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Neurofilamento de cadeia leve no humor vítreo do olho pode sinalizar risco de neurodegeneração

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O neurofilamento de cadeia leve (NfL) é um biomarcador previamente medido no sangue1 ou líquido cefalorraquidiano2 e usado para indicar neurodegeneração. Este novo estudo investigou a presença de NfL no humor vítreo3 e suas associações com beta amiloide, tau, citocinas4 inflamatórias e proteínas5 vasculares6, genótipos de apolipoproteína E (APOE), escores de Mini Exame do Estado Mental (MEEM), doença sistêmica e doenças oftálmicas.

Agora descobriu-se que o NfL é detectável no humor vítreo3 do olho7, abrindo a porta para um novo método potencial de prever doenças neurodegenerativas, sugere a nova pesquisa.

No estudo, publicado no jornal Alzheimer8's Research & Therapy, com 77 pacientes submetidos à cirurgia ocular para várias condições, mais de 70% tinham mais de 20 pg/ml de NfL em seu humor vítreo3, e níveis mais elevados de NfL foram associados a níveis mais elevados de outros biomarcadores conhecidos por estarem associados à doença de Alzheimer9 (DA), incluindo β-amiloide e proteínas5 tau.

Leia sobre "Doenças degenerativas10" e "Mal de Alzheimer8".

Este foi um estudo de coorte11 prospectivo12 e transversal em um único local. O líquido vítreo13 não diluído (0,5–1,0 mL) foi aspirado durante a vitrectomia e o sangue1 total foi coletado para genotipagem APOE.

NfL, beta amiloide (Aβ), Tau total (t-Tau), Tau fosforilada (p-Tau181), citocinas4 inflamatórias, quimiocinas e proteínas5 vasculares6 no vítreo13 foram medidas quantitativamente por imunoensaio. As principais medidas de resultado foram a detecção dos níveis de NfL no humor vítreo3 e suas associações com as proteínas5 mencionadas.

A regressão linear foi usada para testar as associações de NfL com outras proteínas5, genótipos APOE, escores de MEEM e doenças oftálmicas e sistêmicas após ajuste para idade, sexo, nível de educação e outras doenças oculares.

NfL foi detectado em todas as 77 amostras de vítreo13. NfL não foi associado a condições oftálmicas, genótipos de APOE, escores de MEEM ou doença sistêmica (p> 0,05).

Os níveis de NfL foram positivamente associados a níveis elevados de Aβ40 no vítreo13 (p = 7,7 × 10−5), Aβ42 (p = 2,8 × 10−4) e t-tau (p = 5,5 × 10−7), mas não com p -tau181 (p = 0,53).

NfL também teve associações significativas com citocinas4 inflamatórias, como interleucina-15 (IL-15, p = 5,3 × 10−4), IL-16 (p = 2,2 × 10−4), proteína quimioatraente de monócitos14-1 (MCP1, p = 4,1 × 10-4), e proteínas5 vasculares6, como receptor-1 do fator de crescimento endotelial vascular15 (VEGFR1, p = 2,9 × 10-6), Vegf-C (p = 8,6 × 10-6), adesão celular vascular15 (VCAM-1, p = 5,0 × 10-4), Tie-2 (p = 6,3 × 10-4) e molécula-1 de adesão intracelular (ICAM-1, p = 1,6 × 10-4).

O estudo concluiu que o NfL é detectável no humor vítreo3 do olho7 e significativamente associado com beta amiloide, t-tau e proteínas5 inflamatórias e vasculares6 selecionadas no vítreo13. Além disso, o NfL não foi associado à condição clínica dos olhos16 dos pacientes. Os resultados servem como base para uma investigação mais aprofundada do NfL nos fluidos oculares para nos informar sobre a utilidade potencial de sua presença no olho7.

"O estudo teve três resultados primários", disse o autor principal Manju L. Subramanian, MD, professora associada de oftalmologia na Escola de Medicina da Universidade de Boston, Massachusetts, ao Medscape Medical News.

