Estudo associa a síndrome congênita Zika à artrogripose
Um estudo retrospectivo1 de uma série de casos ligou a síndrome2 congênita3 do Zika à artrogripose4. A pesquisa foi coordenada pela neuropediatra Vanessa van der Linden, teve a colaboração de médicos pernambucanos e foi publicada pelo BMJ.
O objetivo foi descrever as características clínicas, radiológicas e eletromiográficas em uma série de crianças com contraturas articulares (artrogripose4) associadas à infecção5 congênita3, presumivelmente causada pelo vírus6 Zika. Os bebês7 foram atendidos na Associação de Assistência à Criança Deficiente, no estado de Pernambuco, Brasil. Participaram do estudo sete crianças com artrogripose4 e um diagnóstico8 de infecção5 congênita3, presumivelmente causada pelo vírus6 Zika durante a epidemia brasileira de microcefalia9.
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As imagens do cérebro10 de todos os sete bebês7 eram características de infecção5 congênita3 e artrogripose4. Duas crianças tinham teste positivo de IgM para o vírus6 da Zika no fluido cerebrospinal.
Artrogripose4 estava presente nos braços e pernas de seis crianças (86%) e apenas nas pernas de uma criança (14%). As radiografias do quadril mostraram luxação11 bilateral em sete crianças, subluxação do joelho associada a genovalgo12 em três crianças (43%), sendo bilateral em duas (29%).
Todas as crianças foram submetidas à ultrassonografia13 de alta definição das articulações14 e não houve evidência de alterações. Sinais15 moderados de remodelação das unidades motoras e um padrão de recrutamento reduzido foram encontrados na eletromiografia16 de agulha (monopolar). Cinco das sete crianças foram submetidas à tomografia cerebral computadorizada (TC) e ressonância magnética17 (MRI) e as duas restantes a uma única TC. Todas apresentaram malformações18 do desenvolvimento cortical, calcificações predominantemente no córtex e na substância branca subcortical (especialmente na junção entre o córtex e a substância branca), redução no volume cerebral, ventriculomegalia e hipoplasia19 do tronco cerebral20 e do cerebelo21. Ressonância magnética17 da coluna em quatro crianças mostrou aparente afinamento da medula espinhal22 e redução das raízes ventrais.
Concluiu-se que a síndrome2 congênita3 do Zika deve ser adicionada ao diagnóstico8 diferencial de infecções23 congênitas24 e artrogripose4. A artrogripose4 não estava relacionada a anomalias das próprias articulações14, mas era possivelmente de origem neurogênica, com o envolvimento crônico25 de neurônios26 motores centrais e periféricos levando a deformidades como resultado de posturas fixas no útero27.
Com base nas observações neurofisiológicas, os cientistas sugerem dois possíveis mecanismos: tropismo28 dos neurônios26, com envolvimento de neurônios26 motores periféricos e centrais ou uma relação com distúrbios vasculares29.
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Fonte: British Medical Journal (BMJ), de 9 de agosto de 2016