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A ansiedade e a depressão da mãe levam à asma em crianças? Estudo mostrou associação da asma com sofrimento psicológico materno, mas não paterno

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Embora o sofrimento psicológico materno durante a gravidez1 esteja associado a riscos aumentados de morbidade2 respiratória em crianças pré-escolares, não se sabe se essa associação persiste até a infância.

Agora, um estudo de coorte3 prospectivo4 baseado na Holanda mostrou que crianças cujas mães tiveram depressão e ansiedade durante a gravidez1 correram um risco maior de asma5 na infância. Mães que experimentaram estresse ou depressão durante a gravidez1 tiveram filhos com um risco aumentado de 46% – 91% de asma5 posteriormente, relatou Liesbeth Duijts, MD, PhD, do Erasmus Medical Center em Rotterdam, e colegas.

O objetivo do estudo, publicado no jornal Thorax, do BMJ, foi examinar a associação entre sofrimento psicológico dos pais durante a gravidez1 e função pulmonar e asma5 em crianças em idade escolar.

Saiba mais sobre "Asma5", "Depressão na gravidez1" e "Transtorno de ansiedade generalizada".

Este estudo de 4.231 crianças foi incluído em uma coorte6 prospectiva de base populacional. O sofrimento psicológico dos pais foi avaliado pelo Brief Symptom Inventory durante e 3 anos após a gravidez1, e nas mães também aos 2 e 6 meses após a gravidez1. Aos 10 anos, a função pulmonar foi obtida por espirometria7 e a asma5 por questionário.

A prevalência8 de asma5 foi de 5,9%. Sofrimento psicológico geral materno durante a gravidez1 foi associado a uma menor capacidade vital forçada9 (CVF) (diferença de escore z -0,10 [IC de 95% -0,20 a -0,01] por aumento de 1 unidade) e sintomas10 depressivos maternos durante a gravidez1 foram associados com menor volume expiratório forçado no primeiro segundo11 (VEF1) e CVF (−0,13 [IC 95% −0,24 a –0,01] e −0,13 [IC 95% −0,24 a –0,02] ao usar pontos de corte clínicos) em seus filhos.

Todas as medidas de sofrimento psicológico materno durante a gravidez1 foram associadas a um risco aumentado de asma5 (intervalo OR: 1,46 [IC 95% 1,12 a 1,90] a 1,91 [IC 95% 1,26 a 2,91]).

Ajustes adicionais para sofrimento psicológico paterno durante a gravidez1 e sofrimento psicológico dos pais após a gravidez1 não alteraram materialmente as associações. O sofrimento psicológico paterno durante a gravidez1 não foi associado à morbidade2 respiratória na infância.

O estudo concluiu que o sofrimento psicológico materno, mas não paterno, durante a gravidez1 está associado a um risco aumentado de asma5 e função pulmonar parcialmente inferior em crianças. Isso sugere uma programação intrauterina para o risco de doença respiratória mais tarde na vida.

O grupo de pesquisadores sugeriu que a produção excessiva de hormônios glicocorticoides em mulheres grávidas com depressão ou ansiedade poderia impactar o desenvolvimento fetal do eixo Hipotálamo12-Hipófise13-Adrenal e contribuir para problemas respiratórios.

“Os genes regulados por glicocorticoides são essenciais para o desenvolvimento do pulmão14 fetal, especialmente durante o primeiro e o segundo trimestres da gravidez”, escreveram os autores. "Qualquer interrupção neste processo pode levar a adaptações de desenvolvimento dos pulmões15 e, portanto, a função pulmonar alterada."

Leia sobre "Saúde16 mental", "Depressões", "Depressão pós-parto" e "Estresse".

 

Fontes:
Thorax, publicação em 12 de outubro de 2020.
MedPage Today, notícia publicada em 12 de outubro de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. A ansiedade e a depressão da mãe levam à asma em crianças? Estudo mostrou associação da asma com sofrimento psicológico materno, mas não paterno. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1381508/a-ansiedade-e-a-depressao-da-mae-levam-a-asma-em-criancas-estudo-mostrou-associacao-da-asma-com-sofrimento-psicologico-materno-mas-nao-paterno.htm>. Acesso em: 16 abr. 2024.

Complementos

1 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
2 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
3 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
4 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
5 Asma: Doença das vias aéreas inferiores (brônquios), caracterizada por uma diminuição aguda do calibre bronquial em resposta a um estímulo ambiental. Isto produz obstrução e dificuldade respiratória que pode ser revertida de forma espontânea ou com tratamento médico.
6 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
7 Espirometria: Exame que permite aferir o fluxo de ar nas vias aéreas ou brônquios, comparando os resultados com os obtidos por pessoas saudáveis com a mesma idade e altura. Serve para a investigação de sintomas respiratórios; diagnóstico e avaliação de asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou bronquite causada pelo cigarro; incapacidade funcional; avaliação pós-operatória e avaliação e diagnóstico de doenças respiratórias relacionadas ao trabalho. O exame têm duração média de 30 minutos.
8 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
9 Capacidade vital forçada: Representa o volume máximo de ar exalado com esforço máximo, a partir do ponto de máxima inspiração.
10 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
11 Volume Expiratório forçado no primeiro segundo: É o volume de ar expirado num segundo. Ele é reduzido nos doentes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pois estes necessitam de mais tempo para expirarem completamente.
12 Hipotálamo: Parte ventral do diencéfalo extendendo-se da região do quiasma óptico à borda caudal dos corpos mamilares, formando as paredes lateral e inferior do terceiro ventrículo.
13 Hipófise:
14 Pulmão: Cada um dos órgãos pareados que ocupam a cavidade torácica que tem como função a oxigenação do sangue.
15 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
16 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
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