Características clínicas de 58 crianças com síndrome multissistêmica inflamatória pediátrica associada temporalmente ao SARS-CoV-2
Em comunidades com altas taxas de COVID-19, surgiram relatos de crianças com uma síndrome1 incomum de febre2 e inflamação3.
O objetivo desse estudo, publicado pelo JAMA, foi descrever as características clínicas e laboratoriais de crianças hospitalizadas que atenderam aos critérios para a síndrome1 multissistêmica inflamatória pediátrica associada temporalmente ao SARS-CoV-2 (PIMS-TS) e comparar essas características com outros distúrbios inflamatórios pediátricos.
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O estudo consistiu de uma série de casos de 58 crianças de 8 hospitais da Inglaterra, admitidas entre 23 de março e 16 de maio de 2020, com febre2 persistente e evidências laboratoriais de inflamação3, atendendo às definições publicadas para a PIMS-TS. A data final do acompanhamento foi em 22 de maio de 2020. As características clínicas e laboratoriais foram extraídas pela revisão dos prontuários e comparadas às características clínicas dos pacientes com doença de Kawasaki (DK) (n = 1.132), síndrome1 de choque4 da DK (n = 45) e síndrome1 do choque4 tóxico (n = 37) internados em hospitais na Europa e nos EUA de 2002 a 2019.
Foram analisados sinais5 e sintomas6 e achados laboratoriais e de imagem de crianças que atenderam aos critérios de definição para a PIMS-TS do Reino Unido, EUA e Organização Mundial da Saúde7.
Os principais resultados e medidas foram as características clínicas, laboratoriais e de imagem de crianças que atendem aos critérios de definição para PIMS-TS e comparação com as características de outros distúrbios inflamatórios pediátricos.
Foram identificadas 58 crianças (idade média de 9 anos [intervalo interquartil {IQR}, 5,7-14]; 33 meninas [57%]) que preencheram os critérios para PIMS-TS. Os resultados dos testes de reação em cadeia da polimerase para SARS-CoV-2 foram positivos em 15 de 58 pacientes (26%) e os resultados do teste de igG para SARS-CoV-2 foram positivos em 40 de 46 (87%).
No total, 45 de 58 pacientes (78%) tinham evidências de infecção8 por SARS-CoV-2 atual ou anterior. Todas as crianças apresentaram febre2 e sintomas6 inespecíficos, incluindo vômitos9 (26/58 [45%]), dor abdominal (31/58 [53%]) e diarreia10 (30/58 [52%]). Erupção11 cutânea12 estava presente em 30 de 58 (52%) e hiperemia13 conjuntival em 26 de 58 (45%) casos.
A avaliação laboratorial foi consistente com inflamação3 acentuada, por exemplo, proteína C reativa (229 mg/L [IQR, 156-338], avaliada em 58 de 58) e ferritina (610 μg/L [IQR, 359-1280], avaliada em 53 de 58).
Das 58 crianças, 29 desenvolveram choque4 (com evidência bioquímica de disfunção miocárdica) e necessitaram de suporte inotrópico e reanimação hídrica (incluindo 23/29 [79%] que receberam ventilação14 mecânica); 13 atenderam à definição de DK da American Heart Association e 23 apresentaram febre2 e inflamação3 sem características de choque4 ou DK. Oito pacientes (14%) desenvolveram dilatação da artéria15 coronária ou aneurisma16.
A comparação de PIMS-TS com DK e com síndrome1 de choque4 da DK mostrou diferenças nas características clínicas e laboratoriais, incluindo idade mais avançada (idade média, 9 anos [IQR, 5,7-14] vs 2,7 anos [IQR, 1,4-4,7] e 3,8 anos [IQR, 0,2-18], respectivamente) e maior elevação de marcadores inflamatórios, como a proteína C reativa (mediana, 229 mg/L [IQR 156-338] vs 67 mg/L [IQR, 40-150 mg / L] e 193 mg/L [IQR, 83-237], respectivamente).
Nesta série de casos de crianças hospitalizadas que preencheram os critérios para PIMS-TS, havia um amplo espectro de sinais5 e sintomas6 e gravidade da doença, variando de febre2 e inflamação3 a lesão17 do miocárdio18, choque4 e desenvolvimento de aneurismas das artérias coronárias19. A comparação com pacientes com síndrome1 de choque4 da DK e DK fornece informações sobre essa síndrome1 e sugere que esse distúrbio difere de outras entidades inflamatórias pediátricas.
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Fonte: JAMA, publicação em 8 de junho de 2020.