estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Fisiologia6 Vascular7 do Instituto de Ciências Biomédicas da USP demonstrou que a camada de gordura8 que envolve os vasos sanguíneos9 próximos ao coração3, chamada de tecido adiposo10 perivascular, está relacionada à perda da capacidade dos vasos de se adequarem ao fluxo sanguíneo bombeado.
Essa incapacidade decorre da carência na função anticontrátil deste tecido11, o que sobrecarrega o funcionamento do coração3 e pode agravar a insuficiência cardíaca1. Os dados inéditos abrem novas perspectivas de estudos na área e apontam o tecido adiposo10 perivascular como um novo alvo para tratamentos médicos que visam à melhora do quadro clínico desta síndrome2 complexa.
Leia sobre "Doenças cardiovasculares12" e "Insuficiência cardíaca congestiva13".
A disfunção do tecido adiposo10 perivascular (TAPV) está associada a danos vasculares14 em doenças cardiometabólicas. Embora a disfunção endotelial induzida por insuficiência cardíaca1 (IC) esteja associada à ativação do sistema renina-angiotensina (SRA), nenhum dado correlacionou essa síndrome2 com a disfunção do TAPV.
Assim, o objetivo do presente estudo, publicado na revista Clinical Science, foi investigar se a hiperativação do SRA no TAPV participa da disfunção vascular7 observada em ratos com IC após cirurgia de infarto do miocárdio15.
Estudos de miografia16 de fio foram realizados em anéis da aorta torácica17 na presença e ausência de TAPV. Um efeito anticontrátil do TAPV foi observado nos anéis dos ratos de controle na presença (33%) ou ausência (11%) de endotélio18.
Além disso, essa resposta foi substancialmente reduzida em animais com IC (5%), e o bloqueio agudo19 do receptor da angiotensina II do tipo 1 (AT1R) e do receptor da angiotensina II do tipo 2 (AT2R) restaurou o efeito anticontrátil do TAPV.
Adicionalmente, a atividade da enzima20 conversora de angiotensina 1 (ECA1) (26%) e os níveis de angiotensina II (51%), bem como a expressão dos genes AT1R e AT2R, foram aumentados no TAPV de ratos com IC.
Associados a essas alterações, observou-se menor biodisponibilidade do óxido nítrico induzida pela IC, estresse oxidativo e clareamento do TAPV, o que sugere alterações na função secretora desse tecido11.
Os eixos ECA1 / angiotensina II / AT1R e AT2R estão envolvidos na disfunção do TAPV da aorta torácica17 em ratos com IC.
Esses resultados sugerem o tecido adiposo10 perivascular como um alvo na fisiopatologia21 da disfunção vascular7 na insuficiência cardíaca1 e fornecem novas perspectivas para o tratamento dessa síndrome2.
Veja também sobre "Sete passos para um coração3 saudável" e "Infarto do Miocárdio15"
Fontes:
Clinical Science, publicação em 09 de dezembro de 2020.
Jornal da USP, notícia publicada em 07 de maio de 2021.