Primeiro, os pesquisadores foram capazes de detectar níveis de NfL no fluido ocular; e, em segundo lugar, esses níveis não estavam de forma alguma correlacionados com a condição clínica dos olhos16 do paciente, disse Subramanian.

"A terceira descoberta foi que fomos capazes de correlacionar os níveis de neurofilamento de cadeia leve com outros marcadores que eram conhecidos por estarem associados a condições como a doença de Alzheimer9", observou ela.

Para Subramanian, essas descobertas aumentam a hipótese de que o olho7 é uma extensão do cérebro17.

"Esta é mais uma evidência de que o olho7 pode ser potencialmente um representante para doenças neurodegenerativas", disse ela. "Portanto, encontrar o neurofilamento de cadeia leve no olho7 demonstra que o olho7 não é um órgão isolado e que coisas que acontecem no corpo podem afetar o olho7 e vice-versa."

Veja também sobre "Sinais18 e sintomas19 oftálmicos que precisam de avaliação médica".

 

Fontes:
Alzheimer8's Research & Therapy, publicação em 17 de setembro de 2020.
Medscape, notícia publicada em 07 de outubro de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. Neurofilamento de cadeia leve no humor vítreo do olho pode sinalizar risco de neurodegeneração. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1381433/neurofilamento-de-cadeia-leve-no-humor-vitreo-do-olho-pode-sinalizar-risco-de-neurodegeneracao.htm>. Acesso em: 7 out. 2024.

Complementos

1 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
2 Líquido cefalorraquidiano: Líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como líquor ou fluido cérebro espinhal, é definido como um fluido corporal estéril, incolor, encontrado no espaço subaracnoideo no cérebro e na medula espinhal (entre as meninges aracnoide e pia-máter). Caracteriza-se por ser uma solução salina pura, com baixo teor de proteínas e células, atuando como um amortecedor para o córtex cerebral e a medula espinhal. Possui também a função de fornecer nutrientes para o tecido nervoso e remover resíduos metabólicos do mesmo. É sintetizado pelos plexos coroidais, epitélio ventricular e espaço subaracnoideo em uma taxa de aproximadamente 20 mL/hora. Em recém-nascidos, este líquido é encontrado em um volume que varia entre 10 a 60 mL, enquanto que no adulto fica entre 100 a 150 mL.
3 Humor vítreo: É uma substância gelatinosa e viscosa, formada por substância amorfa semilíquida, fibras e células. Faz parte do corpo vítreo do olho. Está situado entre o cristalino e a retina.
4 Citocinas: Citoquina ou citocina é a designação genérica de certas substâncias segregadas por células do sistema imunitário que controlam as reações imunes do organismo.
5 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
6 Vasculares: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
7 Olho: s. m. (fr. oeil; ing. eye). Órgão da visão, constituído pelo globo ocular (V. este termo) e pelos diversos meios que este encerra. Está situado na órbita e ligado ao cérebro pelo nervo óptico. V. ocular, oftalm-. Sinônimos: Olhos
8 Alzheimer: Doença degenerativa crônica que produz uma deterioração insidiosa e progressiva das funções intelectuais superiores. É uma das causas mais freqüentes de demência. Geralmente começa a partir dos 50 anos de idade e tem incidência similar entre homens e mulheres.
9 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
10 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
11 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
12 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
13 Vítreo: 1. Substância gelatinosa e transparente que preenche o espaço interno do olho. 2. Com a transparência do vidro; claro, límpido, translúcido. 3. Relativo a ou próprio de vidro.
14 Monócitos: É um tipo de leucócito mononuclear fagocitário, que se forma na medula óssea e é posteriormente transportado para os tecidos, onde se desenvolve em macrófagos.
15 Vascular: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
16 Olhos:
17 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
18 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
19 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
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