Antidepressivos podem duplicar o risco de suicídio e agressividade em crianças, diz estudo publicado pelo BMJ
Pesquisadores dinamarqueses realizaram uma revisão sistemática e meta-análise de 70 ensaios com 18.526 pacientes. Os ensaios examinaram o uso de cinco dos antidepressivos mais comumente prescritos: duloxetina, fluoxetina, paroxetina, sertralina e venlafaxina.
Eles incluíram no estudo apenas ensaios duplamente cegos, controlados com placebo1, contendo narrativas de pacientes ou listagens individuais de danos associados. Como os danos associados aos antidepressivos muitas vezes não estão incluídos nos relatórios de ensaios publicados, os pesquisadores analisaram os relatórios de estudos clínicos preparados pelas empresas farmacêuticas para autorização de mercado. Eles também analisaram os relatórios de ensaios sumários sobre duloxetina e fluoxetina retirados do site da empresa farmacêutica Eli Lilly. Onze dos ensaios (incluindo 12% dos pacientes) envolveram crianças e adolescentes.
O estudo identificou 16 óbitos, todos em adultos. No total, ocorreram 155 eventos suicidas, 13 antes da randomização. Em adultos, o estudo não encontrou aumento no risco de suicídio, pensamentos suicidas ou tentativas de suicídio associados ao uso de antidepressivos [odds ratio 0,81 (intervalo de confiança de 95%: 0,51 a 1,28)]. No entanto, em crianças e adolescentes o estudo encontrou uma duplicação do risco de suicídio, pensamentos suicidas ou tentativas de suicídio associados ao uso de antidepressivos [2,39 (1,31 a 4,33)].
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Em adultos, os antidepressivos não foram associados a um risco aumentado de agressividade [1,09 (0,55 a 2,14)], mas foram associados com mais do que uma duplicação deste risco em crianças e adolescentes [2,79 (1,62 a 4,81)]. O risco de acatisia2 - uma forma de inquietação que pode aumentar o suicídio e a violência - dobrou, tanto em adultos [2,00 (0,79 a 5,04)] quanto em crianças e adolescentes [2,15 (0,48 a 9,65)].
Os pesquisadores descobriram que os relatórios de estudos clínicos frequentemente apresentaram eventos adversos. Por exemplo, quatro mortes foram mal relatadas por uma empresa farmacêutica, em todos os casos, favorecendo o antidepressivo. Mais da metade dos casos de tentativas de suicídio e ideação suicida foram codificados como "labilidade emocional" ou "agravamento da depressão". Na maioria dos relatórios de estudos clínicos incluídos, as listagens de pacientes individuais haviam sido retidas, sugerindo que nem todos os eventos adversos foram identificados.
Os investigadores concluíram que "o verdadeiro risco de danos graves ainda é desconhecido porque a baixa incidência3 destes eventos raros e a má concepção4 e notificação dos ensaios tornam difícil obter estimativas precisas dos efeitos". Eles também enfatizaram a necessidade de identificar "informações ocultas em relatórios de estudos clínicos para formar uma visão5 mais precisa dos benefícios e dos danos que os medicamentos podem causar".
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Fonte: BMJ, em 28 de janeiro de 2016